A Curva do Sonho

A Curva do Sonho Ursula K. Le Guin
Ursula K. Le Guin




Resenhas -


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Davenir - Diário de Anarres 02/06/2020

Uma viagem lisérgica bem diferente da Ursula LeGuin
"A curva do sonho" foi lançado em 1971, por Ursula Le Guin mais conhecida pelos romances do ciclo Hainnish, A mão esquerda da escuridão e os Despossuídos, além da série de fantasia: O Feiticeiro de Terramar. Aqui temos uma obra típica da New Wave da ficção científica, onde se busca novos horizontes de especulação, para além das ciências duras (Física, Química e Biologia) da época de ouro (1930-50), nas ciências humanas e de elementos religiosos/místicos.

A história segue George Orr que vive atormentado com seu poder de alterar o tecido da realidade através dos sonhos. Devido a incapacidade de controlar os sonhos e por sua personalidade passiva, Orr busca alívio em drogas supressoras de sonhos quando passa a frequentar o consultório do médico psiquiatra Dr. Haber, de forma compulsória pelo uso dessas drogas. Uma vez que o Dr. Haber descobre que os poderes de Orr são efetivos, começa a usar George para manipular a realidade a sua vontade e sua crescente sede de poder.

A personalidade passiva de Orr acaba cedendo a ambição quase psicopata de Haber, travando debates interessantes enquanto fazem alterações e cenários em uma história que poderia ter saído de um livro do Philip K. Dick, mas a escrita refinada e imersiva de Le Guin torna impossível confundir com o estilo seco e direto de Dick, que foram maravilhosos ao seu modo. Outra coisa bacana é a advogada Heather Lelache, que levanta questões raciais na trama e tem um envolvimento romântico com George. Quem já leu outros livros da autora, sabe que seus livros valem mais pela jornada que por qualquer final surpreendente, mesmo assim, sem uma reviravolta ela consegue entregar um romance sucinto, profundo e com um final muito bonito. Vale muito a leitura!

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/2020/05/resenha-133-curva-do-sonho-ursula-k-le.html
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Thomaz.Barros 25/05/2020

Louco!
É um bom livro é nos faz questionar o que é realidade e oq são as memórias.
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Jam 26/04/2020

Tentativa de multiversos oníricos
O livro aborda o George Orr, um cara medíocre e medroso, com sua habilidade de sonhar e modificar a realidade, e o que pode acontecer quando tentamos ?melhorar o mundo? tirando suas mazelas de formas simples.
Eu acho que é um livro ok, mas não uma super indicação. Achei os personagens superficiais, e muitas vezes a narrativa é confusa. Não me pegou.
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luizguilherme.puga 11/04/2020

Segunda experiência com Úrsula k Le Guin e posso dizer que não é tão bom quanto " A mão esquerda da escuridão" , mas é uma leitura agradável. A Curva do Sonho é um livro que foi escrito na década de 1970, mas, sua narrativa continua a ser muito atual. As mudanças climáticas devido à poluição, efeito estufa, alterações ambientais, aumento demográfico de forma explosiva, agitação do dia a dia, crise de saneamento e falta de alimento, preconceito racial, entre outros são os temas que permeiam a obra. Le Guin nos apresenta um cenário onde um cidadão comum George Orr descobre que consegue mudar a realidade por meio de seus sonhos. A fim de evitar tal fenômeno , começa a ingerir remédios de forma ilegal que o faz responder a um tratamento psicológico, que é gerenciado pelo Dr. Haber. Este por sua vez percebe que tem em mãos um excelente instrumento que pode modificar (pra melhor ou pra pior) todos os problemas da humanidade. Apesar de alguns furos narrativos, inconsistências lógicas e final meio "lugar comum", é uma leitura bem interessante e pode gerar vários debates éticos e de valores. Vale a leitura.
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BETA 28/02/2020

Sonho x Realidade
Sonho ou realidade? Sonho que altera a realidade ou realidade que altera o sonho? O que é um mundo melhor? Este é um livro que nos faz pensar sobre a sociedade. Leitura fundamental. Clássico!!!
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May 19/02/2020

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS?
Depois de começar a se drogar com remédios para inibir seus sonhos, George Orr começa a fazer terapia com William Haber, que é um terapeuta especializado em sonhos, pois Orr desde a adolescência percebe que alguns dos seus sonhos se tornam realidade. Mas o terapeuta tem outros planos para ele que não envolve sua cura.

