Caroline1091 21/02/2024
Um clássico e seus heróis loiros
Não posso negar que o livro é um clássico; fiquei triste, com raiva do destino daquelas crianças, daqueles meninos que foram obrigados a se tornarem homens, vivendo à margem da sociedade, se deitando com mulheres, roubando para ter o que comer, sem mãe, sem pai, sem família, largados por aqueles que deveriam proteger e zelar por suas vidas.
O livro é uma denúncia sobre a falta de acolhimento do Estado e da própria sociedade, com aquelas crianças que vivem sob o trapiche, pelas ruas da Bahia e do Brasil. No entanto, me incomodou o fato de Pedro Bala ser loiro, Dora ser loira, seus ?heróis? serem loiros.
Em um momento da história, Pedro Bala estupra uma menina que anda pelo areal, uma menina negra e o evento é tratado com naturalidade pelo autor. As ?negrinhas do areal?, servem para se deitar, mas Dora é vista como uma figura materna, com sua pele branca e seu cabelo loiro, é vista como noiva, tem que ser protegida, é apenas uma menina.
?Gostava de derrubar negrinhas no areal. De encostar peito com peito, cabeça com cabeça, penas com pernas, sexo com sexo. Mas nunca pensara em deitar na areia ao lado de uma menina, menina como ele, e conversar de coisas tolas e correr picula como os outros meninos, sem a derrubar para fazer o amor?
Por isso, ao mesmo tempo que o livro faz uma denúncia social, ele deixa um gosto amargo, porque em meio a Bahia, Jorge Amado trata a dor de meninas negras com certa banalidade, colocando o seu ?herói? e sua ?heroína? como brancos e loiros.
O livro tem seus erros, como disse, mas não deixa de ser lindo, bem escrito, triste, uma denúncia das mais dolorosas e verdadeiras.