Máquinas como eu

Máquinas como eu Ian McEwan




Resenhas - Máquinas como eu


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Flavio.Vinicius 19/10/2021

Androides nos anos 1980
Gostei demais, já quero ler outros livros desse autor. A história tem várias reviravoltas, uma hora você gosta do peronsagem, na outra você detesta. O pano de fundo global é a Era Tatcher em Londres, com os protestos e a política neoliberal. O livro traz reflexões pertinentes sobre um futuro cada vez mais próximo em que teremos de conviver com androides.
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Belos 11/01/2022

Livro muito bom. Reflexivo, fazendo com que tenha um questionamento inerente à natureza humana e suas ações. Achei a trama bastante interessante, ainda mais o questionamento do que é vida.
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Holmes 16/05/2020

Inteligência artificial
Um triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e um robô que se passa em uma realidade alternativa, com intrigas, suspense, crimes e mentiras. Poderá um dia a inteligência artificial compreender a complexidade das relações humanas?
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erbook 14/04/2020

A obra retrata complexas questões acerca da inteligência artificial
A recente obra de Ian McEwan, intitulada “Máquinas como Eu e gente como vocês”, aborda a temática da Inteligência Artificial e as possíveis e complicadas relações entre humanos biológicos e humanos artificiais, os quais possuem “sentimentos”, “consciência” e tomam decisões.

No final do século XX, com a evolução da Inteligência Artificial e o triunfo do humanismo, foram criados robôs superinteligentes à imagem dos seres humanos, batizados de Adão e Eva.
Nas palavras do narrador: “Era uma aspiração religiosa abençoada pela esperança, era o Santo Graal da ciência. Nossas ambições eram tão sublimes quanto mesquinhas – a realização de um mito da criação, um monstruoso ato de amor-próprio. Tão logo se tornou factível, não nos restou alternativa senão perseguir aquele objetivo sem pensar nas consequências.”

Nesse contexto, Charlie, o personagem principal e narrador da história, gasta o dinheiro herdado da falecida mãe na compra de um Adão, por ser entusiasta em tecnologia e ser antropólogo. O narrador menciona que a natureza humana não é de caráter universal, pois varia de acordo com as diferentes culturas. Portanto, seria absurdo estabelecer padrões humanos universais. Talvez por essa curiosidade acadêmica de formação, embora seja desleixado e não leia livros, Charlie tenha se empolgado e gasto todas as economias na compra do caríssimo e quase exclusivo Adão, uma vez que foram criados 25 Adões e Evas em todo o mundo.

Ao trazer o Adão para casa e compartilhar com a namorada Miranda, incluindo a formação da “personalidade” de Adão, o trio passa a conviver na sociedade britânica, na qual a Grã-Bretanha perde a Guerra das Malvinas para a Argentina e a Primeira Ministra Margaret Thatcher passa por crises políticas e sociais.

Ian McEwan retrata temas como a ética utilitarista e a distinção na tomada de decisões por parte dos seres humanos e das máquinas. “Quem formulará o algoritmo para a mentirinha que poupa o rubor na face de um amigo? (...) Não sabemos ainda como ensinar as máquinas a mentir”.

A leitura é bem agradável e fluida!

Recomendo!
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Biblioteca Álvaro Guerra 13/02/2020

Um romance impossível de largar, que antecipa de maneira perturbadora os conflitos éticos que podem nascer da relação entre humanos e androides. Do premiado autor de Reparação.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535932287
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BetoOliveira_autor 01/01/2020

A ética de Kant em Adão?
Gostei muito da narrativa. Traz questões éticas a serem enfrentadas efetivamente no futuro, em que o ser humano conviverá com máquinas inteligentes e, quiçá, detentoras de alguma consciência existencial. Aborda também, nas entrelinhas, que tipo de ética será programada nas IA. Pela minha leitura, o robô Adão apresenta uma ética kantiana, com forte carga do imperativo categórico. Essa característica traz sérias consequências para as personagens. É nesse aspecto que reside o maior desafio de tornar uma IA próxima de uma mente humana.
Enfim, é uma obra rica de conhecimentos científicos, históricos, muito bem elaborada e de fluida leitura. Vale a pena ler.
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M. Platini 29/12/2019

