Alessandro232 19/11/2023
Um épico da ficção científica como você nunca viu
Finalmente, depois de muito tempo, "Hyperion" é publicado no Brasil. Inicialmente, chama atenção sua estrutura narrativa peculiar inspirada em uma obra clássica da literatura inglesa, "Cantos da Cantuária" de Geoffey Chaucer - isso não é spoiller. Sendo assim, "Hyperion" começa com sete pessoas que não se conhecem que são convidadas para fazer uma peregrinação até um misterioso planeta chamado "Hyperion". Eles têm a missão de tentar descobrir que acontece neste lugar, onde ocorre estranhos fenômenos relacionados com uma estranha criatura mítica e perigosa.
Sendo assim, enquanto eles estão indo para Hyperion, os peregrinos começam a contar histórias, que podem ajuda-los a entender o que acontece nesse planeta e ajuda-los a enfrentar a criatura que habita nele. É partir daí que Simmons demonstra sua maestria como escritor. Cada uma das histórias desses personagens têm um estilo narrativo diferente, tais como: o relato de viagens, narrativa policial de suspense/ mistério e terror gótico.
Simmons também estabelece uma relação intertextual com as obras do poeta inglês romântico John Keats - um poema épico de sua autoria é chamado "Hyperion" e está relacionado com a trama do livro de Simmons. O autor também em muitos trechos de "Hyperion", nos quais são descritos os cenários naturais do planeta, emula o estilo de escrita e Keats, dando a eles uma conotação poética. Como se não bastasse isso, Simmons também faz com que Keats participe da trama, de maneira inesperada e surpreendente.
Também gostei muito como o livro gradativamente assume uma dimensão épica. Ou seja, "Hyperion" é um épico de FC bastante complexo. Assim como outras obras de FC, em "Hyperion" há ênfase na construção de outros mundos. O autor descreve detalhadamente a geografia dos planetas, costumes e culturas de diferentes povos e equipamentos tecnológicos fazendo uso de neologismos. Também em "Hyperion", Simmons explora muito bem temáticas recorrentes no universo da FC, tais como fanatismo religioso, ecologia, a colonização de planetas, ideologias políticas, -neste aspecto, o livro se aproxima de outro épico de FC, "Duna". Mas, em "Hyperion" é a temática da Inteligência Artificial que se destaca e ganha novos contornos, com uma exploração diferenciada, inovadora e até mesmo com pinceladas filosóficas.
"Hyperion" um livro fascinante. É sem dúvidas, por suas qualidades, uma das obras mais importantes da literatura fantástica do século XX. Fiquei mais empolgado para ler sua continuação "The fall of Hyperion" que me parece tão boa como o primeiro livro.
Comentários sobre a tradução "Hyperion":
Reconheço que traduzir uma obra como essa não uma tarefa fácil, principalmente os neologismos criados por Simmons para se referir às invenções tecnológicas. Nisso, o tradutor Leonardo Alves se saiu muito bem. No entanto, algumas escolhas de Alves para mim são polêmicas. Traduzir o nome do monstro mítico (Shrike, no original), como "Picanço" me pareceu um tanto forçado. Também "Ousters" - algo mais próximo de bárbaros para "desterros" não me parece ter sido uma boa escolha e dificulta a compreensão do termo original. Mas, o pior é "jagunços" - me veio na cabeça a imagem de homens vestidos de couro, com facões na mão! Felizmente, isso não prejudicou a minha leitura até agora a melhor de FC/ Fantasia de 2023. "Hyperion" demonstra a genialidade de Dan Simmons, um autor com um estilo muito envolvente e peculiar de escrita, cujas obras inéditas deveriam ser publicadas no Brasil. Do mesmo autor, recomendo "O Terror" outro bem interessante e muito assustador que saiu em uma edição da editora Rocco.
Sobre a edição publicada pela Aleph: é capa dura, com folhas amareladas. A imagem da capa para mim não combina com a obra. Achei muito feia. Teria sido melhor publicar o livro com a capa da edição americana, que chama mais a atenção.
A Aleph também optou por colocar o texto de apresentação de "Hyperion" no site. Sendo assim, ele somente pode ser lido por meio QR Code.