Gente pobre

Gente pobre Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Gente Pobre


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Fábio 05/12/2011

“Lembre-se de que pobreza não é defeito”

Gente Pobre é primeiro romance de Dostoiévski e como todo gênio, seja o primeiro livro ou o último todos são bons. Mesmo sendo epistolar, conseguimos nos transportar para o cotidiano dos miseráveis, dos pobres, dos humildes em seu dia-a-dia na antiga São Petersburgo. O livro tem poucas páginas, mas com muito conteúdo, principalmente sobre a pobreza que sempre é acompanhada com doenças. Makar e Varvara, os dois personagens principais, tem em comum o bullying. Este sofreu na infância no internato, aquele sofreu no serviço militar.

Como é de praxe, nas obras dostoievskiana, neste livro também encontramos um pouco de filosofia, na qual, Dostoiévski mostra como os pobres são expostos. Em sua visão, os pobres são expostos justamente por serem pobres. Na mente da sociedade o indivíduo pobre não sente vergonha que sua vida seja explorada, verificada, sua casa seja vasculhada, que seu nome esteja na boca de todos que dizem: “Como ele é pobre..., o que ele vai comer no almoço...” isso é mentira, pois o pobre também tem pudor. Para exemplificar, ele diz que, às vezes, por uma pessoa fazer uma doação a um homem pobre, seja em dinheiro ou cesta básica, esse doador pensa que tem direito em vasculhar sua vida e de sair falando de como não encontrou nada na geladeira do miserável. O doador não está fazendo uma doação, mas, pagando para expor a pobreza de outrem. Até a caridade anda confusa, conclui o autor.

Não há como não concordar com essa hipótese até os dias de hoje, veja os inúmeros exemplos que temos na televisão. O Programa do Gugu, em seus quadros de doações, de ajudar o próximo, expõe totalmente a pobreza da pessoa, a miséria em que ela vive, com quem vive, mostra para milhões que assiste o programa, para conseguir unicamente audiência. Chama a cidade inteira pra ir ver a doação, para depois, como em um ato de caridade e bondade ajudá-la, dando casa, roupas, móveis. Isso é caridade? De acordo com esse livro não. O programa está pagando para expor (de uma forma sensacionalista) a vida dos ajudados. Todavia, ninguém que recebe está preocupado com isso, muitas das vezes, as pessoas são tão humildes que acreditam que o próprio Gugu seja o misericordioso, o homem caridoso, não se lembram que ele é apenas o apresentador. O Gugu nunca tirou dinheiro de seu bolso, quem paga é a Record com os patrocinadores, quem escolhe quem vai ser ajudado é a produção e direção do programa, ele apenas e unicamente apresenta o quadro.

Outra hipótese é sobre as roupas novas. Segundo o autor, compramos botas novas para os outros, não para nós, senão houvesse ninguém pra admirar nossas roupas novas, ficaríamos com as velhas. Contudo, como existem as pessoas para verem, se usamos roupas velhas, corremos perigo de perder a honra, de ser mal olhado na rua, de ser mal atendido em algum lugar...

CHEGA! Quanta informação, lições, aprendizado tem em um livro que nada mais é que uma coletânea de cartas. Tem pessoas no mundo que realmente estão a passeio, senão conhecem ou nunca leram nada de Dostoiévski!


Gláucia 05/12/2011minha estante
Nossa, que desabafo. Estava inspirado hein?


Alana Homrich 02/02/2012minha estante
Se eu já consegui aprender com tua resenha, imaginas com o livro? Pretendo lê-lo!


Alessandra 11/03/2012minha estante
Me deu vontade de ler este livro. Irei procurá-lo. :)


Gustavo 15/12/2012minha estante
Excelente comentário! Parabéns!


Laíza 08/05/2013minha estante
Não,não li,mas tua resenha me fez ter certeza que,sem dúvidas,este livro é perfeito!


Matuto 05/06/2018minha estante
Pqp, que resenha. lerei com certeza!


Edy Marques 02/01/2022minha estante
Que resenha foi essa? Muito boa, mano. Vou ler agora esse livro.


Valarini 07/01/2022minha estante
Perfeito! É mesmo assim a vida?


Natty 09/01/2022minha estante
Melhor resenha que li até hoje.Parabens


Joseana.Moretto 10/01/2022minha estante
Sua resenha foi de grande ajuda para melhor entender esta obra prima, obrigada.


