Dri Ornellas 10/06/2021Confesso que meu interesse pelo livro O homem que odiava Machado de Assis, do escritor @j_almeidajunior foi puramente devido ao bruxo do Cosme Velho. Para minha frustração e felicidade, o livro não é sobre Machado, frustração porque não posso simplesmente ficar tietando o autor agora, mas felicidade por o livro ter um espírito próprio e não basear sua história na aura ainda viva do escritor para existir.
A história gira em torno de Pedro Junqueira que conheceu Machado de Assis ainda criança e, desde então, tem uma rixa com o escritor (rixa imaginária ou não. O ódio é um sentimento muito particular). Essa hostilidade segue Pedro e está presente nos momentos mais decisivos e importantes de sua vida.
Pedro me lembrou muito Brás Cubas, não apenas pelo livro ser também narrado pelo protagonista – vivo, aqui – mas por assim como Brás Cubas, Pedro ser um típico exemplar da classe média do século XIX (um hétero topzeira da época): não tem ambições autênticas, é sustentado ou se garante no dinheiro da família, ama e desama conforme a conveniência (e sua covardia) e é obcecado por uma mulher casada e, as custas de qualquer coisa, quer que quer ficar com ela. E adivinha com quem ela é casada? Isso, com Machado de Assis.
Outro fato muito interessante no livro é o pano de fundo histórico que relata muitos acontecimentos políticos sobre as tentativas de abolição da escravatura e seus personagens mais importantes. Pedro Junqueira acaba se tornando uma peça importante nas discussões sobre a escravatura, mas em nenhum momento temos alguma amostra de que seu desempenho é objetivado por um sentimento humanitário ou de empatia, mas apenas como uma bandeira benéfica para sua trajetória política. Bom, mas não lá muito original e autêntico, assim como tudo sobre ele, mas o avesso do livro que é uma ótima leitura.