Tainá 23/10/2020Isso não é uma história de amor, pelo amor de deus!!!!Recebi esse livro ano passado através da parceria que tinha com a editora, li e não curti. Fiz a resenha no instagram (colada logo abaixo) e deixei de lado.
Hoje vi que ele é finalista do Jabuti e voltei a pensar sobre ele, acho que quase um ano depois os problemas dele me parecem ainda piores. Como não vejo quase ninguém ressaltando essas questões senti necessidade de colocar aqui, já que com a indicação ao prêmio mais gente vai buscar saber mais sobre esse livro.
"O último livro que eu recebi da parceria com o @grupoeditorialpensamento foi "A filha do Reich" do autor brasileiro Paulo Stucchi publicado pela @editorajangada E, infelizmente, não foi uma experiência muito boa.
Primeiro a sinopse: Hugo Seemann é um publicitário que mora em São Paulo e sua vida seguia a rotina acelerada de sempre quando, em uma véspera de natal, ele recebe a notícia da morte de seu pai, Olaf Seemann. Ele então retorna a casa dele na Serra Gaúcha e se vê em meio a um turbilhão de acontecimentos que foram desencadeados há muitos anos, quando Olaf era um jovem soldado do exército nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
É uma leitura dinâmica, com capítulos curtos que alternam entre Hugo em 2006 e Olaf em 1943. Vamos descobrindo junto com Hugo a real história de seu pai e a motivação para o que começa a acontecer com Hugo desde o enterro.
Mas vamos a alguns dos principais pontos que não me agradaram:
Hugo tem uma fixação chata no fato de Valesca (uma personagem importante na história) falar palavrão. Na primeira vez que eles se vêem ele diz que ela é vulgar e petulante só por causa disso. E esse assunto retorna a cada 5 páginas. Senti que isso era inútil para trama e serviu apenas para reforçar a visão machista de que mulheres não podem falar palavrão, pois devem ser "delicadas". E esse é um exemplo de alguns machismos presentes na história.
Mariele Goldberg, uma personagem central no enredo, é uma judia sobrevivente de um campo de concentração que opera alguns milagres. Mas na tentativa de colocar ela como alguém tocado por Deus, ela se torna uma personagem completamente plana.
Ao longo da leitura vê-se uma preocupação em mostrar Olaf (um soldado nazista que fez coisas horríveis) como uma pessoa complexa que carrega traumas por causa de tudo que viu e que foi obrigado a fazer. Mas isso não acontece com Mariele que, apesar de tudo que sofreu, tem poucas sequelas psicológicas. Inclusive a violência sexual que ela sofre parece ser usada somente como uma ferramenta para motivar Olaf a mudar de atitude.
Enfim, meu sentimento foi que em alguns momentos o autor tratou de uma forma um pouco leviana assuntos muito delicados, como o Holocausto e a violência sexual contra mulheres. E por causa desses fatores eu não consegui me envolver com o mistério e acabou não sendo uma leitura proveitosa.
Mas pode ser que seja um thriler interessante para outra pessoa, não é mesmo? Cada um tem uma experiência diferente, de acordo com suas vivências anteriores, expectativas e gosto pessoal né?"
Hoje em dia, seria menos polida ao destacar o machismo presente em toda a obra e como a própria premissa do livro é problemática.
Acho bacana mostrar os conflitos de um soldado nazista e colocá-lo como um personagem complexo, óbvio. Mas quando isso acontece às custas da vítima da violência que ele cometeu, já é outros 500. A mulher judia que sofre violências imensas num campo de concentração nazista (inclusive estupro coletivo) não tem nenhuma personalidade além de ser uma tão pessoa pura e boa que faz até milagres, ela chega a falar num tom benevolente que o sofrimento pelo qual ela passa era a "vontade de deus". Não dá pra engolir isso!
Sinceramente eu espero que o livro escrito por uma mulher vença o Jabuti nessa categoria e não esse que tem um desenvolvimento tão questionável e problemático.
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