Bruna Gomes 17/01/2022minha estante
Parabéns pela resenha, me fez pensar bastante na minha vida quando minha familia precisava de ajuda pra comer e todos sempre tinham pitacos para dá. fiquei com bastante vontade de ler o livro


Duana Rocha 17/01/2022minha estante
Foi meu primeiro lido de 2022 e concordo com tudo! E como sou da área de saúde oq me chamou muito a atenção foi a relação explícita entre pobreza e doença, seja alteração fisica ou mental. Um reflexão bem importante que até hoje é tão visível na sociedade e é uma das maiores dificuldades do nosso SUS.


Fábio 18/01/2022minha estante
Nossa gente, muito obrigado! Li esse livro e escrevi essa resenha a mais de 10 anos atrás. O Gugu até faleceu nesse tempo. Mas infelizmente ainda está cheio de programas assim. Bom, não vou modificar nada, pois é a impressão que tive quando li. Em tempos de pandemia acabou aparecendo outra desculpa para se vangloriar das doações: (...)precisa mostrar os pobres que estão recebendo, porque são "invisíveis" na sociedade. E, também, (...)preciso mostrar tudo que faço para os miseráveis como forma de incentivar outras pessoas a doares e serem generosas também...


tatiana.bergamaschicosta 12/06/2022minha estante
Maravilhosa resenha! Parabéns e obrigada!


phany 22/12/2022minha estante
bom demais! obrigada


Coelho 28/01/2023minha estante
Estava a passeio até agora kkkkk vou começar minha primeira leitura dele agora mesmo.


GabrielSPRJ 24/04/2023minha estante
Maravilhosa resenha, me pegou no pragmatismo dos dias e das horas. A exemplo de todas as vezes que fui marionete a serviço de uma instituição chamada audiência. Parabéns!! Esse livro expoe a necessidade de termos pudor até mesmo necessitando do mínimo para sobreviver por que privacidade é mais uma das necessidades humanas.


Edson 11/12/2023minha estante
Esse livro é multifacetado. Dá pra explorar tantas coisas nele.


Yasmin.Barbosa 15/02/2024minha estante
Uma resenha de 12 anos me fez não desistir desse livro, que estranhei por ser em formato de carta. Obrigada




Rosangela Max 04/04/2022

Interessante forma de representar a miséria humana.
Resumidamente, é a história de dois personagens pobres que, no intuito de tentarem se ajudar mutuamente, se tornam ainda mais miseráveis.
Dostoiévski, com sua especialidade no tema, mais uma vez retratou muito bem o estado da pobreza e a solidariedade dos pobres. Mesmo vivendo no infortúnio, ainda tentam ajudar uns aos outros. Seja com apoio financeiro ou com apoio moral.
Recomendo a leitura.
Carolina 04/04/2022minha estante
Eu entendo que o protagonista é sim financeiramente pobre, mas sua maior carência é a de amor. Ele se põe nessa situação de tentar ajudar a "prima" muito além das suas condições, pelo prazer de ter um laço afetuoso com alguém, para não estar sozinho.


Rosangela Max 05/04/2022minha estante
Isso vale para os dois protagonistas. Eles tentam se suprir emocionalmente também, na medida do possível. ??


JurúMontalvao 05/04/2022minha estante
?interessante. já add na minha wishlist ?




Flávia Menezes 15/01/2024

??SE UM DIA OCÊ SE LEMBRAR, ESCREVA UMA CARTA PRA MIM...?
?Gente Pobre? é o primeiro romance do escritor, filósofo e jornalista do Império Russo, Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, que foi escrito entre os anos de 1844 e 1845, e publicado em janeiro de 1846, quando o autor tinha apenas 24 anos, revelando em suas páginas uma maturidade espantosa.

Com uma narrativa floreada própria da época, o romance é escrito em formato de cartas, onde um funcionário de meia-idade se corresponde com uma jovem costureira que mora próximo a ele, compartilhando um com o outro os pequenos acontecimentos diários de suas vidas sofridas, trazendo reflexões de suas individualidades que a miséria torna tão insignificante.

Dostoiévski era um leitor voraz, e estava tão instigado e envolvido por essa nova tendência literária do realismo russo, que "Gente Pobre" foi considerado umas das primeiras demonstrações do crescente amadurecimento desta tendência, colocando o nome do autor em grande destaque com outros escritores e com Bielínski, um importante crítico da época.

Tendo bebido em grandes fontes como Gógol e Púchkin, porém, acrescendo a escrita um toque especial "à lá Dostô", no qual não se limita a retratar o homem pobre e sem atrativos que tem a sua inteligência e capacidade esmagadas pela crueldade da sua condição social e financeira, Dostoiévski foi muito além de trazer à público sua manifestação em forma de romance social, para se aprofundar e sondar a alma dos seus personagens... o que pensam e o que sentem... estabelecendo com eles um diálogo honesto.