"É o que torna os humanos tão inquietantes no que diz respeito ao sono. Sua total privacidade. Quem dorme vira as costas para todos."

A narrativa da história é em terceira pessoa, assim é possível o leitor saber sobre os pensamentos tanto do terapeuta quanto do paciente. E isso deixa a o leitor com um sentimento ambíguo em relação a ambos os personagens, hora os odiamos, hora temos compaixão com o que passam e conseguimos entender suas atitudes. A história vai tomando rumos mais sombrios que não são imaginados no início da trama, e em alguns momentos ficamos chocados com as mudanças causadas na história. 

Não é um livro com ação do início ao fim, mas é feito para causar um desconforto psicológico aos leitores, pois é fácil começar a imaginar coisas conforme vamos lendo, afinal, todos nós sonhamos, né? E além disso no meio da história, em segundo plano, vemos algumas críticas sociais bem interessantes. E é muito legal ver algumas menções que a autora faz ao Brasil.

"Mas a mudança não precisa desequilibra-lo; afinal, a vida não é um objeto estático. É um processo. Não há como ficar parado. Racionalmente, você sabe disso, mas emocionalmente você se recusa. Nada permanece igual entre um instante e o seguinte, não se pode entrar no mesmo rio duas vezes. "

Os capítulos são um pouco longos, embora o livro seja curto, então as vezes isso fica um pouco cansativo, embora seja questão de opinião, alguns leitores gostam de capítulos mais longos.
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Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 18/02/2020

Já Li
Publicado originalmente em 1971, o livro se passa em Portland (Oregon, Estados Unidos) no ano de 2002. A cultura é praticamente a mesma da década de 1970 nos Estados Unidos, embora empobrecida. Há também uma guerra massiva no Oriente Médio, com o Egito e Israel aliados contra o Irã. O aquecimento global causou estragos na qualidade de vida em todos os lugares do mundo.
O protagonista é George Orr. Quando George sonha, o sonho literalmente vira realidade. Aliás, aqui faço um adendo: não só vira realidade como transforma a realidade do mundo. Por exemplo: se George sonha que um prédio não existe, assim que ele acorda o prédio não está mais lá, e ninguém sequer se lembra que o prédio um dia existiu. Assim, não é difícil entender que George evita ao máximo sonhar e acaba ficando viciado em diversos tipos de droga. Por causa do vício, George é obrigado a fazer terapia de desintoxicação com um psiquiatra chamado William Haber que lhe explica que é humanamente impossível ficarmos sem sonhar, pois o sonho faz parte de um processo cerebral indispensável à vida.

Até este ponto da leitura, eu estava muito interessada. A premissa criada por Le Guin é muito interessante e me peguei pensando em todos os sonhos que já tive e que bizarro seria o mundo se eles o transformassem. Também estava curiosa para ver qual seria a reação de Haber quando descobrisse do que George era capaz.
Haber, então, procura usar o poder de George para mudar o mundo. Suas experiências com uma máquina de biofeedback/EEG, apelidada de Amplificador, aprimoram as habilidades de George e produzem uma série de mundos alternativos cada vez mais intoleráveis, com base em uma variedade de premissas utópicas (e distópicas).
Quando Haber instrui George a sonhar com um mundo sem racismo, a pele de todos no planeta se torna um cinza claro uniforme. Uma tentativa de resolver o problema da superpopulação se mostra desastrosa quando George sonha com uma praga devastadora que destrói grande parte da humanidade e dá ao mundo atual uma população de um bilhão em vez de sete bilhões. George tenta sonhar com a existência de "paz na Terra", resultando em uma invasão alienígena da Lua que une todas as nações da Terra contra a ameaça.

