Maíra 25/09/201824 Horas na Vida de Uma Mulher e Outras NovelasUma questão que dificulta uma análise conjunta de todos os textos presentes nesta coletânea é que ela é extremamente irregular. Tanto em termos de extensão (algumas novelas não chegam a 20 páginas, enquanto outras passam de 50) quanto em termos de qualidade técnica, nos vemos diante de textos que, embora tenham certa unidade estilística e, em alguns casos, temática, não funcionam tão bem enquanto conjunto como seria de se esperar.
O aspecto autorreferente do texto, isto é, a constante conversa sobre si mesmo, que é um traço que, quando utilizado por parcimônia, faz a narrativa ganhar profundidade e gera maior interesse no leitor, frequentemente é mau utilizado aqui, pois o autor recorre a ele de maneira exagerada. Como consequência, a história propriamente dita perde tanto campo em nome de um tom mais intelectual que se torna secundária, o que acaba por afastar o leitor do texto.
Apesar dessa irregularidade, alguns trechos e novelas inteiras se destacam, principalmente pela beleza e lirismo da prosa de Zweig. Pois as mesmas características que tornam seu texto cansativo em alguns pontos, nos presenteiam com trechos imensamente belos em outros momentos.
“A obra crescia; crescia sempre em torno de mim como uma floresta, cuja sombra me tirava pouco a pouco toda a vista do mundo exterior”.
Fica claro, assim, que o autor sabe bem como nos tocar e nos surpreender a partir do modo pelo qual ele manipula as palavras. É uma pena, portanto, que essa forma de escrever não seja suficiente para sustentar todas as suas novelas, apenas algumas mais especiais.
É importante destacarmos duas novelas que mostram a sua força e sobressaem às outras na leitura desta coletânea: “A Governanta” e “Pequena Novela de Verão”, ambas pertencentes à primeira parte do livro, Novelas da Adolescência. Em ambos os casos, Zweig consegue atingir um raro equilíbrio entre uma prosa bela, delicada e lírica e uma história poderosa, que acaba exatamente onde tem que acabar, sem deixar o leitor sentindo falta de mais ou sentindo que a novela poderia ter sido mais editada.
Embora a capa dura torne o livro um pouco mais pesado do que seria necessário, não trocaria nada nesta edição impecável. Além da capa ser absolutamente linda, à altura do título da coleção, “Clássicos de Ouro”, a diagramação tem espaçamento e letra na medida certa para que a leitura seja o mais agradável possível.
Ainda que a irregularidade do texto tenha tornado a minha experiência de leitura um pouco cansativa, acredito que, pelo fato de algumas das novelas presentes nessa coletânea serem primorosas, é um livro que vai agradar quem curte uma prosa preocupada com estilo, beirando a poesia.
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