Gisela.Bortoloso 13/11/2020O Moinho à beira do Rio Floss [George Eliot]Quando início a leitura destes clássicos do Clube de leitores Pedrazul, não me delicio só com a história em si, quero sempre saber também sobre o autor(a) que a escreveu, porque muitas vezes os livros são escritos por mulheres que se escondem sob pseudônimos, como é o caso de George Eliot, pseudônimo de Mary Ann Evans, que usava um nome masculino para que seus trabalhos fossem levados a sério. E durante a leitura percebemos o quanto a mente feminina ainda era menosprezada no século XIX, onde os homens acreditavam realmente que as mulheres não tinham inteligência suficiente para algo além de cuidar da casa.
Esta é uma obra profunda, que trabalha o âmago de cada personagem, o que consequentemente a torna de difícil leitura, mas depois dos primeiros capítulos, que são mais cansativos, principalmente porque estamos acostumados a leituras mas rasas e dinâmicas, torna-se belíssima e sublime, contudo, mesmo tendo me apaixonado pela história, sei que é um livro que vai agradar a poucos.
O Moinho à Beira do Rio Floss tem toda sua trama baseada em relações familiares. Conviver em família é algo difícil, apesar do amor que une seus integrantes, não conheço nenhuma família que não tenha seus reveses, e com a família Tulliver, não é diferente, lá encontramos todos os tipos de adversidades normais a esse tipo de relacionamento.
A autora nos introduz em cada capítulo a um dos personagens, desnudando seu íntimo para o leitor, mostrando o que o impulsiona, suas mesquinharias mas também suas generosidades, ou seja, seus personagens são pessoas de verdade, gente como a gente.
A história se desenvolve em torno da família Tulliver, composta pelo Sr. Tullive, sua esposa Bessy e os dois filhos, Tom e Maggie, sua irmã e cunhado e uma penca de filhos, além das irmãs de sua esposa e respectivos maridos e uma sobrinha. Todos são peças importantes no desenvolvimento da história.
O Sr. Tulliver ganha seu sustento nas atividades do Moinho Dorlcote, localizado as margens do rio Floss, que já está na sua família há gerações, e que ele consequentemente passará a administração para mãos de seu filho Tom. Todo seu negócio depende do rio Floss, e o Sr. Tullive se envolve numa briga judicial em decorrência de uma barragem no rio. Reconhecendo seu quase analfabetismo, o Sr. Tulliver ambiciona que seu filho Tom seja superior a ele, desejando-lhe proporcionar uma boa educação.
Mas quem encanta o coração do Sr. Tulliver é sua filha Maggie, que aos olhos dos seus tios é teimosa, não muito bela (principalmente comparada com sua linda prima, loira de olhos azuis) e muito esperta, característica pouco desejada numa mulher, mas para o Sr. Tulliver, sua "camponesinha" é sua preciosidade e ele se preocupa com seu futuro.
“- Pobre camponesinha, Ela não terá ninguém além de Tom, quando eu partir.
(...)
Ocorreu em sua mente que se ele fosse duro com sua irmã, poderia levar Tom a ser duro com Maggie em algum dia distante, quando ele não estivesse mais lá para tomar partido dela. (...) e esse era seu modo confuso de explicar para si que seu amor e ansiedade pela "camponesinha" lhe dera uma nova sensibilidade para com a irmã.”
Maggie tem verdadeira adoração pelo irmão Tom, apesar de terem personalidades completamente diferentes. Tom é prático, objetivo e reservado, Maggie é de natureza livre, romântica e sonhadora. A medida que os dois vão crescendo, começam a vivenciar as adversidades da vida e cada um deles lida com elas de modos distintos, o que muitas vezes causa desentendimento entre eles. E quando Maggie descobre o amor, esse não vem de maneira fácil, ela é obrigada a fazer escolhas difíceis que podem afetar a sua felicidade e também das pessoas a quem mais ama.
George Eliot (ou Mary Ann Evans) criou um romance intimista e avassalador, que a todo momento mexeu com minhas emoções, trazendo-as a flor da pele. Foi uma leitura verdadeiramente impactante.
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