Mauricio 12/11/2021Contos poéticos psicodélicos e viagens literáriasClarice Linspector consegue fazer poesia sobre fatos ou situações do cotidiano, como uma menina sentada na calçada vendo passar um cachorro com seu dono entre outras.
Ao narrar esses fatos e situações corriqueiros, ela vai entrando no íntimo dos personagens, como se o personagem estivesse mergulhado em pensamentos e vertigens, uma coisa meio alucinógena até.
Há vários elementos da filosofia em seus textos, onde ela busca o sentido metafísico, a real existência das coisas, animais e pessoas, não sei se é exatamente essa a definição mas fica aqui a minha compreensão. Um exemplo é o conto do ovo, em que ela se aprofunda nas mais diversas formas e sentidos do que é ser um ovo.
Em muitos contos ela faz questão de dar vários sentidos às mensagens, as vezes uma situação ou personagem representa outra coisa na realidade e deixa para que o leitor faça as suas análises e interpretações.
Ela é muito atraída pelo imperfeito, pelo que não é convencional ou o que se julga ser o moralmente aceito pela sociedade, tem muitos traços do feminismo e da valorização da mulher.
Alguns contos, de tão psicodélicos que são, acabam sendo de difícil compreensão e acabam deixando uma grande lacuna no final, que, penso eu, poderiam ser melhores explorados e finalizados, mas, sabendo-se que ela era uma escritora muito exigente consigo mesma, penso que tudo foi escrito de forma intencional e o entender Clarice Linspector através dessas lacunas e alucinações, seria o grande legado deixado pela autora.