Leila de Carvalho e Gonçalves 18/07/2018
Por Uns Míseros Trocados
Nikolai Gogol (1809-1852) foi o mais proeminente escritor russo da primeira metade do século XIX, país que adotou ainda jovem, pois sua origem era ucraniana. Introdutor do realismo e precursor do surrealismo, sua influência é inegável sobre uma geração de escritores que o sucedeu e entre eles estão Tolstói, Dostoiévski e Tchekov.
"O Retrato" é uma boa amostra de sua habilidade como contista. Trata-se da história de um quadro diabólico que tem o poder de despertar a perversidade em toda pessoa que entrar em contacto com ele. Dividido em duas partes, na primeira, pode-se acompanhar as desventuras de um pobre pintor, Tchartkov, após adquiri-lo por uns míseros trocados; já na segunda, é revelada a origem da pintura e o desfecho surpreende.
Sua ideia central aborda o famoso pacto com o demônio e sob essa perspectiva o autor oferece uma interessante reflexão sobre o papel da arte na vida do artista, isto é, até que ponto ele deve abdicar do talento, colocando de lado seus valores em busca da fama e do dinheiro fácil. Aliás, um dilema que o acompanhou até o fim: poucos dias antes da morte, ele queimou todos seus manuscritos inéditos, inclusive, a segunda parte de sua obra-prima,"Almas Mortas", dominado por essa angústia.
Mediante uma rápida análise, essa história pode soar corriqueira em pleno século XXI, porém, cabe atentar para seu aspecto inovador, quando lançada. Indubitavelmente, ela oferece um rico manancial de ideias que desde então, vem sendo exploradas, passando por Oscar Wilde e "O Retrato de Dorian Gray" até Stephen King e seu conto "O Vírus da Estrada Vai Para o Norte", aliás, outras duas interessantes indicações de leituras.
Com índice ativo e boa tradução de Roberto Gomes, divirta-se por um preço camarada.