Neste romance, esse homem ?sem importância? é o mesmo que se tornará um ?homem grandioso? por ser capaz de pensar, sentir e agir da forma mais profunda e humana, ainda que socialmente esteja em uma condição de pobreza. E é nesta situação precária, onde enfrentam tantas privações, que seus personagens revelam a sua máxima sensibilidade e riqueza espiritual, munidos de compaixão um para com o outro (e para com os demais), agradecendo o pouco que recebem, e dividindo o pouco que possuem.

Acompanhar cada uma dessas cartas é algo tão belo, porque é impressionante a habilidade que Dostoiévski tinha de colocar tanta emoção em cada uma das suas palavras (naturalismo sentimental), nos fazendo criar esse vínculo quase que instantâneo com seus personagens.

E em pensar que Dostoiévski era apenas um jovem de 24 anos quando sua primeira tentativa literária foi lançada, e que maestria a dele em nos transportar para uma época e país tão distantes, nos fazendo ver com clareza cada um dos acontecimentos, mesmo com um mínimo de descrição, que nos faz ainda assim compreender tudo aquilo que não nos é dito.

Além disso, preciso confessar que ?Gente pobre? me transportou para um momento do meu passado, onde escrever e receber cartas era parte da nossa comunicação com as pessoas queridas, quando celulares ainda não existiam, e as ligações telefônicas eram muito caras. E como era gostosa essa sensação de ouvir o carteiro passar, e sair correndo só para conferir se havia alguma correspondência de um amigo ou amiga que morava longe!

Por isso não há como não dizer como foi prazeroso reviver essa sensação através das cartas trocadas por Makar Diévúchkin e Várvara Dobrossiélova. Especialmente porque era tão tocante a companhia que faziam um ao outro, mesmo quando não podiam estar perto.

Mas eu sinto que as cartas de antigamente não são iguais às mensagens de Whatsapp? ou Telegram? ou qualquer outro aplicativo de mensagens do momento.

Diferentemente dos nossos tempos atuais, onde é tão frequente a troca de mensagens, as cartas de Makar e Várvara eram tão cheias de honestidade. Não tinham medo de dizer o que sentiam, nem de partilhar cada pensamento, pois mesmo quando era necessário tocar em um assunto mais delicado, tudo era dito com tanto cuidado, que cada mensagem era recebida pelo seu interlocutor com a exatidão dos sentimentos que seu remetente teve ao escrever.

Isso me fez lembrar a época da minha adolescência, e das cartas que eu trocava com amigas que me pediam conselhos (ou vice-versa), em que falávamos de tudo abertamente, porque sabíamos que seríamos ouvidas sem preconceitos, e com a máxima atenção.

Que saudade desta época em que a honestidade era algo tão inerente às relações. Que falar de sentimentos era bom, e os ouvidos que nos escutavam eram tão cheios de carinho e empatia que não tinha como não sair de uma conversa sem se sentir muito mais forte e confiante!

E essas sensações do passado foram o que Dostoiévski mais me despertou com essa obra. E como foi bom relembrar algo tão sincero, tão verdadeiro, de uma época em que era tão corriqueiro escrever cartas. Algo tão distante das facilidades da tecnologia atual que tanto nos aproxima, mas que ao mesmo tempo nos afasta, porque hoje já não somos tão abertos como antes, e muitas vezes isso até nos expõe a mentiras que são ditas como verdades.

E aí eu me pergunto: por que temos que ter tanto medo de sermos honestos uns com os outros? Onde foi que perdemos essa facilidade de falar sobre o que pensamos e sentimos? Por que será que nos tornamos seres tão superficiais? Será que um dia seremos capazes de voltar a ser verdadeiros como antes? Sinceramente? Eu desejo que sim!
Cleber 15/01/2024minha estante
Belíssima resenha!


Flávia Menezes 16/01/2024minha estante
Muito obrigada, Cleber! ?


Núbia Cortinhas 16/01/2024minha estante
Amei a resenha! ???????


Flávia Menezes 16/01/2024minha estante
Muito obrigada, Núbia querida! Dostô merece! ???


Gabriela_Sut 16/01/2024minha estante
Adorei a resenha! ? Tenho muito interesse de ler esse!


