Pontos de fuga

Pontos de fuga Milton Hatoum




Resenhas - Pontos de fuga


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Luigi - Acrópole Revisitada 09/10/2023

Dizem que errar humano, mas persistir no erro é diabólico. Certa ou não, essa máxima parece que funcionou ou comigo ou com o autor do livro que resenho aqui hoje. Comigo porque insisti em ler a continuação de um livro que já não tinha gostado muito. Com o autor por talvez insistir em algo que está fora do seu caminho conhecido e que lhe trouxe tanta coisa boa. Coloco no campo do talvez porque uma leitura é quase sempre predominante no filtro da subjetividade. Por isso, compreenderei quaisquer comentários vindouros discordando da minha posição.

Milton Hatoum é um escritor que aprendi a admirar. Gentil – tive a oportunidade de encontrá-lo mais de uma vez na minha cidade -, inteligente e um grande conhecedor de literatura. Seus livros me conquistaram desde a primeira vez que li. Já perdi as contas de quantas vezes li Dois irmãos, tanto por prazer quanto por questões profissionais – lia todos os anos quando ensinava a obra no ensino médio, chegando a memorizar algumas passagens. As releituras de “Cinzas do norte” e “Órfãos do Eldorado” não foram tantas, mas aconteceram pela imersão que eu tinha nessas histórias, narrativas passadas em um lugar que é ao mesmo tempo tão famoso no Brasil quanto desconhecido por sulistas e sudestinos. O alto nível literário também vi em “Relatos de um certo oriente”, “A cidade ilhada” e “Um solitário à espreita”, embora não tenha havido releituras.

Fato é que Hatoum, aos meus olhos, é um dos principais escritores da literatura brasileira contemporânea. Coloco Luiz Ruffato e ele em uma prateleira quase inalcançável para outros mortais nacionais. Talvez por ter alcançado o olimpo em minha estante, o tombo tenha sido tão grande. O autor vá me desculpar, caso leia a resenha, por esse endeusamento e crítica – somos, às vezes, passionais com nossas leituras. É que meu horizonte de expectativa estava alto demais por conta de tudo o que ele tinha feito antes. E é por isso que para mim “Pontos de fuga” não só destoa do que Hatoum já escreveu, mas é um dos livros mais chatos que li nos últimos anos.

O romance faz parte de uma trilogia chamada “O lugar mais sombrio” e foi iniciada com “A noite da espera”, livro publicado em 2017 pela Companhia das Letras, mesma editora que publicou todos os seus livros. Se no primeiro livro da saga a sensação é de uma narrativa um tanto bamba, no segundo a sensação é de que a narração está completamente perdida e não sabe para onde ir.
Ao contrário das obras que consagraram o escritor, essa trilogia não se passa em Manaus, mas em Brasília e São Paulo. A narrativa tem com protagonista um grupo de estudantes da Universidade de Brasília durante o golpe militar de 1964 e os anos que sucederam esse acontecimento nefasto da história brasileira. Dentro desse grupo quem se destaca é Martim, um jovem traumatizado pela separação dos progenitores, fazendo com que ele vá morar com o pai e tome uma enorme distância da mãe, a quem procura partout. No fim do primeiro livro (atenção: spoilers), Martim, perseguido pela ditadura, foge de Brasília para se refugiar em São Paulo.

Em “Pontos de fuga”, publicado em 2019, então, vemos Martim em São Paulo, tentando seguir a vida e se envolvendo com uma certa resistência que está mais perdida do que qualquer outra coisa. O protagonista, agora estudante de arquitetura na USP, mora em uma república de estudantes com quem ele vai conviver, se desentender, dar apoio e tentar sobreviver em uma ditadura cada vez mais controladora, punitiva e perigosa. O mote não é ruim, mas a execução sim.

O problema do livro não reside no fato de não aproveitar o espaço que o consagrou (ou as temáticas), e por onde ele anda com enorme tranquilidade, mas por mudar totalmente a chave de narração. A linha que costurou tão bem personagens, paisagens e ações não consegue fazer com que haja uma unidade. Tudo parece perdido, solto. A sensação em “Pontos de Fuga” é de uma fragmentação (quando bem executada é incrível) que está longe de montar um mosaico, mas sim de algo totalmente desconexo.

É difícil criar empatia com tantos personagens – a gente se confunde o livro todo para saber quem é quem. Alguns são intragáveis, mas faz parte ter personagens odiosos, isso não é um problema na literatura. Mas Martim é morno. Falta-lhe carisma, para o bem ou para o mal. Como Martim é chato e entediante, o livro é chato e entediante – às vezes dava graças a Deus quando ele sumia da narrativa para focar em outras pessoas. Só fui até o final porque respeito muito o escritor, senão teria parado bem antes da metade. Boa parte das duzentas e trinta e tantas páginas é torturante.

