Máquinas como eu

Máquinas como eu Ian McEwan




Resenhas - Máquinas como eu


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lotuss 07/01/2024

Cérebro e mente
"Adão disse: Aí está, cérebro e mente. O velho e complicado problema, não menos difícil nas máquinas que nos seres humanos."

Lidei com o final desse livro, que deixa uma sensação agridoce, de um modo meio apático, embora eu estivesse muito envolvida com os personagens e com a história. Não acho a palavra pra descrever. Foi fascinante como tantos acontecimentos "corriqueiros" ficaram tão interessantes nessa linha do tempo alternativa que o autor criou, tão tangível que parece real. Os diálogos, as situações rotineiras, a política e ambientação, as inseguranças e ansiedades e análises do protagonista ? você fica imerso na história sob todos os ângulos.
Mas o mais fascinante é o paralelo que o protagonista descreve entre cérebro e mente (um se tornou explicável, outro nem tanto), entre máquina e humano, entre tecnológico e biológico ? o quanto de nós mesmos a gente entende? Qual o segredo de amar, pensar, morrer, da consciência? O que nos dá motivo pra viver ? essa sim é uma questão-chave no livro. Foi incrível a construção do relacionamento do Charlie e da Miranda ? e do Adão com eles, bem como o de cada um por si só. Já falei deles, mas os diálogos são realmente o ponto alto desse livro, muito papo cabeça e muita revelação, MUITO bem-escritos.
O poema final me devastou: perfeito. Foi uma leitura realmente agridoce, sem muitos pontos de extrema alegria nem de extrema tristeza, porque é muito humana mesmo ? com essa abordagem "cinza" dos personagens e do ambiente. Você entende tudo e por isso fica difícil julgar demais. Mas é muito envolvente, e, em geral, triste. Tô triste que terminei. Essa é a palavra. É só triste.

"Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies.
Queremos que nossos novos amigos aceitem que a tristeza e a dor são a essência de nossas vidas?"
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Roberto.Cassano 19/11/2023

A vida (com androides) como ela é
Robôs, autômatos, androides, criaturas dotadas de inteligência artificial. Não faltam personagens e histórias de ficção científica centradas nessas figuras presentes em nosso imaginário há séculos. As Leis da Robótica, postuladas por Isaac Asimov, estreitaram as ligações entre ficção e realidade. Uma imaginando, a outra lendo a SciFi como profecias sendo realizadas.

Em boa parte das narrativas, a IA se torna autoconsciente, onipotente e, daí, deriva uma batalha avassaladora. De O Exterminador do Futuro a 2001, temos a luta da humanidade contra máquinas que se desviaram do propósito original. Em outras histórias, a batalha mal é travada, estamos subjulgados e nem todos acham isso ruim. Aqui valem desde episódios da Netflix ao nacional Movimento 78, de Flávio Izhaki, sobre o qual já escrevi.

Máquinas como eu: E gente como vocês, de Ian McEwan, traz uma outra abordagem, ainda mais dolorosa. O problema com as inteligências artificiais extremamente elaboradas é que elas ressaltam nossas profundas imperfeições, incoerências e inconsistências. As máquinas “falham” por não conseguirem emular nossa confusa e complexa realidade enquanto seres imperfeitos.

A narrativa se passa em uma realidade alternativa em que Turing sobreviveu à absurda condenação por homossexualismo no pós-guerra, Lennon e JFK não foram assassinados e a Inglaterra perdeu a Guerra das Malvinas. Nesse contexto, a tecnologia floresceu muito precocemente, e temos carros elétricos autônomos e robôs avançadíssimos ainda no século XX.

É um desses robôs que integra um pitoresco e frágil arranjo familiar, trazendo uma série de questões ao longo do processo. A escrita de McEwan, primorosa, nos leva a mergulhos na história e política deste mundo que poderia ter sido, a como Alan Turing teria contribuído de forma impressionante com a evolução de tecnologias como IA e ao impacto de inovações nas vidas e relacionamentos de pessoas comuns.

Comuns e imperfeitas. Os protagonistas, o casal formado por Charlie e Miranda, estão longe de serem heróis infalíveis. Colecionam defeitos, mentiras, segredos e decisões moralmente questionáveis. Estas características saltam aos olhos quando refletidas em Adão, robô ávido por conhecer o mundo. E que, talvez, o superestime. Os robôs de sua geração parecem sofrer ao perceber o quão ilógico e incoerente é a sociedade humana.

