spoiler visualizarmaurenrigui0 20/08/2024
(?) ?tinham aprendido que não se pode evitar o inevitável.?
Quando eu li a primeira frase de ?A casa dos espíritos? dentro do ônibus abafado por volta do meio dia enquanto voltava da faculdade, eu logo soube que ele seria um dos meus livros preferidos. Agora, após ler o último parágrafo, eu não imaginava que ele se tornaria o meu livro favorito tão rapidamente. Isabel Allende consegue condensar muitas das coisas que me regem enquanto ser humano nessa vida. Karma, ancestralidade, perdão, família, espiritualidade, amor, dor, ego. Os temas que ela trabalha ao longo das páginas conversam comigo de uma maneira muito íntima. Ela constrói personagens humanos e complexos dos quais torna-se impossível não se envolver. Ao longo dos capítulos, eu constantemente sentia vontade de xingá-los, abraçá-los, esbofeteá-los, cuida-los, ouvi-los, às vezes tudo ao mesmo tempo. Impossível não se encantar pela Clara e todas as suas excentricidades, pela sua força que em muitos momentos me lembrou as mulheres de minha família. Gosto muito de Blanca e mais ainda de Alba, na verdade todas as mulheres do livro me encantaram e me remetiam profundamente às mulheres da minha vida e de como a nossa energia é poderosa. A presença dos espíritos também foi algo que mexeu muito comigo nessa história, assim como a forma como a autora abordou a ditadura militar. A forma como ela descreveu perfeitamente a formação de um golpe de estado me deixou toda arrepiada, pois parecia que eu estava lendo um livro sobre história da América Latina. Me enchia de dor também perceber que nós, latino americanos somos atravessados por esse evento e seus espectros, que de alguma forma também determina como nos posicionamos no mundo. Os trechos de tortura me enchiam de tristeza, mas consolidavam ainda mais dentro de mim a importância de nunca deixar que a sociedade esqueça ou menospreze as atrocidades desse período, mesmo com tantos esforços para se estabelecer o contrário. Minha relação com Esteban Trueba foi muito, muito complexa, e em alguns momentos, mesmo cheia de raiva de suas atitudes duvidosas e inescrupulosas, me via profundamente tomada de pena daquele homem de alma encolhida, o que me fazia pensar também em pessoas da minha família, e ficava chocada novamente com o poder de Allende de trazer tanta humanidade para seus personagens. E penso que ser humano é isso, é ser contraditório. E a vida também é isso. Viver é ser surpreendido quando você menos espera, é precisar engolir seu ego, seu orgulho, é ver coisas e ideias que você sempre defendeu se virando contra você, é perceber que tudo está conectado e que no fim somos apenas um só, e além disso também estamos conectados a algo muito maior do que podemos imaginar e por isso a vida é, acima de tudo perdoar, perdoar e perdoar. E também amar, é claro. É apenas isso que permite a capacidade de perdoar.