Acho que o fato de mostrar o panorama do ambiente político não é mal feito, tem suas qualidades. São vários olhares, inclusive, olhando para os mesmos pontos e interpretando os acontecimentos à sua maneira. As vozes, entretanto, não parecem individualizadas, mas uma cópia da outra. A chave de narração não parece mudar nunca, parece sempre o mesmo personagem falando.

Se o objetivo era mostrar uma geração cheia de dificuldades, jovens sendo impulsivos e um protagonista completamente sem rumo, então ele conseguiu. Há pouco no plano da ação. Os personagens parecem estagnados, perdidos. A própria narrativa parece não saber para onde ir. A gente tem a sensação de que está na mesma página por mais de uma hora. Não há sabor.

Claro que se compararmos esse livro a outras produções literárias contemporâneas, veremos muito mais qualidade nele do que em muitos livros que saem aos montes por inúmeras editoras por aqui, tanto grandes quanto pequenas e independentes. Mas Hatoum está acima disso há muito tempo. Destoar um pouco é compreensível, se tornar irreconhecível nem tanto.

Muito provavelmente lerei o terceiro livro da série, porque Hatoum merece sempre a nossa confiança. Mas, se o tom for esse, com certeza abandonarei o livro dessa vez. Ouvi dizer que Hatoum pararia sua carreira nessa trilogia. Caso seja verdade, espero que ele repense isso e possa buscar em si mesmo aquele esplendor presente em tantas belas histórias que ele outrora nos contou.
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Ig: pedro_couts. Médium:pedro-Parke 22/08/2022

A saga continua
Neste segundo volume da trilogia do excelente Milton Hatoum, Martim, agora em São Paulo, mas com a cabeça em Brasília, divide moradia com outros amigos, de variados locais, se antes somos apresentados a inúmeros lugares de Brasília, agora passeamos com o personagem e seus amigos por cantos de SP, e para quem mora nesta selva de pedra, é quase inevitável não ficar imaginando os locais por onde ele e sua turma passam. Outro ponto que vale o destaque é a mãe de Martin, seu desaparecimento, onde será que ela se meteu? Está morta? Se escondendo? Não quer ver mais seu filho? Muitas perguntas, poucas respostas. (Juro que tentei ao máximo evitar spoilers galera)
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Lívia 13/05/2022

Pontos de fuga
Segundo livro da trilogia "O lugar mais sombrio".

Aqui, Hatoum continua a saga de Martim, dessa vez fugindo/sofrendo/vivendo os horrores da ditadura militar em SP.

Estou ansiosa pelo lançamento do terceiro volume.
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Deb 26/01/2022

Boa leitura
Milton sempre me pega num ponto muito intenso nas suas obras. Talvez por também ser manauara e compartilhar algumas dores e delícias de ser amazônida.

Gostei das duas obras, mais da primeira. Acho que esse segundo volume não introduz bem as personagens. Os pontos que mais me chamam atenção ainda são os que remetem ao volume um.

Das novas personagens gostei muito de Mariela e Ox. Enfim, um bom livro. Ansiosa pelo fechamento da trilogia e a solução do mistério...
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Elisana 25/01/2022

Tempos sombrios
Segundo livro da trilogia de Milton Hatoum, narrando a vida de Martin após deixar Brasília por conta da repressão. O formato de diário e mudança de tempo causa tamanha angústia em mim, pois sinaliza a falta de notícias dentro da narrativa. Pessoas presas, desaparecidas e a angústia da perda de liberdade a qualquer momento. É uma narrativa dolorosa e esse livro ainda apresenta perspectiva dos diferentes amigo em meio ao sumiço e prisão de tantos.

"[...] Os milicos e civis golpistas estão enfraquecidos, um dia vão cair fora, depois os saudosistas da infâmia vão dar outro bote, com a cumplicidade do Irmão Poderoso do Norte. [...]"
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Gerson91 03/05/2021

Um livro sobre amizade
Para quem acha que a história não se repete, recomendo a leitura deste livro. Dentro de um contexto turbulento, um grupo de amigos fortalece seus laços junto de suas suas dificuldades e sonhos.
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Pedro Bonavita 26/12/2020

A angústia solitária de Martim
Em ?Pontos de Fuga? temos mais um pouco da jornada angustiante de Martim. E? interessante demais o poder que Hatoum tem em criar personagens densos e perdidos dentro de sua pro?pria angustia e solida?o. Junto a? construc?a?o da personagem, o autor ainda traz como pano de fundo o peri?odo da ditadura militar no Brasil nas de?cadas de 1960/1970 e como a repressa?o influenciou muito na construc?a?o de personalidade dos jovens da e?poca.
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Nathan 18/10/2020

Hatoum não parece conseguir entrar em sua própria ficção
Uma impressão que fiquei é que o Hatoum não consegue apresentar os personagens de um jeito convincente, e isso pra mim é crucial para eu conseguir me conectar com uma obra. Em várias passagens os personagens falam/escrevem em seus diários de uma maneira que ninguém fala, de formas totalmente anti-natural, dando a impressão que eles querem explicar forçosamente suas características pro leitor. E bom, achei meio cansativo também tanta anulação e tanta ciumeira do Martim...