Flávia Menezes 16/01/2024minha estante
Muito obrigada, Gabi! ?
Leia sim. Você vai gostar. A narrativa é bem gostosa e a história é muito bonita!!!


Fabio.Nunes 16/01/2024minha estante
Ótima resenha, como sempre. Esse livro não funcionou tanto pra mim, mas que bom que vc gostou esse tanto


Flávia Menezes 16/01/2024minha estante
Muito obrigada, Fábio querido! ?
E você não gostou desse? Fiquei curiosa pra saber o que não te agradou! ? Eu ando em um processo de identificação com o Dostô, daí não resisti às 5 estrelas.


Fabio.Nunes 16/01/2024minha estante
Flávia, eu achei uma leitura mais enfadonha, muito válida e revolucionária no momento em que foi publicada. Mas não me cativou tanto. E eu acho Dostô um dos meus autores prediletos. Problema foi eu ter lido Crime e Castigo antes. Aí eleva demais a expectativa rsrs.


Flávia Menezes 16/01/2024minha estante
Aaaah Fábio! Agora eu entendi! Imagino mesmo que ler uma obra dessas tenha te feito ficar menos encantado com ?Gente Pobre?. A magnitude de ?Crime e Castigo? deve ofuscar qualquer outra obra menor! ??


Wesley - @quemleganhamais 19/01/2024minha estante
Gostei da resenha. Foi a primeira obra que li do Dostô e tenho vontade de ler mais. Questões finais são pontos válidos para reflexões.


Flávia Menezes 19/01/2024minha estante
Obrigada, Wesley. ??
E esse foi seu primeiro do Dostô? Puxa! Que ótimo começo! Mas imagino como deva dar vontade de ler mais depois dele, até porque ?Memórias do Subsolo? é um livro que mexe muito e tenho certeza de que vai gostar de ler. ??


Wesley - @quemleganhamais 19/01/2024minha estante
Sim... Depois dele li Noites Brancas e mês que vem começo Crime e Castigo. Memória do Subsolo está na lista de leituras do ano. Dostô é um autor que mexe bastante com as emoções e leva a várias reflexões.


Flávia Menezes 19/01/2024minha estante
Wesley, ?Noites Brancas? foi incrível também! E ?Crime e Castigo? eu não vejo a hora de ler. Vou acompanhar suas impressões então no próximo mês! Dostô é fantástico mesmo! Cada livro dele é uma reflexão diferente, mas sempre profunda!




Allan 11/01/2022

Gente Pobre
Meu primeiro contato com Dostoiévski foi justamente com seu primeiro romance. Gente Pobre conta sua história através de trocas de cartas entre um casal de personagens que, em todos seus anseios e desesperos consequentes da miséria em que se estão presentes, passam a encontrar um pouco de conforto no amor e na afeição fraternal que sentem um pelo outro. Tem muito a se refletir aqui sobre a desigualdade, encontrar felicidade sem riquezas e o desejo de seguir em frente mesmo sob as desgraças decorrentes da vida.
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Moreira 16/04/2024

Um esboço do que viria a se tornar Dostoiévski
Meu primeiro contato com Dostoiévski foi com ?Diário do Subsolo?. Surgia então um estilo de escrita até então diferente para mim, ímpar, através do fluxo de consciência, percorrendo todos os meandros da vida do herói e os mais profundos aspectos de sua natureza. Lembro que Diário do Subsolo começava com uma leitura difícil, um pouco arrastada, mas na segunda parte já me fisgava por inteiro. Dali em diante, Dostoiévski se tornaria meu autor favorito. Li ?Os Irmãos Karamázov?, considerada sua magnum opus e li também ?Crime e Castigo?, tão boa quanto.

Em todos os livros do autor, notamos essa facilidade de descrever os infortúnios e as alegrias da vida, a beleza e a miséria, o ser humano em seu estado mais filosófico, com todas as suas certezas e contradições pintados num quadro em que a moldura possui característica intrinsecamente espiritual. Dostoiévski era de fato um conservador, mas um conservador profundamente humanista. Ninguém consegue descrever tão bem o homem com todas suas faculdades mentais e suas complexidades como ele.