Um dos meus problemas com este livro foi a personagem de Haber. Cada vez que ele aparecia em cena, eu revirava os olhos, pois os diálogos com ele eram extremamente maçantes. Haber só sabia falar das tecnicidades dos sonhos e do Amplificador, e eu me sentia lendo um parágrafo de TCC. Achei um erro feio de Le Guin, que dificultou muito a fluidez da leitura e, pior ainda, o desenvolvimento de um vínculo com Haber. Embora ele tenha boas intenções quando manipula os sonhos de George, Haber é tão chato e tão entediante que faz toda a dinâmica se perder. Ele poderia ter sido um anti-herói incrível, mas não foi.
O que se conecta com meu outro problema do livro, que é o próprio George. Ele é muito insosso. No começo da narrativa, ele deve ser insosso, então até aí tudo bem, mas em algum momento da história ele deveria evoluir. Mas esse momento demora tanto a chegar - tanto! - que, quando chega, quase no final do livro, eu já não queria mais saber do herói.
Assim, consequentemente, passei quase toda a leitura resmugando, porque não aguentava mais a dinâmica entre os dois chatos, Haber e George. E, para piorar, a cadência do enredo é muito lenta e eu quase desisti da leitura algumas vezes.

Há também o interesse amoroso de George, Heather, mas o relacionamento deles me pareceu um elemento forçado. Não me convenceu nem me cativou.

O legal mesmo deste livro é acompanhar as mudanças de realidade e as consequências no mundo e na sociedade. Achei um exercício de imaginação muito interessante e foi nisso que Le Guin me ganhou. Mesmo quando os alienígenas são introduzidos à realidade da Terra pareceu uma realidade possível e natural e, se o livro tivesse explorado mais (e melhor) estas especulações, teria completado seu potencial de obra-prima.
Por causa disso, é uma leitura que recomendo, apesar dos pontos negativos que identifiquei nesta resenha.

site: https://perplexidadesilencio.blogspot.com/2020/02/ja-li-109-curva-do-sonho-de-ursula-k-le.html
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Paulo 19/12/2019

A Curva do Sonho é um livro que foi escrito na década de 1970. Mas, sua narrativa continua a ser muito atual. Vejam alguns dos temas trabalhados ao longo da narrativa: mudanças climáticas devido à poluição, efeito estufa, alterações ambientais (apesar de que em algumas coisas, a Úrsula errou mostrando uma terra ora gélida, ora desertificada), aumento demográfico de forma explosiva, falta de saneamento básico (retorno de doenças como escorbuto e tifo) entre outros. Le Guin nos apresenta um cenário que, mesmo mudando, nos mostra uma Terra assolada pelos problemas que os próprios seres humanos criaram. Ela consegue ser clássica na escrita e atual na abordagem ao mesmo tempo.

O tema principal da narrativa é o sonho. George Orr, o protagonista é alguém que tem sonhos que moldam a realidade. Não é que seus sonhos preconizem coisas; significa que o que ele sonha é real. O cenário se adapta àquilo que ele coloca em sua mente. O médico que o atende, um especialista em sonhos, logo percebe as possibilidades das habilidades de Orr, embora mantenha um certo nível de incredulidade. O doutor Haber vai buscar formas de usar os sonhos como uma maneira de tornar o mundo melhor. Claro que esse ideal nobre rapidamente vai se tornar algo egoísta já que a visão de mundo melhor é a visão de Haber, sua perspectiva. Tem um certo momento na narrativa, lá por uns dois terços, em que percebemos o quanto Haber foi longe demais. E é quando o seu sonho de justiça se torna um pesadelo.

Ficamos o tempo todo querendo que Orr saia dessa situação, se rebele contra Haber ou faça alguma coisa. O problema é que a personalidade do protagonista é fraca e submissa. Ele quer apenas se livrar do problema e vai sendo enredado pela personalidade manipuladora do médico. Em vários momentos onde lhe é colocada uma escolha, ele acaba não escolhendo. Prefere apenas atender os ditames de Haber. Para isso, ele usa inúmeras justificativas: as chantagens de Haber, o fato de ele querer ficar melhor, ou que o tratamento está funcionando mesmo que Haber esteja se aproveitando disso. Tudo não passa de uma mentira, de uma maneira que o protagonista faz para convencer a si mesmo de que não precisa agir.

