Cangaceiros e Fanáticos

Cangaceiros e Fanáticos Rui Facó
Rui Facó




Resenhas - Cangaceiros e Fanáticos


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Thiago Varjão 27/05/2016

“Cangaceiros e fanáticos” de Rui Facó, é uma dessas obras encantadoras que nos prendem a descobrir os motivos da decadência e empobrecimento das populações do Brasil, principalmente nos interiores do Nordeste. Estabelece um estudo, desde as Sesmarias, até o processo final de formação dos grupos armados e do levante de grupos messiânicos, desde a formação social do cabra (jagunço), passando ao cangaceiro e, por fim, chegando ao misticismo religioso que acompanha essa caminhada em diferentes regiões do Brasil, e exemplos não faltam, tal como: Canudos, Caldeirão (Crato) e até mesmo no extremo sul do país, em Santa Catarina, e os conflitos do Contestado.

Todo um problema criado a partir do grande latifúndio monocultor, principalmente o período açucareiro, sendo a cana o principal produto do Brasil naquele tempo. A cana movia o Brasil, a cana era o produto mais vendido para o estrangeiro, a cana era a riqueza da Nação e sustentava o Brasil, mas por curiosidade a região que mais produzia riquezas para o Brasil era também a mais pobre. Os principais fatores para a formação dos tipos são: ausência do Estado (que se fazia presente apenas para cobrar impostos), monopólio da terra, latifúndio, semi-feudos, semiescravidão, abolição da escravatura (que gerou um contingente de pessoas marginalizadas, excluídas e famintas) e, por fim e muito importante, a figura da Igreja Católica como provocadora da tensão. A arregimentação, principalmente as religiosas, era um grande empecilho por dois fatores: a Igreja perde seu poder ante a crença dos penitentes, o senhor de terras perde a mão de obra barata e semiescrava. A seca só vem a piorar tal condição.

Assim, as populações eram castigadas pela fome, seca, descaso do Estado, pelos senhores de terras (de engenho ou os coronéis) e pela figura da Igreja. Engraçado notar como em praticamente todos esses levantes a história se repete e o Estado diz combater grupos de fanáticos, quando na verdade são pessoas marginalizadas, famintas e esquecidas. Canudos, por exemplo, foi arrasada, lá se dizia ter um grupo de figuras que pregavam a volta do Império, no Caldeirão as famílias foram obrigadas a abandonar suas terras, pois a Igreja e os latifundiários da região tinham medo de ser ali uma nova Canudos. Imagine você cultivando comunitariamente seus viveres (plantas, animais, extração de alguns produtos para venda de óleos etc) e da noite para o dia ser expedida uma ordem de abandono do local, em uma terra que legalmente era deles, cedida pelo Padre Cícero (uma das principais figuras da obra) décadas antes de sua morte. Em Canudos se tinha o bombardeio de canhões Krupp vindos da Alemanha e comblains de última geração, e tudo foi dinamitado. No Caldeirão já se tinha a modernidade da Nação: metralhadoras e o bombardeio utilizando aviões, muito provavelmente um dos primeiros usos do avião como máquina de guerra, ou seja, técnicas de guerra contra famintos. A história se repete e o Estado de braços dados com a Igreja cometem sucessivos e massivos massacres contra os desafortunados. Desta época também surge o mandonismo e a formação do coronelismo que se estabelece durante décadas, e até hoje em algumas regiões existem tais figuras nocivas. Um livro que trata principalmente do Nordeste e seus problemas, mas curioso é notar que tais figuras se espalham por tantos cantos do país, como o Norte no ciclo da borracha, como no Sul com o Contestado, como levantes no Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, esses dois últimos sendo agraciados com um dos livros mais fantásticos sobre o tema “Grande Sertão: Veredas”, todos desbaratados na base do porrete, bala, bomba e fogo. Para quem se interessa vale a pena ler “Cangaceiros e Fanáticos” e ver como se deu a criação de lendas como Antônio Conselheiro, beato Lourenço, boi mansinho, Lampião, Padre Cícero, Corisco, entre tantas e tantas e tantas figuras do imaginário popular.
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Bruno 17/08/2015

Indispensável!
Leitura obrigatória para quem pretende conhecer sobre o cangaço, o fanatismo, o o banditismo, o coronelismo, as secas, a guerra de Canudos e os movimentos migratórios dos povos do nordeste.
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