Raielle 07/09/2020
Eu tenho uma certa dificuldade para avaliar esse livro. Acho que a temática é extremamente necessária, amei e me emocionei em muitas partes, aprendi e valorizei ensinamentos, mas também me incomodei com algumas outras coisas. Talvez o meu maior problema tenha sido o fato de que criei uma expectativa em relação ao livro, que foi quebrada ao longo do caminho. Isso não significa que tenha sido ruim, apenas diferente do que eu estava imaginando no início.
A história traz uma criança com disforia de gênero, mas o foco em si não é necessariamente nela, mas sim na trajetória de toda a família ao lidar com aquela realidade. Penn e Rosie são exemplos de pais, pois desde o início aceitam a filha do jeito que ela é e, mesmo apesar dos medos e inseguranças, nunca, em momento algum, tentam controlar alguma coisa coisa. Certamente, pessoas trans teriam uma realidade muito diferente se todas viessem de um background de tanto apoio quanto esse.
Os irmãos de Poppy também são incríveis e se mostram fundamentais em vários momentos. O livro traz uma desconstrução maravilhosa em relação aos estigmas de gênero, com questionamentos importantes sendo levantados e que fazem o leitor refletir. Rosie é uma médica bem sucedida e é ela quem sustenta a família, enquanto Penn, escritor, fica em casa e cuida das crianças. Rigel e Orion amam tricotar…
O livro tem muitos pontos positivos e de extrema relevância, mas como disse, algumas coisas me causaram um certo incômodo. Não gostei muito da postura do “terapeuta” que os pais buscaram para ajuda, nem da postura do Penn em alguns momentos. Não é o meu lugar de fala, nem sinto que tenho conhecimento suficiente para discutir o assunto, mas acho que lidar com a disforia de gênero, principalmente no caso de uma criança, tem sim uma carga de complexidade que precisa ser tratada de forma responsável e realista. Eu gosto do Penn e do quanto ele se importava em ver a filha feliz e realizada, mas não gostei de um determinado momento em que ele tenta invalidar os questionamentos de Rosie. Rosie também apoiava muito a filha, mas as dúvidas que ela tinha em relação a certas escolhas como assuntos de cirurgias e bloqueadores hormonais, eram válidas e não vejo como intolerância ou negação.
Ademais, não gostei de ver a Poppy lidando com esse momento da sua vida “sozinha”. Ela tinha o apoio de toda a família, mas senti falta de ter alguém guiando-a de uma forma mais profissional.
Enfim, infelizmente não amei da forma que imaginava, pois sinto que o livro perdeu uma oportunidade ser ser muito melhor, mas isso não invalida o resto que gostei. Essa foi a minha primeira experiência com um livro de temática lgbt e me fez enxergar a necessidade de investir um pouco mais nessa vertente para aprender mais e poder enxergar as coisas sob uma nova perspectiva.
Ps: Me incomodei por não ter visto as coisas por uma perspectiva mais direta da Poppy, mas entendo a postura da autora ao dizer que não era o lugar dela contar aquela história. Laurie Frankel conta nas notas que a sua filha é trans, o que fez com que o fato do livro trazer uma visão geral da família em si fosse ainda mais coerente.