Le Guin usa como cenário o nosso próprio planeta. Mas, ela aproveita as habilidades oníricas de Orr para fazer diversas brincadeiras geopolíticas. Isso, de acordo com os anseios do personagem, Por exemplo, a autora nos apresenta um massacre de brancos na Europa por conta de preconceitos, ou uma possível aliança entre Afeganistão e Brasil para dominação global. Mais tarde isso vai ampliando com as alterações climáticas e o desaparecimento de cidades costeiras. Repito: vale a pena perceber o quanto a autora preconizou determinadas questões. E estamos falando da década de 1970 quando efeito estufa e aquecimento global faziam parte apenas de discussões entre acadêmicos considerados loucos e alarmistas.

À medida em que a narrativa vai passando, Haber vai justificando suas ações, mesmo elas mexendo com a geopolítica de uma maneira irreversível, como algo necessário. Que Orr possuindo tamanho poder tinha o dever de alterar a realidade para algo mais justo. Mas, será mesmo? O propósito do homem é alterar a realidade a seu bel prazer? Pontuo isso porque existe toda uma linha filosófica que entende a realidade como sendo algo único e individual. Cada um de nós enxerga um universo só nosso. A percebemos de acordo com nossas concepções e bases fundamentais. Hayden White vai ainda mais longe dizendo que não há história, mas percepção de realidade. O que eu percebo não é o mesmo que o fulano do meu lado percebe. Com isso, a própria ideia de contar a história de uma civilização não passaria de uma falácia.

Ao mesmo tempo em que pensamos fundamentalmente em se devemos ou não mudar a realidade, qual é a nossa responsabilidade se algo sair errado? A advogada Heather se depara com esse dilema mais tarde quando entende a amplitude da habilidade de Orr. Sua mente não consegue absorver o real significado disso. É algo tão grande que ultrapassa a sua própria concepção de mundo. A princípio, a personagem não aceita, mas pouco a pouco ela vai lidando com os seus sentimentos e percebendo todo o perigo caso uma habilidade dessas caia nas mãos erradas. Então, de um lado temos uma discussão sobre a moralidade do ato e logo a seguir a responsabilidade do emprego do mesmo.

Imaginaríamos logo de cara que um dos principais objetivos com o uso dos sonhos de Orr seria o de acabar com a violência e as guerras. E é uma das primeiras coisas que Haber tenta fazer. Mas, ele esbarra em um problema fundamental: Orr não consegue nem sonhar com um mundo sem guerras. Caio em outra questão: seria o ser humano uma criatura programada para lutar uma contra a outra? Mesmo quando a dinâmica muda na segunda metade da história, Orr continua a colocar os homens uns contra os outros. Por mais ridículo e pequeno que fosse o motivo. Imagino o quanto de discussão é possível entender a partir disso já que o ser humano é quase um parasita em seu próprio planeta. Absorvemos todos os recursos naturais e não devemos quase nada de volta. Matamos por esporte ou por prazer e quase nunca por sobrevivência. É quase como se Le Guin dissesse que temos um gene para a violência embutido em nosso DNA.

Já que não é possível acabar com todas as guerras, será possível acabar com todas as diferenças sociais? O fim dos preconceitos? E se todos tivessem a mesma cor de pele? Será que assim acabaríamos com todos os problemas? Le Guin dá uma bela resposta a essa questão e o que eu entendi de como ela pensa é que as características fenotípicas acabam por constituir nossa personalidade. Todas as questões referentes a cor de pele, ao preconceito inerente a isso e à desigualdade social acaba formando indivíduos muito distintos entre si. E, mesmo algumas semanas depois de ter terminado a leitura, eu ainda não consegui descobrir se eu concordo ou não com a afirmação da autora. Ela realmente me pegou de um jeito que eu fiquei sem resposta. O que vocês acham?

