rxvenants 24/02/2020Ela era resistência. Era rebeldia. (Resenha longa, oops)Pelo amor de deus, O QUE ROLOU??????
E vamos de favoritado.
Quero começar falando da escrita de Pelegrini que é INCRÍVEL.
Já falei isso no histórico de leitura, mas vou falar de novo: a história se passa numa época medieval, então a autora optou por uma escrita muito mais rica em detalhes e com pensamentos mais longos e apesar de eu saber da densidade desse tipo de escrita e até mesmo sentir o peso das palavras, NADA conseguiu impedir o fluxo de leitura.
O ebook tem mais de 500 páginas, mas é TOTALMENTE fluido. É detalhado na medida certa pra te envolver na época proposta.
Eu achei os personagens super bem construídos e deu para conhecer o tom de cada um já em suas primeiras aparições e falas. Não é fácil trabalhar com mais de dois pontos de vista sem repetir o tom dos personagems, mas aqui foi tudo perfeito. O modo de pensar de cada um é muito característico e dá pra saber suas motivações singulares.
No aspecto da história, eu tenho bastante coisa pra falar além de ela ser envolvente, interessante e com um final que me fez chorar litros.
É difícil ler esse livro e não tirar pelo menos uma mensagem importante.
Por meio de uma das épocas mais sombrias da humanidade, Camila aborda em Maldição dos Inocentes o tema de caça às bruxas de uma forma simples pra quem quer entender história e como isso pode ser ligado paralelamente ao nosso cotidiano: muitas mulheres eram jogadas na fogueira por não seguirem o padrão estipulado a elas.
Ela aborda a corrupção da igreja e como sua aliança ao governo pode ser perigosa, uma vez que o fio da fé move populações inteiras. Também fala sobre assuntos como amizade, a força pós dor, a ligação familiar e bichinhos sendo lindos (Fenrir você é TUDO pra mim).
Ela também fala (pelo menos eu interpretei dessa forma) como uma população não deve tratar um governante como salvação divina.
No final do dia, apenas nós, na base da pirâmide, sabemos como é segurar o resto. Eu achei importantíssimo quando Mikaela percebe que ela, em seu trono, nunca saberá como é viver e passar pelas mesmas coisas que os camponeses.
Existe o fator de mulheres sendo caçadas por serem diferentes e serem consideradas bruxas quando na verdade só são mais espertas que todo o resto e se propuseram a aprender coisas que outros não quiseram (Pietra com seus dons de "cura", que na verdade era só conhecimento sobre plantas e ervas).
Durian perseguiu Pietra e fez uma sociedade inteira se mover contra ela apenas para encobrir seus crimes quando ela esteve um passo a frente dele.
Ele é horrível, mas é o segundo melhor personagem (depois de Pietra e seguido por Nikolau) por seu tom totalmente real.
Às vezes, por se tratar de uma história mais ligada à fantasia (que na minha opinião não teve nada de fantasia, foi só uma realidade bem construída), pode parecer difícil ligar os atos de alguém como ele à pessoas reais.
Eu, na verdade, achei incrível como ele me lembrou de Elizabeth Báthory, uma condessa que também mantinha pessoas num calabouço para satisfazer seus desejos de psicopata (contudo, ela não conseguia não matá-los).
Pietra é o símbolo de força feminina e Nikolau a representação do que seríamos capazes por nossa família e como podemos sempre vencer nossos preconceitos.
Enfim, não quero me estender mais, mas eu achei as críticas de Pelegrini muito boas ao ponto de ela não precisar ser explícita para falar o que queria. Mesmo com algo subjetivo, ela conseguiu passar sua mensagem.
Eu simplesmente achei fascinante como Maldição dos Inocentes tem uma ambientação tão incrível que te mantém pensando nessa leitura por horas depois de já ter terminado o livro, absorvendo todos temas que ele aborda.
Um dos melhores títulos nacionais.