Grazi Comenta 03/10/2014Uma sci-fi nacional que merecia virar filme.
'' - Grande Trovão - disse o cacique - espíritos do além dizer que guerreiro terá forte combate. Proteja coração da floresta ameaçada, quando terceira lua vier.''
Este livro conta a história de Vitã e Helena, dois grandes nomes do exército brasileiro futurístico, que são enviados pela base-torre de Codajás, na Amazônia, para trabalhar como espiões. Eles precisam descobrir o que está havendo com a floresta e quem está por trás disso. É uma história de ficção-científica recheada de criaturas horríveis, vilões odiáveis e lições sobre o ser humano e sua corrida para modificar a natureza.
Bom, para que eu faça um bom relato da minha experiência com esse livro eu vou precisar de duas coisas. Vou dividir a resenha em duas partes (separando as páginas) e avisá-los de algo que eu não sabia quando comecei a ler: esse é um livro introdutório. Então, ele é o primeiro livro de uma trilogia ou série, ainda não sei, mas enfim, ele tem continuação. Esse detalhe explica muito a ''primeira parte da resenha''. Vamos lá.
Parte 1 - As Primeiras 170 páginas.
Não consegui me conectar com a história nesse momento. A escrita do autor é incrível. Dá pra notar o cuidado com o qual ele descreveu cada cena e escolheu cada diálogo, mas mesmo assim não tive nada ao qual me agarrar pra ter aqueeeela vontade de continuar lendo. Não tinha um personagem carismático suficiente pra isso, não tinha aquele segredo que te deixa se coçando pra descobrir. Eu simplesmente não consegui dar crédito à personagem Helena - que é uma das protagonistas - por que, bem, acho que faltou sacadas inteligentes ou um algo a mais nela pra me convencer de que ela era realmente uma grande major do exército. Já Vitã é oposto. Fica bem claro o porquê de Lemos e outros personagens confiarem nele. Esse sim convenceu como mocinho. Aliás, tem uma coisa que achei incrível sobre esse livro: tem grande parte dele baseado na Amazônia e tem espaço para personagens índios e tem o principal como ''descendente'' deles. Achei ótimo! Dou valor.
Outra coisa é que acho que faltou descrições mais objetivas das coisas futurística do livro, como por exemplo em uma cena em que ele fala sobre luvas paramétricas e óculos quadrivetor. Eu não consegui imaginar o que seria isso. Já ter metade do livro com cenas dentro da floresta foi uma ideia muito boa. É delicioso imaginar as cenas do Vitã lutando contra mutantes transgênicos num ambiente aberto, mas ao mesmo tempo fechado e escuro. Sacaram? xD
'' - Renan, sei que há loucos espalhados pelo mundo. Querem misturar espécies e não consigo entender o porquê de tamanha crueldade. Para que mexer com a natureza? Por que não deixá-la quieta?''
Eu tive uma leve diversão nessa parte por causa do SIB 41, que é o sistema de inteligência da melhor nave dos militares. Ele me lembrou um pouco o Jarvis, sistema de inteligência do Homem de Ferro. Acho que ele poderia ter sido melhor explorado. Ah, a nave me remeteu à Nabucodonosor de Matrix e as roupas tecnológicas de Vitã e Helena - não pude evitar - imaginei como os trajes dos personagens de G.I. Joe. Foi algo bem legal (y)
A escrita é fácil em algum momentos, em outros não. Tem sempre uma fluidez, ao menos comigo. Consigo ler bem rápido, sem problemas, mas algumas falas são desnecessariamente longas. Outro problema é que alguns capítulos são bem curtos, outros são enooooormes. Foi difícil me pegar ao livro desse jeito, pois sou leitora por capítulos e minha vida tava muito complicada nessas últimas três semanas.
Um ponto fortíssimo: os vilões são críveis e bem utilizados. Chamam-se Hansemon e Lugaleshi. Aqui temos capítulos só com cenas dos vilões. Alguns escritores simplesmente não fazem narrações dos vilões, talvez por ser complicado manter a aura de maldade se você olhá-los bem de perto, mas aqui não tem isso. São odiáveis do início ao fim. Adorei. Já Vitã e Helena fazem umas burradas que me fizeram pensar '' ninguém bem treinado faria isso''.
Isso ficou desnecessariamente longo :o
Parte 2 - 171 a 331
Aqui já temos uma ideia melhor do que os vilões querem e um contato maior com Vitã e Helena. Já dá pra entender melhor pra onde tudo aquilo vai e conseguir se apegar à história. Se os clones trangênicos eram uma boa coisa nas primeiras 170 páginas, aqui todo o resto faz valer a pena. Temos mais dos vilões, temos mais dos mocinhos, temos meio que um romance investigativo misturado à distopia, ficção científica, história e fanatismo religioso. Foi meio que um híbrido de tudo isso que acabou dando certo. A adição da história de uma civilização anterior aos sumérios eu não esperava e curti muito.
Ah, esqueci. Vitã e Helena tem um clima bem, bem leve rolando entre eles. É meio que uma trama em quarto plano na história, mas há. Nas primeiras 170 páginas eu não achei o enredo do livro forte o suficiente pra dispensar um algo mais entre eles, mas apartir daqui toda a história ficou tão eletrizante que eu quase esqueci desse climinha.
As cenas de ação são muito bem escritas e as atitudes honráveis que eu fiquei esperando nas primeiras partes vêm todas de uma vez agora. É muito, muito bom. Tô com medo de contar demais, então acho que paro por aqui. kkkk
'' Você ironiza! Seu império é sanguinário. Não vê que eles adoram deuses malignos e não ligam para a vida de inocentes? Estão fazendo tudo errado, como faziam os antigos. Saia desse meio enquanto há tempo!''
Enfim... é um livro com uma temática incrível e que daria um enredo de filme de sci-fi de tirar o fôlego, com as modificações corretas. Ainda acho que faltou um personagem ''alívio cômico''. Eu recomendaria para qualquer fã de sci-fi, especialmente pelo autor ser brasileiro. Foi um dos livros nacionais mais bem escritos que já li, principalmente por ter um tema e ser de um gênero mais sério e complicado.
Ok, agora acabei. Espero que tenham curtido.
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http://oclubedameianoite.blogspot.com.br/2014/06/resenha-amazonia-arquivo-das-almas-paul.html