Israel145 31/12/2015Moliére foi um dramaturgo e ator francês que viveu no século XVII, mais precisamente na corte de Luís XIV. Suas peças tinham um pouco de tudo: drama, tragédia e comédia, mas no geral, essa última se sobressaía. Em suas peças, Moliére satirizava a tudo e a todos. Sua pena desgovernada atacava a mediocridade da nobreza, a hipocrisia do alto clero, a incompetência da medicina e outras ciências etc. Em meio ao tiroteio, arranjou inimigos poderosos, tendo obras censuradas e tornando-se uma espécie de marginal intelectual da época. Suas obras mais conhecidas Don Juan, que foi censurada e O Doente imaginário o lançaram a um patamar nessa arte inalcançável para muitos, sendo reconhecido e representado até os dias de hoje. Faleceu sob circunstâncias misteriosas logo após encenar sua última peça, O doente imaginário.
Partindo da vida pessoal de Moliére, Rubem Fonseca reescreve um final diferente para o dramaturgo. Por meio das mãos de um narrador-personagem, um Marquês misterioso, amigo de Moliére e amante de sua esposa Armande, o moribundo dramaturgo revela num último suspiro que fora envenenado. A trama se desenlaça em torno da busca pelo assassino.
A primeira constatação que podemos tirar da leitura é que Rubem Fonseca (que não é tão bom romancista quanto contista) começa meio sem rumo, como se desse voltas e mais voltas em torno de personagens históricos, ultrapassados e sem graça metido com outros fictícios e sem sal numa trama que não decola.
A trama se arrasta pela narrativa do tal Marquês misterioso que reconstitui a corte de Luís XIV numa preguiçosa rede de intrigas em que o pecado maior é a grande quantidade de personagens que não empolgam. Saindo das ruas sujas do Brasil caótico tão bem retratado pelo autor nos seus contos célebres com amor, sexo e violência urbana, as ruas imundas da Paris do século XVII é mal retratada, ou retratada de maneira preguiçosa por Fonseca.
O final não empolga nem um pouco. A descoberta do assassino de Moliére não surge do encadeamento de pistas seguidas, mas sim de uma dedução a partir da obviedade do fato em si. Quando se termina o livro, não há a sensação de um clímax. A leitura simplesmente não decola.
Algo fantástico acontece com escritores brasileiros consagrados que tentam sair do lugar comum. No caso de Rubem Fonseca, esse livro traz um ar esnobe, de intelectualidade vazia, como se tivesse sido escrito só pra expor a cultura do autor. Esse ar blasé estraga o livro. Parece outro autor escrevendo. Não há o cinismo, o humor ácido, as paixões violentas consagradas pelo autor. Só uma trama chata que se desenrola preguiçosamente num passado muito distante, chato e mal representado. Verdadeira mancha negra na carreira do autor.