spoiler visualizarhlechar 08/02/2024
Você sempre pode refletir
Resolvi fazer essa releitura e foi surpreendente. Eu já conhecia o diário de Bridget Jones, a fluidez e desenvoltura textual, já conhecia a vibe de comédia romântica com uma protagonista insegura e atrapalhada.
Mas eu não me lembro de ter refletido e questionado tantas coisas na primeira vez que li este livro. Muito menos quando assisti o filme.
Consegui tirar dessa leitura reflexões sobre o corpo feminino e a pressão para atingirmos um padrão inexistente. Engraçado como é uma discussão atual, não?! Acompanhamos Bridget por um ano e não há um dia em que ela consiga ter uma relação positiva com o próprio corpo, por ser considerada acima do peso. Não apenas por se comparar excessivamente, mas por ouvir de muitas pessoas próximas comentários desagradáveis sobre o seu corpo, seu peso, sua aparência. Atual, não?! Principalmente se considerarmos o comportamento dela, a obsessão pelo peso, compulsão e culpa.
Refleti também sobre a obrigação de ter um parceiro, um relacionamento para ser uma pessoa respeitável, para ser uma pessoa que "tem valor" perante os demais. Também pensei bastante sobre o quanto essa pressão não contribuí para que aceitemos pessoas e relacionamentos que não nos cabem, como o relacionamento entre Jones e Daniel.
Inclusive o relacionamento de Jones e Daniel remete a muitos relacionamentos que tive ao longo da vida, acredito que muitas mulheres se identificam com pelo menos um detalhe, uma situação. Um homem egoísta que claramente não quer estar num relacionamento, mas quer os benefício de um. Daniel é o retrato do clássico cafajeste, do homem infiel, que diminui a parceira, é instável e que vem com aquele sentimento de "vou morrer" quando estamos numa montanha russa. Na terminologia atual, um boy tóxico.
Bridget Jones fala sobre a maternidade e o peso que advém dela, sobre problemas conjugais e sobre a perspectiva de uma mulher, do lar, que entende que nunca terá a sua aposentaria, o seu descanso e decide se reconectar com seus desejos, ambições e não se envergonha disso.
Li algumas avaliações anteriores que questionam o desenvolvimento do romance entre Bridget e Darcy e eu posso dizer que é realmente fraco, lento e pouco nos comove. Mas, humildemente vou dizer aqui que pra mim, e apenas pra mim, Bridget neste livro, está nos mostrando outras coisas que transcendem o romance. É um recorte de uma mulher, de uma geração e de problemas que carregamos até agora.
Boa leitura.
Boa reflexão.