?Gente pobre? foi a primeira obra de Dostoiévski, publicado ainda em 1846, levando o autor a ser reconhecido imediatamente pela crítica da época. O livro é um romance epistolar sobre a amizade de Makar Dievuchkin, um funcionário público de meia idade e Varvara, uma jovem órfã, que moram na mesma vila em São Petesburgo. Por meio das cartas entre os dois, notamos a situação precária de boa parte da sociedade russa na época czarista. Makar, com motivações verdadeiramente altruístas, procura usar seu ordenado para ajudar a pobre órfã, mesmo que para isso tenha que viver uma vida bem abaixo dos seus meios, chegando a se descuidar de suas necessidades básicas, como suas vestimentas e o seu aluguel. Varvara, alheia ao falatório do povo, insiste em uma maior proximidade por parte do outro, sugerindo que este a venha visitar com mais frequência. No decorrer desse relacionamento, notamos um contraste entre a pobreza em que vivem e a riqueza de seus corações, repletos dos mais nobres ideais.

Talvez por ter tido contato anterior com outras grandes obras de Dostoiévski, neste livro não me impressionei tanto. Por ser seu primeiro livro é natural que seu estilo ainda estivesse se formando e se aperfeiçoaria com o tempo. Caso este tivesse sido o meu primeiro livro do autor, sendo apresentado a esta escrita tão peculiar, provavelmente minhas impressões seriam melhores e talvez, gradualmente, viessem a aumentar conforme lia os demais. Porém, ao ler primeiro as grandes obras e ter um contato posterior com ?Gente pobre?, não fui fisgado da mesma forma. Ainda assim, não deixa de ser uma grande obra, com traços e esboços do que viria a ser a marca do autor no futuro. Vale a pena ler, pois Dostoiévski sempre será Dostoiévski.
Gaby 16/04/2024minha estante
Que resenha maravilhosa! ?


Moreira 16/04/2024minha estante
Muito obrigado, eu escrevi meio corrido porque estava atrasado. Com toda sinceridade, poderia ter feito melhor, mas seu comentário me deixou feliz em saber que tenha gostado.




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Gente pobre, Fiódor Dostoiévski – Nota 8,5/10
Quando se fala em Dostoiévski, ou mesmo literatura russa em geral, é bem comum que as pessoas tenham uma reação negativa, achando que o livro será extremamente difícil ou pouco instigante. Na verdade, essa ideia é totalmente falsa e vou tratar mais especificamente sobre literatura russa em um post específico. É que antes de começar essa resenha, só queria deixar bem claro que a literatura russa é sim acessível e muito atual, o que fica evidente com a leitura dessa obra. “Gente pobre” foi o primeiro romance de Dostoiévski e, já na época da publicação, foi responsável por trazer grande notoriedade ao autor. O romance é escrito em forma epistolar, isto é, por meio de cartas trocadas entre Makar Diévuchkin, um funcionário público já em sua velhice, e sua vizinha Varvara, uma jovem orfã. E ao longo da cartas, o que une os personagens é a pobreza, a pobreza no seu sentido material: é a falta de dinheiro para comprar comida, para comprar roupas decentes, isto é, para ter uma vida digna. E é justamente por meio de suas cartas que os personagens compartilham suas privações, como se recorressem um ao outro e a valores ricos – como a amizade e o cuidado pelo próximo - para conseguir sobreviver a essa falta material.

Apesar de ser seu romance de estreia, a obra já revela a genialidade do autor que, com apenas 25 anos (!!), consegue se aprofundar no íntimo do ser humano, de maneira extremamente sensível. Como já disse outras vezes, romance epistolar não é um gênero que me agrada tanto, pois muitas vezes se torna cansativo. Assim, no caso de Gente pobre, até por ser um livro denso, sugiro uma leitura mais lenta, feita aos poucos. Lido para o incrível projeto da @isavichi !

“(...) uma pessoa pobre é pior que um trapo e não é digna de nenhum respeito da parte de ninguém, seja lá o que for que escrevam.”

Dica: em uma parte do livro, os personagens fazem bastante referência ao conto “O Capote”, de Gogól. Por isso, para quem se interessar, indico a leitura do conto – que, por sina, é excelente - antes de iniciar o livro.

site: https://www.instagram.com/book.ster
Aline AS 19/01/2022minha estante
?




Alê | @alexandrejjr 31/01/2021

Os selvagens urbanos

O Dostoiévski de "Gente pobre" já é, em doses homeopáticas, o grande escritor de "Crime e castigo" ou "Os irmãos Karamázov". E esse foi só o romance de estreia dele...

Ler Dostoiévski é ler um autor repleto de simbologias. E aqui o objeto de estudo dele são os selvagens urbanos: a gente pobre das cidades, esses corpos que sofrem e conhecem com maior intimidade as asperezas da vida. São as criaturas de Deus que nós, leitores, acompanhamos pelas ruas de São Petersburgo de maneira inacreditavelmente imagética. E o mais incrível: através apenas de cartas, pois temos aqui um romance epistolar.