Uma ucronia instigante
Londres, 1982. Diferente da história como conhecemos, o gênio Alan Turing - matemático que desvendou o código de encriptação Enigma dos nazistas e encurtou a guerra em alguns anos - não foi castrado quimicamente por ser homossexual, e não se matou. Assim, com vivacidade e inteligência, ele teve condição de ajudar nosso mundo a avançar tecnologicamente. É uma década de 1980 com Internet e com uma reunião dos Beatles depois de 12 anos de separação. Um mundo onde a Grã-Bretanha perdeu a Guerra das Malvinas, o que gerou a renúncia de Margaret Tatcher. Esse mundo recentemente desenvolveu também uma máquina incrível feita à imagem e semelhança do homem; indistinguível, em vários aspectos. Charlie, um bon vivant de 32 anos, adquire um desses modelos e decide convidar sua vizinha Miranda, dez anos mais nova, para ajudar a configurar os traços da personalidade de Adão, o androide. Charlie é apaixonado por Miranda, e não imagina o efeito que essa configuração de preferências feita a quatro mãos pode fazer à mente de Adão.
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Paulo 19/12/2019

Esse é um livro estranho de se analisar. Máquinas como Eu é o terceiro livro do McEwan que eu leio, além de Reparação e A Balada de Adam Henry. Ambos são livros mainstream lidando com temas não ligados à literatura de gênero. Uma das qualidades do autor é criar narrativas sólidas empregando uma forma de escrita até um pouco hermética, lidando com o emocional dos personagens. Seus problemas são reais e palpáveis, e o leitor é capaz de se colocar no lugar dos personagens ou de sentir empatia por eles. Por essa razão, Máquinas como Eu é um animal estranho: McEwan jogou uma bola curva para si mesmo ao empregar elementos de ficção científica e não foi capaz de entregar uma narrativa competente ao limitar aquilo que ele tem de melhor.

Charlie é o nosso narrador em primeira pessoa. Vemos toda a narrativa através de seu olhar. Ele é um cara narcisista, egocêntrico e reativo. Sua idolatria à figura de Miranda incomoda porque ele a coloca em um pedestal tão alto que a desumaniza. Ele é um personagem pouco confiável a partir do momento em que sua visão é deturpada por aquilo que ele deseja para si. Em vários momentos, Charlie irrita com a sua arrogância, não sendo um bom protagonista. Aí é preciso separar o herói e o anti-herói/vilão. O fato de ele me incomodar não é porque ele está fazendo más ações ou tomando decisões ruins; me incomoda o fato de que sua trajetória me foi indiferente. Miranda é uma personagem muito mais tridimensional que ele.

Nossa narrativa começa com a aquisição de Adão por Charlie. O personagem investe boa parte do seu dinheiro em um robô que se parece com um ser humano na inteligência e cujas emoções podem ser pré-programadas. Ele usa o ato de configurar o robô como uma forma de se aproximar de Miranda, sua vizinha de cima de quem ele nutre sentimentos românticos. A narrativa vai girar na estranha relação desenvolvida por Charlie, Miranda e Adão que acaba se apaixonando por ela. Isso gera uma tensão entre o protagonista e o robô. Boa parte da história se passa no quarto em que eles dividem (ora no quarto de Charlie, ora no quarto de Miranda). O protagonista fez antropologia e gasta seu tempo investindo dinheiro em ações. Porém, ele não tem muita habilidade com isso e acaba sempre quebrado ou com pouco dinheiro.

O ambiente usado é o nosso mundo, mas com algumas ligeiras diferenças. Uma delas envolve a existência de Alan Turing, que é uma personalidade ainda viva e muito influente. A origem da inteligência flexível que inspirou a criação dos robôs é tudo obra de Turing e seus conceitos. A Inglaterra se envolveu em uma grave crise política após ser derrotada na Guerra das Malvinas. Vemos uma sociedade britânica em polvorosa, marcada por desemprego e desabastecimento que leva a um cenário caótico. O personagem não consegue emprego também por sua incapacidade de tomar a vida para si. Ele se acomodou em uma situação que lhe é confortável.

