spoiler visualizarMiguel 02/08/2019
Ética da escuta radical
Por Will Goya
Este é um livro sobre o amor. E a coisa mais importante que aqui se pode aprender é o caminho para além de si mesmo, vencendo as sutilezas da vaidade e de perto escutar profundamente o que a existência do outro tem a ensinar. Trata-se de uma imensa capacidade de compreender o outro e de se colocar no lugar dele, o máximo que cada circunstância permite. Há um nome mais bonito para isso, ou seja, um verbo erguido no coração da vida, pois só existe nos conflitos pulsantes do encontro. Esse conceito talvez melhor se traduza na ciência do cuidar, que se constitui, a meu ver, a razão máxima de ser da ética: amar o próximo, a outridade, como a si mesmo.
É um livro – supondo que seja um livro – sobre Filosofia Clínica e se mostra antes como uma atividade terapêutica do que como doutrina ética, embora seja uma obra provocativa e também pretenda suscitar importantes discussões éticas e epistemológicas sobre as infinitas diferenças pessoais da condição humana. Estas páginas intentam caminhos de concílio tanto para psicoterapeutas e especialistas no assunto, quanto para estudiosos em geral de filosofia, psicologia, antropologia, psiquiatria e ciências humanas afins. Assim, procurei escrever algo entre o acadêmico e o poético, permitindo-me, inclusive, algumas singularidades linguísticas. Desse modo, a filosofia cumpre sua função basilar, qual seja: ajudar as pessoas a pensarem por si mesmas ou, mais especificamente no caso da Filosofia Clínica, pensar em como ajudar as pessoas sem jamais pensar por elas.
Com alívio, há outros livros mais didáticos sobre o funcionamento da clínica filosófica, embora nada substitua uma sólida formação terapêutica, com estágios supervisionados a orientar as delicadezas da prática. Esforcei-me, nesse sentido, para evitar repetições desnecessárias sobre o tema, sem renunciar à busca por novos horizontes. Sem dúvida, o leitor que previamente já conheça o assunto saberá melhor as profundidades e as críticas devidas. Essa é uma das maiores belezas trágicas da vida: à linha do horizonte todos, fortes e fracos, pequenos e grandes, lépidos e vagarosos, teremos sempre a mesma exata distância a percorrer. Afinal, o mais próximo que alguém pode se aproximar do horizonte, por mais que avance, termina sempre recomeçando o dia. Quem queira ir mais longe, que acorde mais cedo.
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