Nu e As 1001 Nuccias 25/03/2019Resenha Blog As 1001 NucciasPrimeira coisa que todos temos que ter em mente antes de ler esse livro é: não é um romance erótico!!!
Fala de sexo, ok. Fala de uma adolescente curiosa fazendo sexo sem cuidado, ok. Mas não é erótico! É um drama, gente!
Explico... Do princípio.
A história é narrada na forma de um diário. A protagonista e narradora se chama Melissa. Ela tem 15 anos, mas no meio da narrativa faz 16. Ela vive na orla da Catânia, um porto na Sicília, Itália, Sua vida é um marasmo que só. Ela já tem um conhecimento do corpo, se toca, mas, talvez, pela apatia e falta de conversa dos pais, associou sexo a amor.
"O prazer de observar-me é tão grande e tão forte que logo se transforma em prazer físico, que chega como uma sensação inicial de cócegas e termina num calor e num estremecimento novos, que duram poucos segundos. Depois vem a vergonha."
E decide que é hora de ter amor em sua vida, ela cisma que precisa disso. Então ela vai atrás. Do jeito errado.
Errado pra quem? Pra nós, privilegiados, que conversamos com papais e mamães e sabemos que sexo é bem diferente de amor. Nessa onda de buscar o amor onde quer que esteja, em quem quer que esteja, Melissa desenvolve uma extremamente baixa auto-estima.
"O que me falta é amor, é de um cafuné que eu preciso, é um olhar sincero que eu desejo."
Entendam... você não vai sentir simpatia por ela, nem por nenhuma das pessoas com quem ela se envolve. Pra começar, ela decide perder a virgindade com um cara que conhece numa festa. O cara é um babaca. Ele se aproveita dela, e faz da vida dela um inferno. Mas ela continua com ele porque ele é o único que ela conhece. Ainda.
Depois vem outros e outras e as coisas vão se intensificando. E ela mantém um ritual de escovar os cabelos antes de dormir, porque é uma forma de lembrar da infância, quando a mãe contava histórias para ela.
O que é importante saber: as cenas de sexo não tem uma descrição detalhada, nem rola um clima porque essa não é a intenção da autora. Ela NÃO quis romantizar as cenas de sexo! é uma garota que aprendeu o que era sexo da pior forma possível. Tu quer erotismo? Vai ler Sylvia Day!
"Quando estou em casa, entro na internet. Procuro, exploro. Busco tudo aquilo que me excita e me faz ficar mal ao mesmo tempo. Busco a excitação que nasce da humilhação. Busco o aniquilamento."
Outra coisa que o leitor tem de entender é que a autora deixa claro desde o início que a menina (sim, menina!) tem ideias equivocadas sobre amor, sexo, conversas e que não tem com quem aprender. A família é omissa e ela também não se abre. É uma criatura confusa, que fica mais confusa ainda conforme os acontecimentos. Não espere profundidade, questões filosóficas de vida ou morte, heroísmo, lutas contra dragões ou contra o machismo. Não é disso que o livro trata.
Foi escrito por oura menina, né? A autora tinha 18 anos quando escreveu e boa parte do que está no livro, segundo a própria, foi vivenciado. Eu fico me perguntando o que o quanto de ficção tem no livro. Cá entre nós, acho que bem pouco.
Não tem erros de revisão, mas também não é uma leitura fácil. Você tem que ter estômago pra aguentar a apatia da personagem quanto a si mesma. E pra aguentar o que ela permite que façam com ela em nome da curiosidade e da busca incansável por amor.
"Lá vou eu de novo, sempre a mesma história. O que posso fazer, não consigo deixar de provocar quem está na minha frente e gosto disso. Faço isso com cada palavra e cada silêncio, e me sinto bem. É um jogo."
O final é feliz? Se por feliz, você entende que ela encontrou alguém que a ame verdadeiramente, então, sim, é feliz. Se por feliz, você acha que é encontrar o amor, então digo que é mais ou menos, pois na minha concepção amor e felicidade são sentimentos que dependem um bocado de outras pessoas, portanto, não são eternos.
Se eu recomendo? Depende. Eu li porque fiquei curiosa com a crítica. Li resenhas que massacravam e outras que enalteciam. Então, decidi ler e fazer a minha própria avaliação. Se você também tenta ter essa visão crítica do mundo, leia, mas vá preparado. Se você acha que não vai conseguir ter empatia com a personagem diante do exposto, nem tente.
Podia ser melhor? Acho que se não fosse escrito em forma de diário, talvez fosse menos "distante". E também gostaria que ela tivesse aprofundado melhor o final.
By the way, tem um filme do livro, ok? Não assisti, porque já saturei de baixa auto estima.
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https://1001nuccias.blogspot.com/2019/03/resenha-livro-100-escovadas-melissa.html