No mundo criado por McEwan a medicina e a ciência só se encontraram em meados do século XX. Antes disso, as práticas médicas se calcavam em superstições bobas. Aí fica aquele alerta àqueles que imaginam que a obra do autor é baseada apenas na presença de Turing ou no ocaso de Margareth Thatcher. Cuidado! McEwan é um autor que possui uma escrita sutil e por possuir um estilo hermético, as informações aparecem sempre quando você menos espera. Recomendo até que os leitores usem de uma leitura mais atenta para pescar os pormenores e as pequenas sutilezas presentes no texto.

Porém, preciso pontuar que essa construção de mundo é legal até certo ponto. Máquinas como Eu não necessitava de uma contextualização tão complexa. No fundo, a narrativa é sobre três personagens e seus problemas. O livro possui trechos absolutamente descartáveis e McEwan se perde em longas descrições e debates que em nada contribuem para o foco central que é Charlie, Miranda e Adão. Alguns debates éticos são pertinentes como a percepção torpe de justiça de Adão. Entender como o que Miranda fez a Goring pode ser interpretado como um crime e buscar a letra fria da lei. Por outro lado, a necessidade de pontuar as greves, os movimentos sociais, as intensas negociações do governo, a diplomacia por trás da Guerra das Malvinas... tudo isso de nada serve para a narrativa em si. É quase um desejo de construir uma história alternativa a partir do que eu imaginaria que fosse interessante. Mas... e daí? Temos ótimos livros de história alternativa no mercado com ícones do gênero como Harry Turtledove e David Weber que constroem mundos interessantes a partir da pergunta "e se?" Só que Máquinas como Eu não é uma exploração de mundo, e sim, uma relação entre três pessoas.

Charlie é apaixonado por Miranda e desenvolve uma relação baseada em sexo casual. Mas, desde o primeiro momento, percebemos que ele deseja mais. Na mente dele, o sexo é uma escada para uma relacionamento mais íntimo. Mas, ele se encontra travado em como chegar a essa intimidade que levaria a uma relação séria. Ele acaba conquistando Miranda por acaso e através de Adão. O robô funciona como um meio para conquistar um fim. Só que a narrativa fica complicada quando Adão desenvolve sentimentos íntimos pela mulher. Isso gera ciúmes de ambas as partes. Miranda acaba tendo relações com Adão, o que gera indignação da parte do narrador. A questão é: Adão é uma pessoa ou um objeto? Miranda coloca o sexo com Adão como se fosse o emprego de um vibrador. Só que percebemos que Adão pouco a pouco vai desenvolvendo uma personalidade própria.

A personalidade do robô é desenvolvida pelos dois personagens. Eles dividem escolher como o personagem vai ser através de uma tela de configurações. De certa maneira, ele é formado pelo somatório das escolhas de ambos. Suas reações acabam assustando Charlie, que coloca a culpa na maneira aleatória como os dois fizeram essa configuração. Porém, uma questão é: somos o somatório das características de nossos pais? O que representa o "eu"? Nossa individualidade é entendida como parte das nossas relações sociais. Mas, e se nos deparamos com um ser que é configurado? Pode ele estabelecer uma "individualidade"? Fugir de sua programação?

Até aí tudo bem. O que me incomoda é o fato de McEwan ser incoerente na forma como emprega a ficção científica. Demonstra claramente alguém que não é acostumado a usar isso como ponto narrativo. O triângulo amoroso não precisava ter um robô como elemento dissonante. Sequer para brincar com a questão da letra fria da lei precisava ser Adão. Poderia ser apenas alguém obcecado por usar corretamente as leis. Quando o autor afirma que o robô é guiado pelas três leis de Asimov (e ele cita isso com todas as letras na narrativa ao empregar a primeira lei), ele se coloca em uma sinuca de bico. Principalmente quando o personagem age de forma incoerente com a qual ele foi programado. Liberdade narrativa uma ova. Existe algo chamado "física do mundo" no qual quando você cria uma lei, você precisa segui-la a menos que você encontre uma brecha nela. Em Eu, Robô Asimov é brilhante ao brincar com as brechas nas leis que ele mesmo havia criado. Aqui, McEwan ignora aquilo que ele mesmo citou apenas porque sim. Oras, se a ideia era tornar o robô humano, para que citar as leis de Asimov?