Me agrada essa construção de protagonistas com atitudes questionáveis. Tanto que HP e Soraia, os personagens mais importantes de meu livro IVUC – A Iniciativa C’ach’atcha, são falhos e questionáveis às suas maneiras.

Em Máquinas como eu, essas decisões equivocadas e o choque de percepções (sempre centradas no pequeno núcleo familiar, mas que ecoam o turbilhão de conflitos e eventos em escala nacional) movem a narrativa, que busca sempre o íntimo, partindo do macro. A vida como ela é, ou poderia ser, com robôs que criam poesia e se apaixonam.

É uma leitura que vai prender os fãs de ficção científica mas que funciona perfeitamente para quem apenas busca um romance extremamente bem escrito. Estes podem achar as explicações técnicas um tanto quanto enfadonhas, mas nada que uma leitura diagonal dessas páginas não resolva.

site: https://cassano.com.br/2023/11/19/a-vida-com-androides-como-ela-e/
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Jansen 21/06/2023

Uma beleza de livro. Além de divertido muito bem escrito. Um tema difícil, um assunto muito falado sobre algo que desconhecemos. Como é conviver com uma máquina feita à nossa semelhança?
Logo no início quando questionava se o robô iria destruir o homem, cita um japonês que dominava um jogo e numa disputa com o computador, perde. Ele diz então: “O cavalo montado não acabou com os atletas. Corremos pela pura alegria de correr”.
Alguns eventos históricos são modificados o que torna a história mais emocionante. Por exemplo, a Inglaterra perde a guerra das Malvinas, Kennedy não é assassinado em Dallas, o premier inglês Tom Blair é assassinado num hotel em Londres etc. No entanto nada disso altera o escopo do livro, pois não altera o objetivo do núcleo da obra.
Questiona a convivência do robô com o humano pois observa que 'Criamos uma máquina com inteligência e autoconsciência para jogá-la em nosso mundo imperfeito. Desenvolvidas em geral segundo linhas racionais, benevolentes com relação aos outros seres, tais mentes logo se veem em meio a um furacão de contradições. Temos vivido com elas, e a lista nos cansa. Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies. E todo o resto — genocídio, tortura, escravidão, assassinato em família, abuso sexual de crianças, mortandade em escolas, estupro e dezenas de violências cotidianas. Vivendo em meio a esses tormentos, não nos surpreendemos quando ainda encontramos felicidade, até mesmo o amor. As mentes artificiais não são tão bem protegidas assim.'
Já no final do livro, em um diálogo com Turing, este questiona a adaptabilidade dos robôs com o seguinte pensamento, que faz sentido: "Se não podemos conhecer nossas mentes, como seríamos capazes de planejar a deles e esperar que fossem felizes convivendo conosco? Mas isso é apenas a minha hipótese.”
Esta é a novidade que promete grandes impactos na sociedade e, até mesmo, no destino do homem. A inteligência artificial (IA) vai acelerar o processo.
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fabio.orlandini 23/10/2022

O que é ser humano?
O livro traz grandes dilemas que já estamos enfrentando e que talvez serão bastante pertinentes num futuro próximo. Não é um romance apaixonante, mas é bem interessante e intrigante. Além da questão da relação homem máquina, outros dilemas são tratados no livro em suas mais profundas dicotomías: certo e errado, verdades e mentiras, razão e emoção. Enfim, uma boa obra.
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Kelly Barbosa 16/08/2022

Máquinas melhores que nós
Charlie Friend, um homem hesitante em tudo, compra um humano artificial cuja personalidade molda junto com a namorada. Adão, o robô, ganha consciência e parte para reflexões e sentimentos tão profundos sobre a vida como seu "dono" nunca foi capaz de alcançar. Enquanto isso, do lado de fora das janelas do apartamento, um Reino Unido convulsionado pela derrota nas Malvinas, pelas mãos do IRA, por robôs suicidas e por humanos tão hesitantes e ilógicos quanto Charlie, precisa lidar com suas próprias preocupações. Ao mesmo tempo, Alan Turing, vivo nos anos 1980, numa visão do que sua história poderia ter sido em um mundo menos incompreensível e bizarro, é convertido em guru.

