Lukamba0 07/08/2023
Sulwe é a luz numa escuridão irreconhecível.
Esse livro infantil que com precisão cirúrgica debate colorismo conta a história de uma menina negra que simplesmente não se acha bonita por ter a pele muito escura. Em busca da resposta para se tornar bonita, ela acaba por embarcar numa jornada de auto descoberta sob a aba de uma deusa distante e percebe que a beleza é algo que todos nós possuímos e que vêm de dentro.
Sem referências a que se apoiar na sociedade, Sulwe é a parte de nós (negros) que não consegue se ver como algo inteiro por possuir o que aparentemente ninguém têm. O que a televisão e revistas não mostram. Isso acaba fazendo-a odiar a si mesma por não ser igual a nenhuma das pinturas feitas pela sociedade.
Disso surgem cenas chocantes e visualizar isso nas ilustrações é ainda mais perturbadir. Cada acção, cada questionamento que a menina faz reverberou sobre minha mente e me incutiu a buscar minhas próprias respostas a fim de suprir as necessidades da criança, e sinceramente; as minhas. Mas não há uma resposta simples, não existe uma resposta fácil o bastante para que uma criança tão prematura entenda perfeitamente. É nesse momento que o imaginário toma conta, e sob a forma de uma deusa do espaço a menina é levada a compreender ? atraves de uma história analoga ? que a beleza está na diferença das coisas. Que não precisamos ser iguais aos outros para sermos bonitos.
Como a própria autora já revelou, Sulwe é parte da vida dela, é ainda um espelho que reflecte todos os problemas que pessoas de pele escura precisam enfrentar no mundo desde muito tempo. É também um jeito de tentar reverter isso, apresentado-nos uma personagem que nos é familiar, um ser que alberga todo nosso individualismo fenotípico, para que possamos finalmente nos identificar.