Entre reverências e diálogos com livros de Gógol e Púchkin, Dostoiévski mostra com este romance, inegavelmente menor dentro da sua pesada obra, que são muitas as questões não resolvidas na humanidade que lhe interessavam e, com a aguçada capacidade que possuía, ele tratou posteriormente. Não temos aqui ainda o profundo escritor que vai antecipar várias questões que permearam o século XX (e permeiam direta ou indiretamente, com certa insistência, nossa existência) como a culpa, a responsabilidade, a ética do mal e do bem, a discussão acerca da ausência de Deus e o sentido da justiça e do perdão.

Em "Gente pobre" Dostoiévski tem, como primeira necessidade, mostrar que o outro existe, e essa busca vai acompanhá-lo gradativamente até o final da sua obra. Ele é um autor que funciona como uma espécie de espelho, pois suas personagens refletiam (e ainda refletem) as doenças sociais de seu tempo - muitas delas seguem até hoje, inclusive, piores do que ele jamais pôde imaginar.

Ah, é claro, leia o romance se tiver a oportunidade. Mas confesso uma coisa: particularmente acredito que "Memórias do subsolo" é uma opção mais vantajosa para fisgar leitores de primeira viagem no rico universo dostoievskiano, mas se a escolha for por este aqui, em nada os leitores perdem.
Alice @leituras_da_alice 31/01/2021minha estante
Eu inventei de ler ?o jogador? e não gostei nada do livro, mas foi vacilo meu não ter dado uma pesquisada antes de por onde começar! Daí fico com receio de ler outros livros dele e não gostar tbm..


Alê | @alexandrejjr 31/01/2021minha estante
Alice, eu aconselho voltar a dar uma chance pra ele. Tenta esse aqui ou o "Memórias do subsolo" e aí parte pros grandes romances, acho que vai rolar.


Aryana 01/02/2021minha estante
Belíssima resenha ??


Alê | @alexandrejjr 01/02/2021minha estante
Eu que agradeço a atenção, Aryana. Já lesse esse?


Aryana 01/02/2021minha estante
Esse ainda não li, mas acabei de acrescentar à lista ?




Natanael Nonato 23/01/2023

Sou um grande admirador das obras de Dostoiévski, mas nessa obra não fui muito atraído pelo enredo e pelo estilo da escrita em cartas. Todos sabem que esse foi o primeiro livro de Dostoiévski, então claro que há de se relevar alguns detalhes. Podemos claramente perceber a habilidade do grande escritor pela sua capacidade de colocar em palavras situações extremamente tristes e únicas. Desde o início desse livro podemos encontrar compaixão tanto pela Várvara, quanto pelo Makar. Mas essa lógica de cartas que sobrepõem assuntos sobre assuntos não me fez encantado como em outros livros do autor.
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Victor Dantas 01/11/2020

Que tipo de Gente Pobre somos?
Essa foi minha segunda experiência com o Dostoiévski. Dessa vez tive a oportunidade de ler seu romance de estreia “Gente Pobre” (1846).

Aqui conhecemos um pouco da vida do Makar e da Varvara, que compartilham de uma amizade e seus diálogos se dão através de cartas, em quais ambos relatam seu cotidiano, situações triviais, anseios e angústias. Nesse sentido, o romance é estruturado de forma epistolar.

Apesar da diferença de idade entre os dois, ambos compartilham de uma mesma situação, a pobreza e a vulnerabilidade socioeconômica, em uma Rússia monárquica, aristocrática e extremamente desigual.

Makar e Varvara não só protagonizam o romance, como representam também a Gente Pobre que o Dostoiévski toma como referência e base para tecer toda trama.

A pobreza aqui inserida se desdobra de duas formas: a pobreza material, em termos de poder aquisitivo e a pobreza social instituída na época por um sistema aristocrático, o qual o autor tece suas críticas implícita ou explicitamente, seja através da sátira ou de situações tragicômicas.

Ao mesmo tempo que vivem numa situação de pobreza, os personagens também compartilham de uma riqueza.... a riqueza da humildade, do altruísmo, da empatia social, valores e princípios.

Sendo assim, o Dostoiévski utiliza de seus ideais de um socialismo “perfeito”, de uma coletividade social e a nobreza de sentimentos humanos, esses três, como sendo a base para o progresso da sociedade, a qual o autor defendia.

