Duda.dudagabooks 08/11/2019Teria sido ótimo se não fosse minha veia problematizadora... Senta que lá vem textão!Iniciei a leitura desse romance já sabendo que seria bom, pois foi logo após a finalização de "O Ogro e a Louca". Já naquele imaginei que a história seria engraçada e romântica, além de sensual, pois notei o sex appeal do Lorde Gregor MacRae já de longe! Não me decepcionei e minhas expectativas foram totalmente suprimidas, graças a Deus (ou a Deusa, hehe).
Primeiramente quero elogiar MUITO a forma que a autora conduz a narrativa, trazendo frases de célebres autores nacionais e internacionais para abrir cada capítulo. Sou nova nesse gênero, então não sei se isso já foi utilizado em outros livros, mas fiquei impressionada com a delicadeza. Achei a escrita fluida e agradável, os acontecimentos foram ocorrendo de forma natural e achei muito bonito o romance do casal (que iniciou de forma física e foi se mostrando muito mais que isso). A personagem principal me agradou bastante, bem como o escocês *suspiro* (queria um pra mim!).
Algumas coisas me incomodaram ao longo da leitura, principalmente os erros de concordância... Acredito que esse ponto deveria ter sido bem observado na revisão, embora não tenha atrapalhado tanto a experiência. Mas isso não chegou a me deixar tão indignada quanto um hábito da autora que notei já no outro livro, qual seja: inserir competição feminina na trama. Para uma história que se mostra bastante "pra frente" e com menções, inclusive, ao patriarcado e machismo, esse detalhe me deixou muito desanimada.
Eu entendo que é necessário colocar um drama na trama, até porque isso faz parte de livros nesse estilo. No entanto, é irritante ter que ler pela segunda vez a personagem principal humilhando outra (criada, inclusive) por causa de macho. Tudo bem, é um romance histórico, dá pra deixar passar esse tipo de coisa por conta da mentalidade da época e tal, porém acho que aqui o negócio passou do ponto.
Explico: já no outro livro ficamos sabendo que o conde é um libertino que já se deitou com diversas mulheres, etc etc. E a nossa mocinha, apesar de donzela, é bastante entendida e, não obstante, se joga no mocinho para curtir os prazeres da carne também. Em certo momento da história somos introduzidos à Davina, uma criada do castelo do escocês e antiga amante deste. Ela é bem irritante e dada a feitiçarias para separar o casal, mostrando ao leitor que será uma provável rival de Juliette. Devo dizer que nesse momento eu não me irritei com o que foi introduzido, afinal não sou uma feminista que prega cegamente a sororidade, muito menos entre mulheres do século passado.
ATENÇÃO: a partir daqui vou soltar spoilers à torta e à direita, então fique agora avisada e por sua conta em risco, ok?
Pois bem. Já no final da história, com a mocinha no castelo, recém-casada, voltamos a encontrar Davina - muito mais cruel, indignada e enciumada com a situação do ex amante e a atual esposa dele. Ela tenta sabotar o relacionamento dos dois, como boa vilã de romance água com açúcar, e até mesmo causar um aborto na mocinha. Devido a isso, Juliette fica com sangue nos olhos e passa a arquitetar um plano a fim punir a criada. Até aí tudo bem, né? Só que depois disso é que tudo foi abaixo e quem passou a ficar com sangue nos olhos FUI EU.
O plano da Sra. MacRae foi unir a ex amante do marido com um homem detestável, machista, velho, gordo e chato da forma mais odiosa possível: trancando-os em um quarto, deixando a criada numa situação, no mínimo, desconfortável. A nossa mocinha, que de burra não tem nada, resolve envergonhar a moça e obrigá-la a se casar com o tal homem após flagrá-los nos aposentos desta. Foi montado um verdadeiro circo com a família de Davina e tudo como companhia, inclusive.
O que me indignou não foi exatamente essa situação, acho que a criada deveria, sim, ter sido punida pelos atos e tudo mais; entretanto, fiquei extremamente decepcionada com a Juliette e o Gregor - principalmente o Gregor. Ele se relacionava com essa moça, compartilhou várias vezes a cama com ela e a entregou de bom grado a um homem que obviamente iria estuprá-la (estupro marital)! Isso não passou tranquilamente por mim, sinto muito. A atitude me deixou indignada porque durante a história inteira ele fala que as mulheres têm que ter liberdade de escolha e, após essa situação, menciona, de maneira ressentida, que a própria mãe era estuprada pelo pai também. Portanto, como aceitar que um mocinho "pró-feminista" passe de mão beijada a ex-amante para um troglodita velho e machista? Que, inclusive, compara as mulheres a vacas? Pois isso não me desceu MESMO.
Daí por isso dou, com pesar, a nota 3 ao romance. A história é ótima, o casal é legal, os personagens secundários não deixam a desejar, mas esse detalhe me deixou tão incomodada que eu só queria terminar o livro de uma vez pra vir reclamar aqui. Recomendo, apesar de tudo, mas espero que no terceiro livro da série a autora não surja novamente com outra competição feminina de dar nos nervos.