Outro problema é a falta de progressão no desenvolvimento do personagem. Um ótimo exemplo para comparar com este livro é o conto O Homem Bicentenário, de Isaac Asimov (vou falar muito dele hoje, parece). No conto, vemos um protagonista que aos poucos vai buscando se parecer com um ser humano. Através de pequenas reflexões e conclusões, o personagem vai descobrindo mais sobre si mesmo. Aqui, Adão já é praticamente um ser humano desde o começo. Não há progressão. Muitas vezes é possível até ignorar que Adão é um robô. Se McEwan não cita que ele tem um cabo saindo da barriga ou que ele precisa ser recarregado às vezes, eu não me lembraria disso. E aí, novamente, caio na mesma pergunta: para que um robô? Não havia a menor necessidade sequer de inserir os elementos de ficção científica. Ele poderia ter permanecido apenas na história alternativa como um meio de diferenciar sua narrativa. Mas, peraí... será que precisava mesmo? A história poderia ter se passado até em nosso mundo. Ou seja, toda a bela construção scifi e de criação de mundo é boba no fim das contas.

O que mais me incomodou em toda a leitura é o quanto ela é chata e arrastada. Pensei em abandonar a leitura várias vezes e acabei empurrando com a barriga até o final. A propósito: McEwan não é um autor de plot twists. Sua escrita é segura, sólida e estável. Então não espere surpresas. Estas existem na forma de como os personagens vão terminar ao fundo. Em que ponto eles estarão e como solucionarão as suas questões. Particularmente, achei Máquinas como Eu a leitura mais fraca do autor. A narrativa me desagradou horrores, tirando Miranda, Charlie e Adão são desinteressantes o que tornou a escrita toda muito enfadonha. Quer ler McEwan? Conhecer a genialidade do autor? Leiam Reparação. Livro fantástico. Este aqui? A menos que você tenha um forte interesse em história alternativa, não vai ser uma leitura recompensadora.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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PorEssasPáginas 03/12/2019

Ian McEwan, nesta obra, leva o leitor a um mundo paralelo, um espelho do nosso mundo, mas com detalhes históricos bem diferentes. O livro se passa em 1982 mas, diferente da história que conhecemos, com a Inglaterra perdendo a Guerra das Malvinas (na verdade foi a Argentina que se rendeu); Margaret Thatcher renunciando ao cargo de Primeira-Ministra devido à derrota das Malvinas (a renúncia só ocorreu novembro de 1990 depois de ser derrotada em uma eleição interna de seu partido) e Tony Benn, um político de esquerda de destaque do Reino Unido, assumindo o posto de Primeiro-Ministro; Alan Turing, morto em 18 de junho de 1954 (suicídio ou morte acidental, não se sabe), com 70 anos, desenvolvendo seu trabalho incrível em física e computação e vivendo abertamente com seu companheiro; entre outros detalhes como carros autodirigíveis, celulares, internet em plena década de 80.

Em meio a esse mundo paralelo, Charlie Friend, um cara que não gosta de trabalhar e passa o tempo tentando investir dinheiro via internet para viver de lucro, mas que não é muito bem sucedido, usa o dinheiro de uma herança para comprar Adão, o primeiro robô com IA que poderia se passar por um humano. Charlie resolve compartilhar a configuração de Adão, as escolhas de suas características “pessoais” com Miranda, que mora no andar de cima e por quem ele é perdidamente apaixonado.

A partir daí acompanhamos o triângulo formado pelos três.

O autor aborda questões éticas interessantes, pois como humanos encaramos o relativismo como uma coisa normal e aceitável. No geral, tendemos a avaliar as coisas por diversos ângulos e levando várias coisas em consideração. Adão, por sua vez, funciona à base de logaritmos, sem nenhum relativismo, e isso fica claro no desenrolar da história. E há também as questões éticas em relação à IA e até que ponto é possível que desenvolva sentimentos e o respeito às máquinas como seres.

Achei o tema interessante e há várias questões que poderiam ser muito bem desenvolvidas, mas parece que ficam só na superfície. Isso pra mim foi um pouco frustrante!

Ele fala sobre estupro e uma falsa acusação de estupro, maus tratos infantis e adoção, o processo de aprendizado e superação da criança, as questões éticas e filosóficas que envolvem a IA. Todos temas super interessantes. Mas tive a sensação de que nada disso foi explorado ao máximo ou pelo menos desenvolvido de forma um pouco mais profunda. Ficou tudo muito superficial.

Não foi uma leitura ruim.