Dessa forma, tanto o Makar quanto a Varvara personificam a esperança de uma sociedade subjugada, das minorias silenciadas e exploradas pelo sistema político e econômico da sua época.

Apesar de ser um romance que fala de uma sociedade, tempo e espaço específico (e aqui eu peço que você, leitor do século XXI, considere isso quando for analisar a obra), o romance levanta questões que ainda são atuais em nossa sociedade, mesmo depois de dois séculos...

No romance, a maior preocupação tanto do Makar e quanto da Varvara é o despejo do lugar onde eles vivem, que se diga de passagem está longe de ser considerado uma moradia digna, afinal, eles moram em um quartinho um de frente para o outro praticamente, em situação de insalubridade extrema.

A partir dessa situação, vemos o quanto um lar é importante, de como você ter um teto sob o qual você pode se proteger e se recolher, é ainda um privilégio para poucos...levando em consideração que no Brasil, por exemplo, segundos dados da Abrainc e FGV (2019), existe um déficit habitacional de 7,7 milhões, isso mesmo, 7,7 milhões de brasileiros sem possui uma moradia regular.

Por fim, é um romance que possui uma carga pesada de sentimos negativos, de uma desesperança, miséria. Dependendo de sua sensibilidade, a narrativa do Dostoiévski pode fazer com que você sinta essa angústia que os personagens compartilham... uma narrativa sinestésica.

Mesmo sendo sua estreia na literatura, o Fiódor já dava indícios do quanto sua obra seria representativa socialmente falando, e de como a Gente Pobre seria seu principal trabalho de campo, seu objeto de observação e reflexão.

Mais que recomendado.
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Marcio 14/03/2022

Mãezinha
Como primeiro livro de Dostoiévski e época em que foi escrito, minha ignorância não alcançou a mensagem desta obra, embora tenha gostado muito de outras leituras deste autor.
Aline 14/03/2022minha estante
Nossa. Eu sou apaixonada por Dostoievski.




TalesVR 08/03/2024

Que Sejas Bem Feliz
Se bom pra você for
Podes partir, amor
E que sejas feliz
E muito bem feliz

Que Deus e a natureza
As aves nos seus ninhos
As flores pela estrada
Perfumem todos os caminhos

Eu aqui ficarei
Por você rezarei
Todas as tardes
Ao bater, Ave Maria

Que sejas bem feliz
Mas leves-me na mente
Que cresçam suas glórias
E as minhas lágrimas contentes

(Cartola)
Vania.Cristina 09/03/2024minha estante
?




Fernanda Coelho 17/01/2024

GENTE POBRE, de Dostoievski foi sua primeira obra, publicada em 1846, quando o autor tinha apenas 24 anos
É um romance epistolar, ou seja, escrito em formato de cartas trocadas entre Makar um funcionário de baixíssimo escalão e a orfã Varvara.
Temas como dignidade, honra, pobreza, dor, humilhação, sofrimento e solidão estão presentes na vida dos personagens.
Sobre Makar e Varvara é necessário analisar os dois pontos:
a representação do egoísmo, onde os sentimentos de Makar são fortes e o desejo manter Varvara por perto a todo custo para evitar sua solidão (?); e a representação do egoísmo por parte de Varvara, onde acredito que usou da bondade de Makar em benefício próprio.
É uma escrita sensível que traz muitas reflexões:
O humano está no SER ou no TER? O que nos tornou pessoas tão superficiais?
Onde perdemos a facilidade de falar sobre o que sentimentos e pensamos?

Alguns pontos da narrativa que me tocaram bastante:

Quando Makar relata o momento em que, seu superior dá a ele uma nota de cem rublos, e embora esse dinheiro fosse de enorme necessidade para o Makar, o que realmente o deixa tão feliz foi o gesto de seu superior segurar sua mão, nesse momento ele sentiu igualdade entre eles.

E, quando a criança lhe pede dinheiro e ele não tem nada a dar.
?Que martírio é ouvir um pelo amor de Deus e fazer de conta que não percebeu, não dar nada e dizer: Que Deus lhe ajude.?

Apesar de triste e dramático foi uma delicia acompanhar as emoções dos personagens.

Esse foi o primeiro livro do projeto lendo Dostoievski em ordem cronologica.
Fabio 17/01/2024minha estante
Nota digna do mestre Dostoievski!??


Fernanda Coelho 18/01/2024minha estante
eu ameiii! o proximo será O duplo!