Mas, uma coisa que eu posso responder é outro questionamento que ronda a mente de Orr por boa parte da narrativa. A vida é estabilidade ou mudança? Desejamos ser pessoas acomodadas em um lugar pacífico ou ansiamos pelo caos e pelo conflito? Na minha visão, o homem é um ser em constante metamorfose. Ele não se contenta com o básico; este elimina sua capacidade de evolução. Seres humanos acomodados acabam por serem pessoas insatisfeitas ou infelizes. É curioso se pensarmos que sempre desejamos ver finais felizes em nossos filmes favoritos. Mas, nós mesmos não desejamos um final feliz. Ansiamos sempre por novos desafios que se apresentem perante nós. Mesmo que não digamos em alto e bom som, nosso inconsciente acaba criando as possibilidades para esses conflitos acontecerem.

Seja a escolha a estabilidade ou o conflito, todos mundos buscamos alcançar um equilíbrio. Em quase todas as acepções de mundo no futuro, sempre vemos os seres humanos buscando a unidade, procurando fazer parte do todo. Quem sabe até encarar o fato de que talvez nosso planeta seja uma entidade viva por si só e possua uma alma. Então como nos relacionar com um ser de proporções planetárias? Teremos essa capacidade em algum momento?

A Curva do Sonho é um clássico do gênero, contendo todo o talento de Le Guin para compor uma narrativa instigante e reflexiva. Ela nos coloca diante de um emaranhado de possibilidades através de um personagem fraco e submisso que precisa, de alguma maneira, virar o jogo caso queira sair da situação em que ele se encontra. Ao mesmo tempo ele vai se questionando sobre qual é o seu papel no universo e por que ele foi dotado de uma habilidade tão poderosa. Ah, sobre a medusa na capa... Existe uma explicação dada quase no finalzinho da narrativa. Vou ficar quieto e deixarem vocês explorarem-na. Ela é bem curiosa. Recomendo demais esse livro não só por ser da Le Guin, mas por ser uma ótima ficção científica.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Roberto 25/09/2019

A Curva do Sonho | A vida não pode ser segura
George Orr é uma figura peculiar. Com exceção de seu talento para os desenhos, poderia ser apenas um homem simples de rotina calma, mas tem abusado do seu medicamento porque acredita possuir a habilidade de mudar a realidade através de seus sonhos, então permanecer consciente parece ser a melhor opção para evitar qualquer possível catástrofe, já que não é apenas a sua realidade que muda, mas a de todos. Se Orr vivesse em ignorância, talvez tivesse uma vida mais fácil (considerando as circunstâncias), no entanto, ele mantém sua memória e lembra de todas as vezes em que seus sonhos moldaram a existência.

Isso faz com que ele seja “convidado” a atender sessões de terapia com o doutor William Haber, um psiquiatra e pesquisador sobre as condições de sono que acredita no infortúnio de Orr e passa a utilizar seu intelecto e recursos para propósitos pessoais, tentando assim se transformar em um dos homens mais poderosos do mundo. Quando os sonhos do paciente provam-se efetivos, Orr e Haber começam um esquema arriscado onde não apenas a realidade, mas suas mentes, são manipuladas.

Escrito por Ursula K Le Guin, A Curva do Sonho é um romance curto, mas de grande impacto, mais uma vez salientando como a autora trata temas relevantes e perenes de forma inteligente, principalmente considerando que a obra foi publicada originalmente em 1971, apenas dois anos depois do seu clássico A Mão Esquerda da Escuridão.

A humanidade enfrenta a superpopulação e os desastres das mudanças climáticas. Temos um drama ambientado no “nosso mundo”, em Portland, no Oregon, e esse é um elemento importante para entender alguns aspectos da obra, como a pintura do Monte Hood, no consultório de Haber, tornando-se parte da trama. Mas esse é apenas um detalhe quando percebemos que a verdadeira força da história está na maneira como os sonhos se concretizam, com sucesso ou não em sua premissa, apresentando cenários aparentemente utópicos, mas que logo revelam-se cheios de falhas, como quando Orr sonha com um mundo livre da superpopulação, mas para resolver isso acaba inventando uma praga que dizimou parte da população.