No começo tive um pouquinho de dificuldade para encaixar a história neste mundo paralelo e se você não tem algumas referências históricas muito disso pode passar batido. E as coisas ficam mais superficiais ainda.

No meu caso, como gosto muito de história, achei essas questões interessantes, mas não sei até que ponto necessárias.

Não sou escritora nem crítica de literatura, mas na minha mais humilde opinião, o livro poderia ter rendido muuuuuuito mais.

Considerando que Ian McEwan é autor de um dos meus livros mais amados de todos os tempos, “Reparação”, vou continuar lendo os livros dele que vierem parar em minhas mãos!

site: http://poressaspaginas.com/resenha-maquinascomoeu
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Rodolfo_Domingos 22/11/2019

Um revisionismo sombrio e profético
Depois de chocar o mundo com ?Enclausurado?, narrativa de um feto sobre os planos criminosos da mãe, McEwan retorna com uma história ainda mais sombria. O ano é 1982, mas num universo paralelo onde Alan Turing permanece vivo e inventando coisas incríveis, Margaret Thatchter é derrotada por um governo de esquerda e a tecnologia de robôs e inteligências artificiais já é muito evoluída.
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Nesse contexto, Charlie compra a mais avançada máquina: um ser humano-robô chamado Adão, que vem ao mundo para aprender para aprender com as experiências humanas. Charlie decide dividir a guarda de Adão com sua vizinha e namorada Miranda. Com essa nova estrutura familiar, o casal passa a pesar a vivência sob a ótica do que Adão é capaz de fazer com todas as informações.
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A narrativa é recheada de diálogos internos de Charlie sobre a evolução da Inglaterra naqueles tempos, as divisões políticas, a evolução da tecnologia e a ética. Isso compõe a parte mais divertida do livro por carregar o leitor para uma versão de um mundo que não aconteceu, onde até os Beatles ainda existem. É tanto uma ode quanto um revisionismo sombrio que nos serve de alerta.
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A grande questão é: o que, de fato, nos torna superiores Às máquinas e se isso sequer pode ser levado em consideração, afinal, somos feitos da mesma matéria.
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O livro ainda carrega um suspense em tom de thriller com vingança, ódio, romance e traição que, a princípio, parecem destoar, em meio a urbanidades cotidianas, mas carregam de forma sinuosa a história pra um final épico, desolado e explosivo, qu3 colocam em cheque a ideia de controle sobre a criatura e a questão subjetiva da moralidade.
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Luiza.Thereza 15/09/2019

Máquinas como eu
A Londres de 1982 deste livro é um pouco diferente de nossa realidade: a Grã-Bretanha perdeu a Guerra das Malvinas; a primeira-ministra Margaret Thatcher tem seu poder desestabilizado pelo líder esquerdista Tony Benn; e, aspecto mais importante, o matemático Alan Turin, que vive sua homossexualidade abertamente, é enaltecido por suas extraordinárias contribuições para o avanço da tecnologia, influenciando desde a disseminação da internet até a criação dos primeiros humanos sintéticos.

Nesse mundo tão diferente do nosso, Charlie Friend é um daqueles homens que passam pela vida sem muito empenho ou entusiasmo, e sua lição mais significativa que tirou de sua formação em antropologia foi a relativização de seu senso moral. Na sua rotina de ganhar e perder dinheiro no mercado de ações e em investimentos não muito seguros, ele usa a herança que recebeu da mãe para comprar Adão, um dos vinte e cinco primeiros humanos sintéticos disponibilizados no mercado.

Apaixonado por sua vizinha de apartamento, uma jovem estudante atormentada por um segredo do passado, Charlie a convida para juntar-se a ele na programação da personalidade do androide recém-comprado. Um triângulo amoroso em que a mulher é “disputada” pelo amor de um humano e um androide? Claro, por que não?

É interessante, na verdade, e, ao mesmo tempo, uma tecla constantemente batida: o que nos torna humanos? Nossa aparência? Nossa racionalidade? Nossa subjetividade? A capacidade que tempos de aprender? É possível que uma máquina seja capaz de entender o coração humano?

