Breno 17/12/2019
Como explícito na sinopse, o livro trata de um professor amargurado que se muda para Buenos Aires, devido inspiração de seu escritor predileto, Jorge Luis Borges, a fim de tentar emplacar a escrita de seu romance.
Então, senti falta de desenvolvimento dos personagens. Os personagens não são apresentados nominalmente - e até creio que a falta de nome aos personagens foi proposital pelo fato de que o personagem principal estava desiludido com a cidade e com as pessoas, o que fica claro no começo e em todo livro. Isso fez com que eu não me sentisse apegado e não me importasse com os conflitos que o personagem principal enfrentava, embora suas motivações que o levou à Argentina tenham sido verossímeis. O único personagem que possui nome é o cachorro, Borges, e, consequentemente, foi o que eu mais gostei em todo livro.
Eu adorei as passagens em que o personagem principal comparava a vida dos humanos com a dos cachorros, utilizando Borges - o cão - como exemplo, para tratar de liberdade, necessidades, materialismo etc. Borges muitas vezes foi o fio condutor da história e deu o pontapé inicial à acontecimentos que se desenrolariam depois.
O texto é carregado por vários questionamentos filosóficos sobre diversos temas cotidianos. Dentre eles, fiquei um tempo refletindo sobre amor, arte x entretenimento, morte x efemeridade da vida, liberdade, embora não concordasse com todos os posicionamentos propostos pelo personagem principal. Em algumas oportunidades senti que os textos filosóficos extrapolavam o andamento da história principal, o que pode te deixar perguntando "por que mesmo ele tá tratando desse tema?".
De todo modo, achei que todas as reflexões foram bem feitas a partir do ponto de vista do personagem. É explícita a influência intelectual de alguns pensadores sobre o personagem, como Heidegger, Schopenhauer, Nietzsche e outros contemporâneos.
No total, eu senti que os textos e reflexões filosóficas sobressaíram à história - até por esta ser bem simples - e aos personagens periféricos. Talvez não seja um livro para todos e acredito até que o gênero romance não tenha sido ideal para o tanto de reflexões que o autor quis pôr.