Miguel.Martins 27/04/2021
"Memórias de um sargento de milícias" é considerado um livro a frente de seu tempo. Apesar de se inserir no período do Romantismo, a obra antecipa algumas características do Realismo que ainda estava por surgir. O tom da narrativa lembra, inclusive, o de Machado de Assis, o maior representante da literatura realista nacional.
Sua semelhança com as obras realistas reside no fato de que Manuel Antônio de Almeida não se preocupa em narrar um "romance", no sentido amoroso, não foca na elite urbana e não apresenta personagens idealizados. Pelo contrário, a narrativa é cômica e irônica, com personagens que beiram a caricatura. Por baixo das piadas, revela várias mazelas da sociedade urbana carioca "no tempo do rei".
Foi escrito no formato de folhetim, como a maioria das prosas românticas do período, mas se diferencia destas por estar em constante diálogo com o leitor. O narrador não apenas conta a história, ele conversa com o leitor o tempo todo, como quem conta uma fofoca ou um "causo".
O único ponto negativo, a meu ver, é que a história não tem muito foco, o que acaba deixando a leitura um pouco arrastada. Como o título anuncia, o livro conta as memórias de Leonardo, da infância à vida adulta, passando por algumas histórias de personagens secundários. No fim, tudo se conecta, mas acho que o livro poderia ser um pouquinho mais curto.