Esse cara, Ian McEwan é um escritor a ser adorado e também temido. Suas tramas são excelentes (este é o segundo livro que leio dele), e sua escrita é muito bem trabalhada, e é difícil encontrar alguma falha nas suas construções. Ele te envolve, te prende e depois te atropela com uma reviravolta que deixa a todos os envolvidos (personagens e leitores) atordoados. É incrível, sério.

site: http://www.lerparadivertir.com/2019/08/maquinas-como-eu-ian-mcewan.html
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Jeff.Rodrigues 01/09/2019

Resenha publicada no Leitor Compulsivo
A inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) é algo que faz parte do nosso cotidiano por mais que, talvez a maioria de nós, não se dê conta disso. Existem atendentes eletrônicos nas empresas de telefonia, comandos de voz que são reconhecidos por sistemas dentro de casa, computadores capazes de processar milhões de dados em minutos ou segundos… Os exemplos são muitos e, como disse, já estão no dia a dia. Não dá mais para falar de AI como se fosse algo futurista, remoto, idealizado para um mundo ainda por vir. Ainda pouco comuns, porém reais e em fases de testes mundo a fora, os autômatos são o próximo passo de evolução a invadir nossas vidas. E aí entram em cena alguns debates interessantes.

É possível conviver com uma máquina, extremamente semelhante aos humanos, que age e pensa como nós, mas não dotada de emoções? Parece fácil responder que sim. Mas vocês conseguem imaginar a convivência com essa máquina, chamemos ela de Adão ou de Eva, por exemplo, no dia a dia? Em todas as suas tarefas diárias, ou no relacionamento com amigos ou parceiros e parcerias? Estamos preparados para lidar com robôs que agem como nós e possuem um grau de processamento de informações infinitas vezes maior? Nosso ego humano suportaria?

As questões não param por aí… É possível estabelecer limites sobre o que é certo e o que é errado no trato com um robô? A partir do momento em que ele pensa, convive e divide a vida com você, ele passa a adquirir direitos? Ou será sempre uma máquina, pronta a ser desligada no primeiro momento de estresse? Aliás, robôs podem se apaixonar? Imagine que o seu robô esteja transando com sua namorada. Isso pode ser considerado como uma traição? E quanto ao senso de justiça? Robôs estão programados para cumprir tudo à risca, sem pesar consequências que às vezes tomam horas de nossa consciência. Como vamos agir se o robô decidir por conta própria delatar para a Receita aquele imposto de renda que você, dono, andou sonegando?

Os muitos questionamentos e reflexões que fiz povoam as páginas de Máquinas como Eu, uma grata incursão de Ian McEwan pelos caminhos da evolução tecnológica humana. Sem perder as características de bom prosador que tanto lhe deram fama, McEwan apresenta o cotidiano de um jovem casal às voltas com o robô Adão. O que parece, à primeira vista, um salto tecnológico fascinante para Charlie – que investe boa parte de sua herança na compra do autômato, se transforma em um desafio de convivência que instiga reflexões sobre os limites que separam homem de máquina.

Em uma Londres alternativa dos anos 1980, McEwan dispôs fatos e personagens da forma como lhe convinham – Alan Turing já havia falecido nessa época, por exemplo. Assim ele levou para o passado a discussão que promete povoar nosso futuro próximo. Com os olhos de hoje, compôs uma crônica de como uma máquina pode afetar as relações humanas pessoais e entre si. E foi além, discutindo dilemas éticos sobre comportamento não só de máquinas, mas também de homens e mulheres “proprietários”. Afinal, se você martelar um robô até ele “perder sua consciência virtual”, isso pode ser considerado um assassinato?

O casal de personagens Charlie e Miranda é o mais comum possível e vive uma vida normal de jovens cheio de sonhos em busca de construir um futuro. Há planos, projetos, ideias e há um passado com segredos e mistérios que influi diretamente no presente. Lidar com um robô, extremamente “humano”, que não somente sabe, mas consegue acessar qualquer tipo de informação, mexe com a vida deles da forma como mexeria com a nossa. É palpável. É aí que a maravilha da invenção robótica ganha ares de pesadelo. Não estamos totalmente prontos para lidar com isso.