Mas ele tem lá suas boas passagens. Achei mais interessante, por exemplo, a de Celine e o Ox, apesar de ser apresentado de uma forma nada convincente, tem suas boas falas pelo meio do romance. Esse segundo volume foi menos interessante pra mim também por não ter as referências a Brasília que o primeiro tinha
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Chelly @leiodetudo 23/09/2020

Muito bom
O segundo livro da Trilogia O lugar mais sombrio foi o melhor até agora. Os personagens estão mais maduros, os apuros mais sérios.
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Nane 02/08/2020

O lugar mais sombrio
Livro que dá continuidade na história de Martin escrita a diversas mãos. A história vai sendo revelada a partir de cartas, diários do próprio Martin e de seus amigos. Seu sofrimento pelo abandono da mãe, demonstrando o amor que sente por ela procurando- a em todos os lugares. Martin mostra- se sombrio e depressivo, não demonstrando amor pela vida e com vontade de viver. Sinto ele muito apagado neste segundo livro, como se ele estivesse sumindo assim como fez sua mãe. Apesar de muitos personagens novos que no início tornou um pouco confusa a história, considero uma leitura valida, por mostrar os horrores ocorridos na época da ditatura e as cicatrizes deixadas direta e indiretamente em que viveu nesta época.
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Debora 22/06/2020

Livro 2 de uma trilogia (ou tetralogia...)
Pontos de Fuga continua nos contando a história de Martin, de seus amigos e do Brasil por meio de relatos entrecortados.
É um tempo que devemos conhecer, uma história que deve ser contada.
Contudo, o excesso de personagens, alguns que chegam do nada, torna muito difícil seguir o fio da história. Além disso, o protagonista é uma pessoa deprimida que só se deixa levar, então o livro fica confuso e desinteressante ao mesmo tempo. Pena.
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Vilamarc 20/06/2020

Um romance de meio
O primeiro volume da trilogia (ou será tetralogia?) "O lugar mais sombrio" gerou uma expectativa muito boa com a pseudo-orfandade do jovem Martin. Um pai autoritário e uma mãe na cladestinidade ou desaparecida, numa clara metáfora aos anos de chumbo.
Nesse segundo volume, a trama ganha novos e muitos personagens para transcorrer toda a década de 1970 de amores e desbundes.
Termina como começa. Cheio de interrogações para o(s) próximo(s) capítulo(s).
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Victor 07/06/2020

Perdeu o gás
O que o primeiro livro tem de fantástico, este tem de monótono. Parece que o Hatoum errou a mão ao escrever uma obra excessivamente abstrata. Numa aparente tentativa de deixar as coisas mais tangíveis, a subjetividade do protagonista acaba ficando dissipada em meio às novas vozes que se introduzem como narradoras da história. Dessa forma, ficam diluídas as impressões de Martim e o ponto de vista narrativo, ao invés de enriquecido, sofre o efeito contrário e torna-se mais carente. Entretanto, sigo com boas expectativas para o volume final. Como li numa resenha abaixo, este segundo livro parece mais uma passagem, uma transição, quase que um intervalo entre o primeiro e o terceiro.
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Bersa Mendes 30/04/2020

Livro de passagem
Me parece que o segundo livro da trilogia proposta por Hatoum é meramente uma passagem entre o bom primeiro livro - Noite da Espera, mais poético e denso -, e o terceiro livro que está por vir.

Gosto muito do autor e da sua escrita, mas a trama de Pontos de Fuga, infelizmente, me pareceu solta e mais displicente. Às vezes forçava uma linha do tempo e de acontecimentos que não parecia verossímil, pulando de meses em meses, dilatando uma passagem de história que não parecia caber no espaço entre os de 1972 e 1979.

Além disso, as anotações em forma de diário, desta vez, são divididas entre diversos personagens, não somente o Martim. E nisso fica a sensação de criar uma polifonia de vozes que, ao mesmo tempo te atrapalha e te tira da subjetividade do personagem principal, diluindo por demais e fazendo parecer falso o recurso, já que o estilo de escrita dos personagens é muito similar. É como se fosse uma voz para diversas vozes.

Infelizmente o livro não me pegou como o primeiro da trilogia, nem como os demais livro da obra de Hatoum. Mas fico com a sensação que a encomenda da editora que fez o autor decidir transformar em três a obra cuja trama inicialmente começava já na França, fez com que surgisse uma história muito rica para o primeiro livro e uma outra história de passagem e muito repetitiva para a sua sequência, desaguando por fim do terceiro livro que iremos ainda conhecer e onde provavelmente reside a ideia original e concisa criada por Hatoum.o
Victor 07/06/2020minha estante
Perfeito. Eu achei o primeiro livro fantástico, mas no que diz respeito a esse segundo, não poderia concordar mais com você. Achei muito monótono e abstrato, de fato uma passagem, uma transição - quase que um intervalo entre a primeira e a última obra, para a qual eu ainda tenho boas expectativas.




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