Nathalia 10/04/2022
Felicidade Clandestina, Clarice Lispector.
Em Felicidade Clandestina, Clarice - uma observadora da vida- fala da existência de um modo tão poético, profundo e tão seu que, em alguns momentos, podem até nos causar certo desconforto e confusão, de modo que cada um dos seus contos precisam ser lidos mais de uma vez. A beleza de Clarice, entretanto, está justamente no não entender, no sentir, no mergulho em nós mesmos convidado pela imersão em suas palavras.
Na coletânea, o cotidiano, vivenciado por pessoas comuns, seres corriqueiros, muitos invisíveis e esquecidos ou incompreendidos por todos, toma rumos inesperados, que criam nos personagens momentos intensos de enfrentamento da vida e de seu interior que terminam por mudá-los por completo.
Ela trata, de forma geral, de muitos temas - o amor, a morte, a escrita, a maternidade-, mas percebi um certo fio condutor que os une: o amadurecimento e a dor que ele causa em nós. Muitos dos seus contos tem como protagonistas crianças em seu processo de descoberta e amadurecimento, todas elas em contato com a angústia de crescer e se interrogar acerca de si mesmas e do mundo onde vivem. Fugindo dessa tendências, seus personagens adultos tinham em si algo de criança, de alguém que descobre o mundo ou uma parte dele que antes não era vista ou concebida.
Terminando minhas divagações, posso dizer que ler Clarice Lispector pela primeira vez dispertou em mim emoções fortes mesmo quando eu não conseguia entender tudo o que ela dizia no texto. Mais do isso, ao me levar sempre a me interpelar sobre as minhas supostas certezas, me lembrou em cada página as razões pelas quais eu amo e sempre amei a literatura