Jessica 10/06/2023

Por que Dostoiévski é assim?
Gente, pelo amor de deus.... Por que???? Por que o personagem não luta? Por que ele aceita?
O livro é em formato de cartas, acho interessante esse formato pois sempre conseguimos entender os sentimentos mais íntimos dos personagens. Temos a história de Makar e Varvara, ambos trocam cartas contando sobre a sua vida cotidiana repleta de humilhações e infelicidade pela condição financeira. A maioria das passagens são tristes e embora morando muito próximos, mesmo se amando, não podem se casar. É nítido que os dois vivem um pelo outro e mesmo com tantos infortúnios são gratos por estarem juntos.
Mas aí minha gente, acontece a mesma coisa que aconteceu em noites brancas. E eu tô uma arara (com ódio).
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trizisreading 07/11/2023

Gente Pobre
Esse foi o primeiro romance de Fiódor Dostoiévski, e já com a publicação dessa obra logrou grande sucesso e reconhecimento, sobretudo pela crítica positiva de um dos críticos literários mais importantes da época, Vissarion Belinski.

A narrativa desta obra é feita por meio de uma troca de cartas entre os dois personagens principais: um funcionário público, Makar Diévúchkin, que tem a função de copista e trabalha em uma repartição pública de São Petersburgo, e Várvara Dobrossiélova, uma jovem adolescente.

Nessas cartas relatam experiências do dia a dia de angústia, felicidade, desespero, ou simplesmente relatos de acontecimentos que querem se manter a par. Ambos passam por uma situação de pobreza, embora Várvara tenha tido uma infância abastada, mas que no decorrer de sua vida acabou se tornando pobre também.

Em diversos momentos da narrativa me senti tocada pelos relatos de ambos os personagens, como no relato que Várvara faz de quando vivia com sua mãe e um amigo, ou então de quando Makar relata o momento em que, em um gesto de bondade, seu superior dá a ele uma nota de cem rublos, e embora esse dinheiro fosse uma enorme necessidade para Makar, o que realmente o deixa tão feliz foi o gesto de seu superior segurar sua mão (nesse momento me lembrei do filme "Parasita", pois rico não toca em pobre), e assim, ele diz que toda a vergonha que sentia sumiu, que se sentiu como um igual.

É possível também, perceber que existe uma afeição muito grande entre os personagens, pois mesmo que passem por grandes necessidades, estão sempre pensando em agradar o outro. Mesmo quando não possuem dinheiro, tentam de alguma forma lhes ser útil de algum modo.

mirianbezerra 08/11/2023minha estante
adoro suas resenhas amg, você escreve muito bem!


trizisreading 08/11/2023minha estante
@mirianbezerra muito obrigada, seu comentário fez meu dia feliz!


Sr. Paixão 09/11/2023minha estante
É de se admirar uma resenha assim.




Emanuele.Belfort 13/10/2022

Um livro curto, mas que carrega com ele sua relevância.
“[...] é exatamente como se a pessoa pegasse o próprio coração, seja lá ele como for, o virasse do avesso para outros verem, e aí descrevesse tudo em pormenores - é exatamente assim.”
Gente Pobre é o primeiro romance de Dostoiévski. Escrito de forma epistolar, a história conta com dois personagens principais, Makar e Varvara, que além de trocarem cartas frequentemente, partilham de suas aflições do dia a dia e ajudam um ao outro com pequenas quantias em dinheiro. A forma como os dois se tratam é afetuosa, atenciosa e ao mesmo tempo aflita. Durante a leitura não fica claro se ambos possuem algum grau de parentesco ou envolvimento romântico. Também não fica evidente se é possível manter alguma esperança de dias melhores para os personagens.
Vale a pena a leitura!
GioMAS 13/10/2022minha estante
Tive a impressão que eles mantém um romance, mas não podem se expor pôr questões sociais, já que ele é mais velho, tem um vínculo familiar distante e são reféns dos preconceitos e falsas moralidades do seu contexto social (época, classe etc). Fiquei na dúvida quanto ao passado da Varvara com o homem com quem ela se casou. Ele abusou dela de alguma forma na época em que ela morou com a tia, após a morte da mãe?


Emanuele.Belfort 14/10/2022minha estante
Faz sentido seu ponto de vista. Também achei muito estranha a união repentina dos dois e a pressa dele para se casarem logo. Pra mim eu acho o que aguardava ela era muito mais triste depois desse acontecimento.


Emanuele.Belfort 14/10/2022minha estante
Faz sentido seu ponto de vista. Também achei muito estranha a união repentina dos dois e a pressa dele para se casarem logo. Eu acredito que o que aguardava ela seria muito mais triste depois desse acontecimento.




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