Crime, adoção, política, ética, traição, justiça, poesia, amor, sensualidade e senilidade, tudo junto numa história em que o autor não perde a mão. Um livro que adquiri pela sinopse e que me fez ficar grudada em cada uma de suas palavras subversivas e - quem sabe? - proféticas, neste momento em que a AI está cada vez mais próxima de cada um de nós.

Atenção para o lirismo da despedida final entre Charlie e Adão. De arrepiar.
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mdbandeira 08/04/2022

Máquinas como Eu
Excelente livro que mostra a relação homem x máquina e como lidamos com uma forma diferente de "vida". Recomendo.
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Felipe770 27/03/2022

Ian McEwan nunca decepciona. Narrativa completamente envolvente, ritmo impecável e assunto relevante. O autor coloca dilemas futuros sobre a inteligência artificial e a robótica de maneira absolutamente clara para leigos, e nos faz pensar sobre sem fazer esforço. Mais um em que o inglês é magistral.
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Belos 11/01/2022

Livro muito bom. Reflexivo, fazendo com que tenha um questionamento inerente à natureza humana e suas ações. Achei a trama bastante interessante, ainda mais o questionamento do que é vida.
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Flavio.Vinicius 19/10/2021

Androides nos anos 1980
Gostei demais, já quero ler outros livros desse autor. A história tem várias reviravoltas, uma hora você gosta do peronsagem, na outra você detesta. O pano de fundo global é a Era Tatcher em Londres, com os protestos e a política neoliberal. O livro traz reflexões pertinentes sobre um futuro cada vez mais próximo em que teremos de conviver com androides.
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O resenheiro 07/10/2021

Até que ponto as máquinas serão como nós? Seremos então superados?
Já estamos em uma era em que é possível comprar robôs domésticos para nos auxiliar em pequenas tarefas do dia a dia. Mas será que conseguimos imaginar como seria se este robô fosse dotado de uma inteligência artificial que pudesse aprender constantemente, chegando a nos dar a ilusão de que possui sentimentos, pode se apaixonar, entrar em depressão e até mesmo se suicidar? E se além disso, não soubéssemos diferenciá-lo fisicamente de uma pessoa real, um ser humano de fato?

Adão é este robô, e ele foi comprado por Charlie Friend, o protagonista deste romance, por oitenta e seis mil libras. A cidade onde se passa a história é Londres, início da década de 1980, mas com algumas diferenças criadas pelo autor de forma a se criar uma outra realidade. Por exemplo, os ingleses e não os argentinos foram os que perderam a guerra das Malvinas, o matemático e cientista da computação Alan Turing não morreu em 1954, mas continua vivo e foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da IA de forma a se tornar possível a criação de uma primeira leva de vinte e cinco Adãos e Evas, homens e mulheres artificiais disponíveis para serem adquiridos por alguns milhares de dinheiro.

É nesse contexto que um destes Adãos é ligado na tomada por horas até ser completamente carregado e enfim abrir os olhos pela primeira vez na cozinha de Charlie. Sentado em uma cadeira nasce este robô, ainda sem suas configurações iniciais, preferências e parâmetros que deveriam ser selecionados pelo seu dono para dar o tom de sua personalidade. Seria como seu filho então, e por isso Charlie tem intenções de dividir essa tarefa de configuração com sua vizinha Miranda, com a qual mantêm um relacionamento ainda indefinido no início da narrativa.

"Depois uma série de itens— Capacidade de ser agradável. Extroversão. Abertura a novas experiências. Conscienciosidade. Estabilidade emocional. Eu conhecia aquela lista: o modelo de Cinco Fatores."

"Em matéria de extroversão, havia um conjunto graduado de afirmações infantis. Ele gosta de ser a pessoa mais animada na festa e Ele sabe como divertir as pessoas e guiá- las. Bem para o fim da lista, Ele se sente desconfortável em meio a outras pessoas e Ele prefere sua própria companhia. No meio se lia: Ele gosta de uma boa festa, mas sempre se sente feliz ao voltar para casa. Isso era eu. No entanto, devia replicar- me?"

Logo quando o robô é despertado, sentado e observando Charlie cozinhar, Adão solta uma frase sobre esta amiga Miranda, dando a entender que segundo suas pesquisas e análises, ele deveria ter cuidado com ela, pois parecia existir algo não confiável nela. Seria possível isso? Isso e uma mostra de como seria uma convivência como esta, não de um ser humano auxiliado por robôs, mas com máquinas quase humanas, com ideias, sugestões e até... sentimentos.

