Felipe 21/03/2021
Foi no dia 18 de setembro de 1950 que ocorreu a inauguração oficial da televisão brasileira. Na década de 1960, as novelas que comumente eram transmitidas em rádios passam a ser exibidas na televisão. Naquele decênio, Dias Gomes lança “O Bem-Amado”, uma peça teatral que deu origem à primeira novela exibida na televisão em cores brasileira.
A peça irá nos contar uma história do município de Sucupira após o coronel Odorico chegar ao poder. Antes desse evento, a cidade baiana não possuía cemitérios, o que causava grande indignação em seus habitantes, que precisavam se deslocar a outros municípios para enterrar entes queridos. E foi essa indignação a responsável pela ocupação da prefeitura por Odorico.
Chegando lá, Odorico torna a construir o cemitério. Tal atitude poria fim aos problemas da cidade? Definitivamente não. A população de Sucupira passou a se queixar do descaso da prefeitura em relação a outras prioridades, no caso a luz e a água. Para completar, não havia ninguém a ser enterrado no cemitério.
Algumas peças costumam exigir maiores esforços do leitor. A leitura de “O Bem-Amado” foi bastante simples. A sua conclusão requereu poucas horas para mim, e eu sou um leitor bem analítico. E um dos fatores mais decisivos para isso esteve no emprego de uma linguagem descomplicada.
Na década de 1930, ocorre a consolidação das propostas modernistas no Brasil, as quais foram engendradas no estado de São Paulo no decênio anterior. O movimento passou a extrair da cultura popular elementos para a concepção de novas obras. Nesse contexto, o falar dos habitantes torna a adquirir uma representatividade cada vez maior em suas produções.
Com o passar do tempo, o Modernismo passou a marcar presença em todas as regiões do país. “O Bem-Amado” foi uma obra pertencente à terceira fase da escola, e a representatividade concedida ao falar dos habitantes de Sucupira fizeram dessa peça uma obra bem simples de ser lida.
No período em que a obra foi escrita, o Brasil passava por grandes mudanças no cenário econômico. Todas as forças políticas defendiam a modernização brasileira, divergindo apenas quanto ao caminho para alcança-la. Contudo, mesmo em meio a esse cenário era possível constatar uma permanência de estruturas sociais contrastantes, como por exemplo a convivência do tradicionalismo rural com os avanços modernizadores do meio urbano.
Naquele contexto, a televisão passa a representar o principal veículo de comunicação de massa em território nacional e a imprensa adquire uma importância crescente no país. Antes da chegada de Odorico à prefeitura, acreditava-se na inexistência de uma necessidade de haver uma imprensa em Sucupira, tendo em vista a escassez de problemas que a acometiam.
E é em função do surgimento de novos problemas que a imprensa se volta contra ele. Odorico previsivelmente se incomodou com isso. Ele se queixa da situação, alegando que desde o princípio ela foi contra a construção de cemitério.
O município de Sucupira, na realidade, não existe fora da ficção. Acredita-se que a sua criação tenha sido inspirada na ilha de Itaparica. Sucupira constitui uma representação do Brasil tradicional e nela encontramos personagens portadores de um estilo de vida semelhante ao de habitantes das cidades interioranas do nosso país. Também vemos em Sucupira a ilustração das relações de poder presentes nas pequenas cidades brasileiras, a exemplo do Coronelismo e a ocupação de cargos públicos e da influência das famílias oligarcas sobre processos de decisão políticos.
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