Manu 13/04/2021
O livro tem uma premissa muito interessante e ousada: acompanhar diversas gerações de uma mesma família durante 5 séculos, pela vida das mulheres que constituem essa linha histórica, que entrelaça cotidiano com os grandes marcos que compõem a história do Brasil.
Acredito que o livro tinha um grande potencial, e talvez minhas expectativas tenham sido nesse sentido, de trazer uma história coberta de elementos que compuseram o nosso Brasil. Enquanto algumas das vidas são recheadas de passagens e momentos marcantes, outros momentos são simplesmente relegados a segundo plano, sendo citados brevemente para que o leitor não esqueça em que pé andava nosso país (cito um exemplo: enquanto uma personagem estava em Olinda durante as invasões holandesas, em outro ponto, as revoltas que culminaram na morte de Tiradentes são citadas em uma frase, tendo quase que nenhuma relevância para a construção daquela personagem). Enquanto temos duas gerações de mulheres abolicionistas - o que é absolutamente incrível - algumas das outras não pareciam ter nem uma pedaço de sua vida "balançada" pelas conflitos frequentes que marcaram nossa história. Acho que a narrativa cresce muito em sentimentalismo ao chegar no século XX, talvez porque a autora tenha de fato vivido parte disso, o que me agradou muito mais (pela minha expectativa).
Mas, de fato, o que mais me incomodou foram alguns dos relacionamentos constituídos aqui no livro. Não consigo entender porque, tendo a oportunidade de desenvolver a quantidade de exploração a que os indígenas e seus descendentes foram submetidos desde o início do processo de colonização, em 1500, a história que abre o livro é de amor (!) entre uma indígena de 13 anos e um português. Diversas histórias carregam um teor que, ao meu ver, não tem muita verdade. E não querendo dizer que casamentos arranjados e de conveniência não eram o mais comum durante boa parte dos séculos nos quais se passa o livro. Minha questão aqui é por que colocá-los tão frequentemente como amor, quando o leitor não consegue se convencer disso.
Terminei com um gosto um pouco amargo na boca, já um pouco cansada do livro e zero apegada aos personagens (tinha que voltar frequentemente a árvore genealógica do começo para me lembrar, às vezes, quem eram os personagens que tinham aparecido poucas páginas antes!). Entendo o sucesso que esse livro fez no exterior, até porque a escrita da Maria José Silveira é maravilhosa, mas também senti que aqui, para mim, leitora brasileira, algo fez falta.