Máquinas como Eu é um divertido e reflexivo passeio pelas relações de homens e máquinas inteligentes, com todas as características peculiares de construção narrativa de um dos maiores nomes da literatura atual. Apesar do inusitado tempo passado em que a história se passa, McEwan consegue nos fazer olhar para o presente e refletir de verdade o futuro. O desfecho é um caminho aberto para pensarmos… “As implicações das máquinas inteligentes são tão imensas que não temos ideia do que você – quer dizer, a civilização – pôs em marcha. Um fator de ansiedade é que será um choque e um insulto conviver com entidades que são mais inteligentes que você. ”

site: http://leitorcompulsivo.com.br/2019/07/28/resenha-maquinas-como-eu-ian-mcewan/
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 15/07/2019

Ian McEwan - Máquinas como eu
Editora Companhia das Letras - 328 Páginas - Tradução de Jorio Dauster - Capa de Claudia Espínola de Carvalho - Lançamento: 19/06/2019.

Ian McEwan está de volta com o brilhantismo técnico de sempre, confirmando a sua posição de destaque na literatura inglesa contemporânea. Depois do romance Enclausurado, onde o mais improvável dos protagonistas, um feto no nono mês de gestação, é o responsável pela narrativa em primeira pessoa dentro da barriga da mãe, ele assume agora os riscos de trabalhar em seu mais recente lançamento com um tema já abordado muitas vezes na literatura e também no cinema: os dilemas éticos e morais decorrentes da convivência com androides dotados de aparência humana e alta inteligência cognitiva.

A escolha óbvia da maioria dos escritores seria a de ambientar os personagens em um distante futuro distópico, no entanto isso não representaria um desafio suficiente para McEwan. Em Máquinas como eu, o romance tem como pano de fundo a cidade de Londres em 1982 com algumas importantes diferenças históricas. No passado inventado pelo autor, ocorre uma derrota contundente dos ingleses para os argentinos na disputa pelas ilhas Falkland, ou Malvinas, provocando a perda de popularidade de Margaret Thatcher, o que acabou antecipando a queda da então primeira-ministra e o debate sobre o Brexit, exatamente o oposto do que aconteceu na realidade – a "dama de ferro", como ficou conhecida, permaneceu por onze anos no poder, de 1979 a 1990 e apoiou a adesão britânica à Comunidade Econômica Europeia.

Contudo, a diferença marcante neste "novo" passado, que conta até mesmo com o retorno dos Beatles, apagando da história o assassinato de John Lennon em 1980, é a antecipação do desenvolvimento tecnológico como o conhecemos hoje, incluindo o uso da internet e celulares, o que possibilitou a chegada ao mercado do "primeiro ser artificial convincente" em 1982. MacEwan resgata também em sua ficção um outro personagem histórico injustiçado em seu próprio país, o matemático Alan Turing (1912-1954), um gênio da matemática e pioneiro na pesquisa sobre inteligência artificial e ciência da computação, que cometeu suicídio com apenas 41 anos devido à humilhação pública por ter sido condenado em um processo por "vícios impróprios", como era definido o homossexualismo na época, e condenado a "terapias" à base de estrogênio como alternativa à prisão, o que equivalia à castração química.

A narrativa é conduzida por um protagonista pouco confiável, Charlie Friend, que aos 32 anos já acumula uma série de fracassos em esquemas mirabolantes que nunca deram certo, ele é um amante da eletrônica, formado em antropologia, mas sobrevive jogando pela internet no mercado de ações e de câmbio. Quando uma primeira edição de apenas vinte e cinco androides é lançada no mercado, ele decide, em um gesto impulsivo, utilizar os recursos da herança recebida por ocasião da morte da mãe para adquirir uma Eva, como eram chamados os exemplares femininos, mas precisa se contentar com um Adão uma vez que, ao final da primeira semana, todas as Evas já haviam sido vendidas (sete delas somente em Riad). Os parâmetros de personalidade dos sofisticados robôs devem ser configurados pelos "usuários" com base nas detalhadas instruções e recomendações do fabricante.