“Charlie, entendo que você está cozinhando para sua amiga do andar de cima, Miranda.” Eu não disse nada. “De acordo com minhas pesquisas nestes últimos segundos, e com minha análise, você precisa ter cuidado se pensa em confiar plenamente nela.”

Além de tratar sobre a IA e suas possíveis consequências e interferências nas nossas vidas, em gente como nós, Ian Mc Ewan também conseguiu criar uma história que nos faz refletir sobre outras questões, como a adoção, a aceitação da paternidade, a ações tomadas por figuras políticas da época, como Margaret Thatcher, a justiça tomada na decisão dos fatos ocorridos e relacionados ao passado de Miranda, enfim, uma diversidade de assuntos e temas que deixam a narrativa muito rica e instigante. Durante todo o livro queremos saber qual será o fim desta história entre este clã de seres humanos, sendo que um deles na verdade é uma máquina como eu e você!

Cada vez mais os robôs estão fazendo parte de nossas vidas, e foi aproveitando este tema que Ian McEwan criou este romance com uma maestria invejável. Uma leitura muito pertinente para os dias atuais. Devemos começar a pensar nestes assuntos com mais frequência, pois certamente é isso que nos espera e muito mais em breve do que pensamos!
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Marselle Urman 16/02/2021

...gente como você
Charlie gasta todo seu parco dinheiro para comprar um autômato inteligente.
Toma essa decisão do alto de seus trinta e poucos anos de quase inutilidade - nada contra - e de uma maneira presunçosa e egocêntrica. Como se Adão fosse um peixe beta mais desenvolvido. Não poderia, claro, ter estado mais equivocado sobre ele.

Embora Miranda e sua história sejam fundamentais ao enredo do livro, penso que sua eventual inexistência não teria alterado a relação de Charlie com Adão (reverência, medo, desafio, incompreensão) e seu desfecho.

Agradou-me o caos familiar do cenário de fundo político. A maioria das distopias com as quais somos acostumados, pintam cenários absolutistas de bonança sob ditaduras de extremo controle, ou apenas de evoluções maravilhosas que pacificam e corrigem os erros humanos. Aqui, a greve dos lixeiros apressou a entrega e operação dos robôs coletores de lixo, com seus sorrisos hediondos, que em pouco tempo se mostraram incapazes de cumprir a tarefa. O desemprego em 18%, as manifestações. Os usuários de drogas e as crianças órfãs. Tudo familiar.

Vislumbrei em Adão tantas possibilidades, que não houve como não me decepcionar um pouco.

Mas, novamente, superar essa decepção foi simplesmente um caso de sair da caixinha das minhas expectativas pré moldadas. Lembrei-me, com um sorriso no rosto, que estou lendo McEwan e não Philip K. Dick. A idéia de um Turing
sem a castração química foi de fato deliciosa.

Pacificamo-nos. A vida segue, inexorável.

Boa leitura.

Caraguatatuba, 16/02/2021
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mariii 08/02/2021

Não me prendeu
Apesar do livro passar uma mensagem muito importante sobre como nós humanos nos enxergamos perante a seres diferentes de nós, o livro não me prendeu, alguns capítulos eu sofri para terminar, achei o personagem principal raso, não entendi a motivação de varias decisões dele e de Miranda, por estar acostumada com os livros do Asimov o robô Adão me intrigou muito, mas não de um jeito bom, quis que o jeito como ele funcionava fosse mais aprofundado mas o enredo sendo levado em primeira pessoa não ajudou já que o protagonista não sabia nos apresentar a historia, o final foi bom, mas não diminui o sentimento de leitura por obrigação.
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Di 07/01/2021

O que nos torna humanos?
Inteligência artificial não é um tema novo, de fato. Mas McEwan conseguiu brilhantemente me manter interessado do início ao fim nessa trama. Personagens sóbrios e palpáveis, um pano de fundo histórico real e muitas reflexões sobre ética na provável convivência com andróides num futuro não muito distante. Nem otimista, nem pessimista, o romance é incrivelmente sensível e, me desculpe o clichê, humaníssimo.
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Diego 06/01/2021

Ficção científica e humanidade
Achei muito bom!
Meus conhecimentos científicos não são tão profundos a ponto de eu poder fazer uma avaliação neste sentido, mas todo o enredo é muito interessante, refletindo não apenas sobre o robô, mas sobre o ser humano.
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