Larissa | @paragrafocult 20/09/2019
"O medo se impôs novamente, esgueirando-se como fumaça através de seus vazios - agora pareciam existir muitos vazios nele."
O autor Stephen King é uma máquina de escrever livros e isso não é novidade para nenhum leitor que conhece as suas obras. Conhecido como o maior autor com obras já adaptadas, com toda certeza você já se deparou com algum filme inspirado nele sem nem ao menos saber.
Li poucos livros dele ainda. Se for comparar ao tanto de coisa que ele publica desde os anos 70, quase que anualmente ele lançou ao menos um livro ou dois. Então coloquei na minha cabeça que leria todos os seus livros. Todos mesmo. Comecei com essa doideira na semana passada e esse foi o primeiro que li depois desse desafio que lancei para mim mesma (mas não é o primeiro livro dele que li na vida).O livro A Maldição foi lançado originalmente como A Maldição do Cigano. Você o encontra em sebos edições antigas com esse nome e foi lançado originalmente sob o pseudônimo do autor, o Richard Bachman, uma face do autor que possui uma crueza ainda maior em suas obras, uma aura mais pesada e psicológica.
A história gira em torno de Bill/William Halleck, um advogado bem sucedido e consideravelmente acima do peso que vive uma vida pacata e normal com sua esposa Heidi e Linda, sua filha de 14 anos. Sua vida era tranquila e o relacionamento com a esposa também, exceto talvez por reclamações raras dela sobre seu peso, estando preocupada com a sua saúde já que o mesmo comia muito e se cuidava pouco, já tendo sido alertado antes pelo seu médico.
O personagem Bill no começo do livro é completamente neutro. Não é ruim porém não inspira muita simpatia. Ama sua família e é cercado de amigos ricos que não parecem se importar muito com os limites entre certo e errado, coisas das quais ele finge não ver.Um dia, ao voltar para casa após uma saída, sua esposa decide tentar algo mais "quente" para apimentar o relacionamento. Como sempre fora uma mulher mais comportada e nunca tentara nada de diferente fora do quarto, Bill foi pego de surpresa enquanto dirigia, o que o fez perder completamente o foco na estrada, onde uma velha cigana atravessava calma e despreocupadamente sem se importar de olhar para os lados.
E é aí que a história realmente começa.
A cigana morre com o acidente e Bill, que deveria pagar pelo crime é absolvido pelo juiz que é um velho amigo. O policial que investigou o caso também ajudou para que isso acontecesse já que não pediu teste do bafômetro nem nada do tipo, afinal, era apenas uma cigana indesejada. E o livro deixa bem claro o quanto os ciganos são indesejados nas cidades quando chegam.
Quando está saindo do tribunal, um velho cigano com o que parece um câncer corroendo a ponta de seu nariz - marido da velha que falecera, talvez? Bill não sabe - para na sua frente e toca seu rosto de forma suave, dizendo apenas duas palavras: "Mais magro"...
Essas palavras apesar de o assustarem, logo são esquecidas e a vida segue. Até os números da balança começarem a diminuir drasticamente. Não demora para que perceba que o velho cigano lhe jogara uma maldição, o condenando a perder peso e ir definhando assim até a morte.O livro vai todo em um ritmo constante. Não achei que teve momentos encalhados e a escrita é bem característica do autor, onde vez ou outra o mesmo para para descrever um fato sem importância de forma mais detalhada sem deixar o tédio tomar conta. Adoro isso em sua escrita. Ele divaga em meio a acontecimentos tensos, deixando o clima mais pesado ainda.
O que mais me prendeu com toda certeza foi a clara mudança do personagem Bill no decorrer do livro. Vemos um cara tranquilo que amava a esposa se tornar um homem obcecado por sobreviver e que começa a nutrir ódio pela mulher, já que achava que a culpa era dela, afinal, ele não havia pedido para ela tentar fazer o que fez. Na verdade, ele começa a culpar não só a esposa, como também a cigana que atravessou para a morte ou até mesmo a sua família que deixara uma mulher tão velha vagar sozinha à noite. Nunca assumiu totalmente a culpa no que fez, achando assim, sua sentença injusta.Os personagens não são muito aprofundados mas isso não atrapalha a história, até porque não era necessário que soubéssemos de todos os detalhes da vida deles. Vemos que tanto Heidi quanto Linda amam Bill, o que faz a esposa tomar decisões precipitadas. Um personagem que amei foi o Ginelli, o único que acreditou em Bill e o ajudou na sua saga para encontrar os ciganos. Acho que por ter gostado do personagem que era um completo louco de princípios polidos e duvidosos, senti falta de um pouco mais de aprofundamento na história do mesmo. Só dele mesmo.
O final é surpreendente de uma forma muito boa. É bem ao estilo King e me deixou parada por um momento digerindo sobre o que realmente tinha acabado de ler. Foi um livro que devorei em pouquíssimo tempo e com toda a certeza o meu preferido do autor até agora.
Existe uma adaptação do livro do ano de 1996 mas ainda não assisti então não posso dizer se é tão boa quanto ou se é fiel a obra original. Vou assistir e venho contar para vocês.
site: https://paragrafocult.blogspot.com/2019/08/resenha-maldicao-de-stephen-king.html