É através da execução dos sonhos que Ursula nos apresenta alguns dos principais temas da obra, com debates filosóficos sobre determinismo e a nossa necessidade de livre-arbítrio. Cada capítulo é anunciado com citações sobre o assunto, a maioria envolvendo algum pensamento de tradição taoista, onde é atribuída uma força poderosa e invisível por toda existência. Além disso, uma das comparações mais óbvias que podemos fazer é com as obras de Philip K Dick, por conta das experiências envolvendo realidades alternativas, mas Le Guin não deixa de trazer sua própria voz, abordando mais uma vez um debate sobre individualidade e racismo, como quando Orr sonha em acabar com a desigualdade racial, mas as coisas não saem do melhor jeito.

“Eliminamos o problema de cor, de ódio racial. Eliminamos a guerra. Eliminamos o risco de deterioração da espécie e o estímulo a linhagens com genes deletérios. Eliminamos… não, digamos que estamos em processo de eliminação… a pobreza, a desigualdade, a guerra de classes, em todo mundo. O que mais?”

Em uma leitura mais rápida como essa, ainda assim temos um excelente desenvolvimento de personagens, mostrando a evolução do passivo Orr, aceitando tudo que lhe é mandado, e do inteligente e malicioso doutor Haber. Logo cedo, também somos introduzidos a Heather Lelache, uma advogada pela qual Orr acaba se apaixonando. Temos uma narrativa que intercala entre núcleos dramáticos, e essa é talvez a parte mais envolvente da obra, que infelizmente sofre um pequeno tropeço em sua segunda metade, quando tenta introduzir eventos cada vez mais absurdos e impactantes, mas acaba ironicamente perdendo um pouco da sua força, antes concentrada em seus personagens e uma premissa consistente. Não é algo que chega a estragar a leitura, mas pode distrair alguns da proposta original do livro.

A Curva do Sonho é mais uma tentativa de Ursula K Le Guin em nos mostrar o potencial humano, seja ele para o bem ou não. Os dilemas de George Orr, por mais que cobertos por algumas camadas de ficção científica, são universais, mostrando como não somos donos de nosso destino e talvez seja melhor assim.
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Cristiano.Konno 07/09/2019

Excelente
Ursula K Le Guin é a responsável pelo meu livro de fantasia preferido: O Feiticeiro de Terramar.

Dona de uma escrita primorosa e de raciocínios profundos e elegantemente duros e, às vezes, ácidos, Ursula é uma grande e premiada autora de Ficção Científica e Fantasia, ganhando prêmios importantes na literatura.
Em suas histórias, ela sempre traz questões comportamentais e sociais através de planos de fundo fantásticos e inteligentes.

Em A Curva do Sonho somos apresentados à George Órr, um homem que é capaz de alterar a realidade através de sonhos efetivos, um dos vários estágios do sono. Tentando acabar com isso, com medo do que possa fazer mal ao mundo e às pessoas, George se droga para não sonhar. O problema é que ele é pego, processado e obrigado a ter sessões com um psiquiatra, Dr Haber.

Haber, então, logo descobre os poderes de Órr e começa a usar eles em benefício próprio através de sonhos induzidos por hipnose, tornando o mundo mais agradável para si. E, aparentemente, ele é tão cego ao seu ego que não enxerga seus erros e seus egoísmos; é como se suas escolhas ruins fossem altamente justificáveis em nome de um bem maior (algo que é bom só para ele, mas sua mente se esforça para esconder que ele só faz aquilo para si mesmo). E isso acaba por piorar tudo para George Órr.

