Junior.Archanjo 17/06/2024
Prática dodiscente transformadora
Este foi o último livro da obra de Paulo Freire, escrito apenas dois anos antes de sua morte em 1997. Aqui, o autor sintetiza muitas das suas ideias desenvolvida por anos de estudos teóricos e práticos no âmbito da educação. Falo sobre seus estudos teóricos e práticos, já que para ele "não há docência sem discência".
O processo evolutivo da nossa espécie é, sobretudo, sobre aprendizados e conhecimentos; ao perceber que aprendemos, podemos também ensinar o que aprendemos. Ensinar é uma comunicação dialógica, existe travessia, não é monólogo ou depósito de conhecimento. Estar no muno é interagir com ele constantemente, idealmente de forma crítica e não ingênua; para isso é importante a superação de uma curiosidade ingênua para o que é chamado por ele de curiosidade epistemológica. Os seres histórico-sociais são capazes de comparar, valorar, intervir, escolher, dedicir ou romper a realidade, o que torna-os seres éticos. Apenas são por estarem sendo. "Estar sendo é a condição, entre nós, para ser". Pensar certo demanda profundidade na compreensão e interpretação dos fatos, além de permitir a possibilidade e o direito à mudança de pensamento a partir da reflexão crítica. Pensar certo exige autoobservação e a coerência entre o que se pensa e como se age.
O inacabamento é próprio da experiência vital humana. A identificação da sua incompletude dá ao sujeito o poder (e até o dever) de buscar desenvolver novos conhecimentos, estar aberto a aprender. A criação da linguagem e da comunicação é o que cria o mundo. A partir disso não é possível existir sem assumir o direito e o dever de estar no mundo.
Paulo Freire é capaz de instigar em mim o poder da Esperança.. ao separar a cultura da natureza humana, a linguagem, as relações sociais e a ideologia são construções do indivíduo sujeito ao mundo, e o reconhecimento desta sua condição instiga a possibilidade de sujeito histórico-cultural, aquele que existe na realidade e por meio da sua ação é capaz de transformá-la. Paulo Freire, apesar de ser muito mais que isso, é, sobretudo político e, condizendo com sua teoria de assunção cultural, expõe sua ação neste âmbito, estudioso marxista que era, utiliza do debate de luta de classes, do discurso do neoliberalismo que estava emergente já naquele tempo e termos como professor progressista, desenvolvimento econômico e globalismo para debater suas ideias.
A cultura nasce da comunicação, do contato afetivo entre os seres humanos (incluindo aqui a relação entre professor e aluno) e por isso seu projeto de educação é popular. Seu ambiente, família e comunidade são fatores importantes no processo de formação daquele sujeito, assim como a escola e a educação em que é submetido, uma educação conservadora dos status quo, aquilo que já está dado, geralmente servindo ao interesse das classes dominantes ou uma educação libertadora, que promove a ação em comunidade em torno de objetivos ou sonhos comum.