Dudu Menezes 19/01/2024
Obra prima
Li "O Meu pé de Laranja Lima" somente agora, em janeiro de 2024, aos 40 anos. Conheço um pouco das adaptações para TV e cinema, mas, até o momento, ainda não tinha tido contato com o livro.
Trata-se de um romance autobiográfico, que se passa no final dos anos 1920, no bairro de Bangu, zona norte do Rio de Janeiro. O protagonista da história é Zezé, um menino muito pobre, de 6 anos de idade, que enfrenta muitas dificuldades para se entender neste mundo, em meio a tanta desigualdade e injustiças.
Zezé é inteligente, travesso e questionador. Gosta de jogar bola de gude, colecionar figurinhas e falar com animais. Tem muita imaginação e usa do seu universo de fantasia para tentar suportar as constantes pauladas que a vida lhe dá. Aliás, não só a vida, mas também os familiares, principalmente o pai e a irmã mais velha. Mas, para falar de abusos e violência doméstica é preciso contextualizar o que se passava nessa época.
No final dos anos 1920, o Brasil acabou sofrendo as consequências da grande depressão norte-americana. Dependente econômica e culturalmente dos Estados Unidos, o nosso país viu a precarização do trabalho se tornar realidade, com o aumento do desemprego e o empobrecimento da população, mas não foi só isso. O contraste desta realidade social aparecia através da cultura, cujas referências dos meninos pobres da América Latina eram os heróis dos filmes de faroeste norte-americanos.
Zezé queria ser caubói, queria deixar a imaginação o levar para bem longe. Queria brincar, mas tinha que engraxar sapatos por uns trocados. Como toda criança, ele apenas reproduzia o que ouvia e chegou a achar que "Deus" o estaria punindo, no natal, quando não ganhou nada de presente, porque era "um menino-diabo". Acontece que Zezé era apenas uma criança e teve que amadurecer muito cedo.
Ele me fez lembrar de outros livros e personagens da literatura nacional que me acompanham desde que os conheci. É o caso de Macabéa, em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Ou mesmo de Carolina Maria de Jesus, com seu Quarto de Despejo.
E o pé de Laranja Lima? Pois é. De onde menos se espera é que nascem as verdadeiras amizades. Não posso falar muito mais do que isso. Leiam!