Bom, até aqui temos a sinopse, agora vamos efetivamente às minhas impressões: que coisa difícil falar sobre esse livro! Embora não seja tão complicado de ler, A Curva do Sonho talvez seja uma obra que necessite de um pouco mais de reflexão para ser totalmente absorvida. É uma grande parábola sobre pessoas que usam os sonhos ou a força de vontade de outras pessoas em benefício próprio. Como um chefe, ou um governante, ou até mesmo amigos e parentes vampiros.

Acho que uma das coisas que incomodam um pouco é que Órr é passivo demais, ele se deixar levar, se deixar controlar e demora muito até tomar uma atitude. Mas depois, mastigando mentalmente melhor essa história, fico pensando se não é realmente assim: você sabe que estão te usando, sabe que está tudo errado, mesmo assim continua lá tomando as mesmas atitudes, inerte, obediente (se você não é assim, parabéns, mas acredito que a maioria já engoliu algum sapo dolorido, não é mesmo?).
Todavia, Ursula deixa claro através de uma personagem importante, Heather, que vê em George uma fraqueza aparente, mas não demora a perceber sua força. A força de seus sonhos, a força que ele demonstra ao aguentar tudo com bondade e calma, a força de alguém que está muito cansado, que tem como principal atributo o sonho, mas que está cansado tanto da realidade quanto dos sonhos. Alguém que, mesmo desesperado, continua indo em frente, buscando uma solução.

E suas questões filosóficas sobre: quem sonha, quem muda, o que é bom ou ruim são sensacionais. Trechos incríveis que precisam ser relidos, não porque são difíceis de compreender, mas que são tão belos que você se obriga a ter aquela experiência novamente.

Entretanto, eu recomendo esse livro com ressalvas, porque ele não é algo a se divertir, como em Jurassic Park (que soltei minhas impressões recentemente). É uma obra mais profunda, mais calma, que te mostra o quanto é perigoso sonhar demais ou, pior, viver dos sonhos dos outros.

site: https://horadeverlerjogar.blogspot.com/2019/09/livro-curva-do-sonho-autora-ursula-k-le.html
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Camila - @darkbookslibrary 24/06/2019

Uma surpresa e tanto!
George Orr aparenta ser um homem comum como qualquer outro em uma Terra superpopulosa e com problemas climáticos, mas isso não é bem verdade. Quando dorme e sonha George é capaz de alterar a realidade das mais variadas formas e apenas ele mantem as memoriais originais de como as coisas costumavam ser.
Temendo seus sonhos ele procura a ajuda de um psiquiatra, que a princípio trata a questão de ceticismo, até entender a proporção incrível das habilidades de seu paciente.
Esse é meu segundo livro da Ursula e confesso que estava MORRENDO de medo da leitura, principalmente por não ter conseguido me relacionar com a anterior.
Senti que em A mão esquerda da escuridão a forma de narrativa da autora não me atendia, mas em A Curva do Sonho o tom e o estilo usados são outros. Tudo é muito bem explicado e há uma lógica sequencial impecável que faz com que qualquer leitor, seja o fã de ficção científica ou não, acompanhe a leitura sem qualquer problema de compreensão ou sem a sensação de se sentir perdido.
Essa é uma obra fantástica, cheia de acontecimentos incríveis, de referências e profundidade. Trata sobre a questão do sono não só de forma ficcional, mas nos dá muitos detalhes sobre como nosso cérebro e os sonhos se relacionam de uma forma instrutiva e ao mesmo tempo interessante.
A temática é diferente, inusitada e o mundo construído por Le Guin tem detalhes e elementos suficientes para dar ao leitor uma ideia geral da situação que nosso planeta se encontra sem se tornar super detalhista ou maçante.
Além disso ela ainda aborda outras questões, como igualdade, racismo, distribuição de recursos naturais, e outras questões de natureza moral ao tratar da relação entre George e o psiquiatra.
É uma leitura rápida, inteligente e altamente interessante do ponto de vista científico e humano. Foi uma surpresa maravilhosa e ao termino da leitura ganhei uma reflexão importante, que a mudança imposta por uma única pessoa é injusta e falha.


site: https://www.instagram.com/darkbookslibrary/
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