"Eu tinha esperado um amigo. Estava pronto a tratar Adão como um convidado em minha casa, como um estranho que viria a conhecer bem. Mas imaginei que ele iria ser entregue perfeitamente ajustado. Configurações de fábrica: um sinônimo contemporâneo do destino. Amigos, parentes e conhecidos tinham aparecido sem exceção em minha vida com configurações dadas, com histórias inalteráveis de genes e meio ambiente. Queria o mesmo de meu novo e dispendioso amigo. Por que me encarregar disso?" (p. 15)

Enquanto espera as dezesseis horas necessárias para o carregamento inicial das baterias de Adão, Charlie sente a "angustiante excitação de um amor não declarado" por sua jovem vizinha Miranda e tem a ideia de convidá-la a escolher as opções de configuração da personalidade de Adão. A sua intenção é de que ambos possam, dessa forma, compartilhar a criação e o uso do androide, constituindo uma espécie de família. Na verdade, a família será constituída, mas não exatamente da forma como Charlie imaginou. Isso fica cada vez mais claro quando Adão supera as expectativas que os proprietários pudessem ter a respeito de suas emoções e sentimentos e se apaixona por Miranda, formando um improvável triângulo amoroso.

Outras surpresas e desdobramentos estão reservados para Charlie quando ele descobre, auxiliado por Adão, que Miranda esconde um terrível segredo em seu passado que poderá colocar a vida de todos em risco. Será que a formidável mente humana poderá um dia criar uma máquina com capacidade de aprendizado além da nossa compreensão? Quais seriam os limites éticos para essa criação quando a verdadeira definição de humanidade se tornar irrelevante ou definida por outra máquina? McEwan coloca com muita perfeição a ideia dessa longa trajetória que temos percorrido rumo à extinção, nossa e do planeta.

"[...] Eu estava longe de ser o primeiro a pensar nisso, mas era possível ver a história do amor-próprio humano como uma série de rebaixamentos rumo à extinção. No passado, ocupamos um trono no centro do universo, com o Sol, os planetas e todo o mundo observável girando a nosso redor numa eterna dança de adoração. Depois, desafiando os sacerdotes, a impiedosa astronomia nos reduziu a um planeta que orbitava em volta do Sol, apenas uma em meio a outras pedras. Mas ainda nos colocávamos à parte, brilhantemente únicos, designados pelo criador para sermos os senhores de tudo que vivia. Mais tarde, a biologia confirmou que éramos iguais ao resto, compartilhando ancestrais com as bactérias, os amores-perfeitos, as trutas e as ovelhas. No começo do século XX penetramos ainda mais fundo no exílio quando a imensidão do universo foi revelada e mesmo o Sol se tornou um entre bilhões em nossa galáxa, em meio a bilhões de outras galáxias." (pp. 91 e 92)

O que ocorre na prática é que os androides não conseguem abandonar os seus princípios de moralidade para conviver com seres humanos, mesmo que isso possa comprometer a segurança e o bem estar de seus proprietários. Não é culpa dos seres sintéticos se eles não foram projetados para entender e aceitar os desvios de caráter e outras imperfeições dos homens. É o personagem Alan Turing quem melhor resume o impasse nesse convívio: "Não podiam nos entender porque não podemos nos entender a nós mesmos. Seus programas de aprendizado não eram capazes de se ajustar a nós. Se não podemos conhecer nossas mentes, como seríamos capazes de planejar a deles e esperar que fossem felizes convivendo conosco?", ou como é afirmado em outro trecho do livro: "não há nada em todos os seus lindos códigos capaz de preparar Adão e Eva para Auschwitz".

"[...] Criamos uma máquina com inteligência e autoconsciência para jogá-la em nosso mundo imperfeito. Desenvolvidas em geral segundo linhas racionais, benevolentes com relação aos outros seres, tais mentes logo se veem em meio a um furacão de contradições. Temos vivido com elas, e a lista nos cansa. Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies. E todo o resto – genocídio, tortura, escravidão, assassinato em família, abuso sexual de crianças, mortandade em escolas, estupro e dezenas de violências cotidianas. Vivendo em meio a esses tormentos, não nos surpreendemos quando ainda encontramos felicidade, até mesmo o amor. As mentes artificiais não são tão bem protegidas assim." (p. 194)

Ian McEwan faz uma retomada do seu estilo mais sombrio ao imaginar um personagem-narrador que é um perfeito representante da raça humana, não no que ela tem de melhor, mas extamente o contrário, com todas as imperfeições e egoísmo encontrados em seus semelhantes, ele revela a ironia de sermos confundidos com máquinas, enquanto os androides não conseguem abrir mão de seus conceitos de moralidade, pretensamente características humanas, inseridas nas configurações de fábrica. O nosso mundo é mesmo muito estranho, nada como um grande romancista para nos fazer enxergar isso.
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