rowan 10/04/2023
"o quarto de giovanni", por james baldwin
entre reminiscências chorosas e nostálgicas sobre um jovem com uma mãe morta que já não tem mais capacidade de se lembrar além dos esporádicos e lamuriosos pesadelos, somos introduzidos diretamente à história do david-zé-ninguém, um filósofo sofredor americano, em negação pelo seu desgosto ao gosto do próprio cerne confuso que, quando reflete, ao presságio dos sete mares, forma-se um bolo na goela; o bolo, podre, tem gosto de ferro enferrujado. algo análogo. analogias engraçadas.
no livro, dá a entender que david não se conhece, e caso se conheça, evita saber todos os fatos de seu auto-conhecimento. uma aversão aflita que o dá vertigem, saber que é o que é, que gosta do que gosta, e que não tem nada que possa fazer pra mudar isso. o david, um gay americano e noivo, entre tênues aspas, de uma linda mulher que por acaso não tá do lado dele dos anos 50 que encontra um barman e se apaixona por ele e sentir o sentimento de dor, que dói, e dói, e dói, e dilacera e rasga e arranca e atormenta ao sentir os olhares julgadores que riem e gargalham e cospem e engasgam e se jogam no chão de tanto chorarem de prazer ao ver um filósofo sofredor, o david, um gay dos anos 50 que gosta de um barman que por acaso morre. é um sentimento terrível, pois é.
o livro é bom, quiçá moderno demais considerado a época. ainda existe o sentimento ferino e devastador de dúvida e antipatia a si mesmo de alguém que não se sabe quem é e em relação a todos os sentimentos que foram ou não foram sentidos. são sofrimentos em que a gente não pode lutar contra, mesmo depois de quase sete décadas depois, por conceitos preestabelecidos. a escrita tem suas nuances: é simples, é avassaladora, é leve, é melancólica, é. aos interessados, eu recomendaria.