Leonardo 17/11/2012
O livro "Junky" é um conjunto de drogas que se misturam numa seringa, se agitam, e o resultado é uma obra-prima. O livro, escrito por um dos maiores escritores norte-americano do séc. XX nos leva, por vezes, também à dependência. Um romance onde a escrita assume a sua forma mais bela: o caótico e a anarquia são o ritmo, a estrutura de toda a narrativa. Repleto de ações, o livro "nos prende", capta a nossa atenção. Nenhum autor se compara a William Burroughs, encarnado em Bill, no que toca à descrição de todos os contornos das drogas.
A personagem "Bill" é um espelho e um retrato da vivência de William Burroughs enquanto toxicodependente. O "tio Bill" como muitos carinhosamente o chamam, experimenta várias dessas casas de recuperação, vive várias experiências sexuais e se redescobre constantemente. Esta personagem se transformou num mito para todos os amantes da droga. É um ídolo que representa várias facetas dos viciados. "Bill" se descobre e justifica o porquê de se drogar. Como diz: "O gozo é ver as coisas de um ponto de vista especial, libertarmo-nos da carne envelhecida, assustada, prudente e incomoda."
Só a droga faz esse efeito de nos fazer compreender, observar e analisar a realidade de outra forma. A droga é a única substância que nos consegue libertar de todos os dogmas gravados na nossa mente, permite-nos viver livremente, embora dela sempre dependentes. O desejo da imortalidade, da ausência de dor e mesmo o "apagar" de todas as questões existencialistas é o que procura "Bill" em toda a sua vida. Esta vida de paradoxos em que todos vivemos é uma agonia, no entanto, "Bill" continua a sua descoberta por algo diferente.
O mesmo não se pode dizer do seu criador, William Burroughs, que já não existe enquanto pedaço de "carne envelhecida", contudo permanece nas suas personagens ficcionais.
Nessas personagens podemos absorver a visão especial de um viciado e abandonar finalmente o preconceito em relação às drogas e à sexualidade, pois tudo o que desconhecemos tendencialmente rejeitamos.