legarcia 09/05/2022
Retrato do jeitinho brasileiro
?Memorias de um sargento de milícias? é uma obra escrita por Manuel Antônio de Almeida, um estudante de medicina aos seus 21 anos, com um processo de escrita muito espontâneo, assinada anonimamente como ?um brasileiro? em sua publicação em folhetins.
O livro, não obstante ser publicado em pleno Romantismo, rompe com muitas características dessa escola literária: os personagens da obra são redondos e mais complexos, tendo em vista os personagens romântico que costumavam representar apenas um arquétipo; o olhar do autor está para as aparentes banalidades e o cotidiano das camadas populares urbanas.
O romance retrata muito bem a vida vida do Rio de Janeiro no início do século XIX e algumas características brasileiras presentes na sociedade que perpetuam-se até os dias de hoje. Leonardo, por exemplo, é uma personagem carismático mas malandro e que expressa amoralidade, nunca tendo consciência sobre o certo e o errado.
Ao longo do livro, o personagem principal comete atitudes as quais prejudicam outras pessoas e seu padrinho sempre vê tudo de uma maneira mais branda e muitas vezes até positiva. Nesse sentido, Manuel evidencia o compadrio muito existente na cultura brasileiro, o qual ocorre a manipulação da ordem para conquista de algum benefício para a pessoa ou para seus protegidos. Isso ocorre quando tanto o padrinho quanto Dona Maria conseguem tudo para Leonardo, o qual é incapaz de resolver seus problemas.
O autor expõe um traço muito característico brasileiro: as relações sociais configuram-se à margem das instituições. Isso pode ser percebido em todas as dinâmicas do livro, sempre havendo um jogo entre ordem e desordem.
Apesar de explorar os problemas sociais da sociedade carioca, Manuel Antônio de Almeida, escreve com bom humor, o que agrega muita leveza à histórias, tornando-se impossível não soltar algumas boas risadas com essa história encantadora.
Por fim, recomendo muito a leitura desse livro de um autor que influenciou muito a literatura brasileira e, tão jovem, conseguiu adentrar um pouco o Realismo, movimento o qual firmou-se tempos depois, inaugurado por seu grande amigo e escritor: Machado de Assis.