Anne 01/12/2021
Apocalipse pandêmico no séc XXI, aos olhos de 1912.
Escrito em 1912, Jack London cria, a sua própria maneira, um futuro pós apocalíptico para 2012.
Professor Smith (ou Granser, como é chamado por seus netos) é um professor universitário, classe média alta, culto, que faz parte da classe dominante de sua época, o ano de 2012 criado pelo autor; quando do dia para a noite, o mundo é pego pelo caos.
No início, surge uma notícia de uma peste, do outro lado do mundo. Ninguém dá atenção. Todos confiam plenamente na ciência. Um momento depois, centenas de pessoas infectadas morrendo aos milhares nas ruas. (Lembra algo?)
O livro é sensacional pela forma como o autor discorre sobre o contágio e suas consequências. Uma vez as regras quebradas, a sociedade se permite à degradação extrema, violência, falta de compaixão, egoísmo. Mas, mesmo diante disso, o autor faz questão de registrar cenas onde indivíduos abraçam a morte para não abrir mão de seus entes queridos.
O professor Smith foge e luta da forma como pode para sobreviver a peste que mata quase que instantaneamente após o aparecimento do primeiro sintoma: a pele do doente fica completamente rubra, até seu falecimento, em minutos ou no máximo, poucas horas. Em sua jornada, ele assiste a degradação da sociedade, seu desaparecimento, e o retroceder de toda a civilização até a idade da pedra, quando nem a pólvora ainda era descoberta. A natureza avança sobre a cidade até não restar mais nada, e a nova sociedade que surge dos pouquíssimos sobreviventes, é uma sociedade extremamente selvagem, em sua maioria estúpida, salvo o neto do Sr. Smith, que se mostra muito diferente dos demais, extremamente inteligente e audaz, apesar de ser ainda, um selvagem.
Um ponto interessante é a crítica feita pelo autor, sobre a marginalização da sociedade. Aqueles que eram tratados como escória, como esperado, são os que ajudam a destruir o mundo conhecido até então, queimando tudo até as fundações, se aproveitando das oportunidades para se fazer valer, para sentir o poder nas mãos, mesmo que por instantes.
Um erro grave na leitura foi a total falta de uma voz feminina. Em todo o decorrer da trama, não se fala de uma personagem mulher que tenha o mínimo de participação satisfatória. Pelo contrário, as poucas retratadas foram tratadas como coadjuvantes (nem isso) fraquíssimas ou simples procriadoras. Era o claro mundo feito para e pelos homens. Não fosse isso, receberia nota máxima na avaliação.
No mais, é uma ótima leitura, mega relevante e que concluo com muitas reflexões, como toda boa leitura deve ser.