Noturno do Chile

Noturno do Chile Roberto Bolaño




Resenhas - Noturno do Chile


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Javalis de Chernobyl 13/03/2024

Bom, como alguém que lê muito e estuda os textos do Bolaño, acho que tem algumas coisas que eu gostaria de pontuar aqui. Primeiro de tudo que ele é extremamente experimental, como sempre. Cada livro seu tem uma forma diferente de contar a história que ele se propõe a contar. Nesse livro, o protagonista monologa em um único parágrafo sobre sua vida e carreira literária, mas principalmente sobre a relação do Chile com sua própria história cultural e social.
A história é narrada por um padre da Opus Dei em seu leito de morte, que conta sobre sua ascensão social a partir da cena literária chilena após se tornar íntimo do crítico literário mais famoso do país. Ele resolve contar sua empreitada agora que está prestes a morrer. O ponto alto da história acontece quando ele é intimado a dar aulas de marxismo pro Pinochet e alguns outros generais militares.
O problema do livro pra mim é que a história é arrastada e as vezes até um pouco desnecessária, ainda mais pra quem já leu Bolaño. Ela melhora mesmo mais pro final, depois que ele é intimado a virar professor de marxismo, e no ato final que ele descreve sobre as festividades literárias na casa de uma escritora casada com um agente norte-americano, que torturava pessoas "subversivas" no porão da casa enquanto festas literárias e artísticas aconteciam no andar de cima.
O mote principal do livro, como toda a obra de Bolaño, é a relação da cultura letrada com a violência política, historicamente pautada no colonialismo e no confronto entre "civilização e barbárie", no caso, na América Latina, objeto de análise principal do autor. A literatura é tida, pelas pessoas da classe letrada, como uma ilha de civilização em meio ao mar de barbárie que é o Chile (e por extensão, a América Latina), como se a cultura letrada fosse o ápice do intelecto e da sensibilidade espiritual humana dentro de um país selvagem.
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mpettrus 21/02/2024

O Fim da Vida é Uma Longa Noite Sombria
?E então passam a uma velocidade de vertigem os rostos que admirei, os rostos que amei, odiei, invejei, desprezei. Os rostos que protegi, os que ataquei, os rostos de que me defendi, os que busquei em vão.?

??Noturno do Chile? é um romance de caráter biográfico escrito pelas mãos do escritor chileno Roberto Bolaño. A obra é um relato em primeira pessoa, feito por seu protagonista, o padre, poeta e crítico literário Sebastián Urrutia Lacroix, que está em seu leito de morte quando decide contar sua história e rememorar ?os atos que o justificam?.

?O Padre, na hora de sua morte, recorda de sua vida, o peso da cruz que carrega no nome que o ?predestinou? à vida religiosa e que é agora o peso de sua consciência, sendo vítima de seus próprios vícios e pecados, que retornam em forma de culpa, a cruz que terá de carregar até o fim próximo, pois já não há tempo para se arrepender e se salvar.

? Esse curto romance de pouco mais de 100 páginas, aborda o ?Estado de Exceção? no Chile pela perspectiva dos vencedores, os algozes da ?Era das Derrotas?.

Seu narrador, o Padre, é membro da elite religiosa e intelectual chilena, sendo o extremo oposto dos militantes e intelectuais de esquerda reunidos em torno da Unidade Popular que deram apoio maciço à candidatura de Salvador Allende como Presidente do Chile.

? Essa história é um acerto de contas que Bolaño faz contra a Instituição Católica que apoiou a ditadura de Pinochet. O Papa João Paulo II chegou a considerar August Pinochet e sua esposa como o casal católico modelo ?

O Padre era membro do Opus Dei, expressão que em latim significa ?Obra de Deus? ? fundada pelo sacerdote espanhol Josemaría Escrivá em 1928, que era simpatizante da ditadura implantada na Espanha por Francisco Franco, além de ser seu confessor e de diversos ministros durante a ditadura.

? No decorrer da narrativa, conhecemos diversos personagens. Personagens que trazem algumas peculiaridades interessantes. Farewell, figura típica do intelectual latino-americano ligado ao poder e que serve ao poder, é companheiro e interlocutor do Padre durante todo o romance.

Farewell, dono de terras, maior crítico literário do país, realizava em sua fazenda festas com padres, poetas, jovens e membros da alta burguesia.

? No início do romance, o Padre diz ter a ingenuidade de um passarinho, enquanto Farewell, posto como seu aliciador, configurando uma justificativa para seus atos, é anunciado como uma ave de rapina.

Aqui se nota o uso da alegoria, que se desdobra em outros momentos da narrativa: os falcões e os pombos, a violência cega e a vida pacífica, não regida pelo medo.

? Outro momento de alegoria usada por Bolaño é quando nos é apresentada uma dupla que aparece na vida do narrador: Odem e Oidó. Ele não só fez uso da alegoria na sua forma mais pura, mas também se utilizou de anagramas para constituí-los. Os nomes dos dois estranhos personagens se lido de trás para frente nos revelam as palavras ?Medo? e ?Ódio?.

? Simplesmente fiquei boquiaberto com a genialidade de Bolaño. Existe aqui também uma metáfora em relação a essa dupla misteriosa que pode ser interpretada como a representação dos sentimentos do narrador dentro do contexto político da ditadura chilena.

? Embora seja um romance curto, não se enganem: a história apresenta episódios importantes para entendermos a jornada do Padre durante a sua vida.

São quatro as histórias principais que ele recorda no seu leito de morte: o primeiro encontro com o seu mentor, Farewell, que testará os seus talentos literários e sexuais; a viagem à Europa com a missão que lhe foi confiada pelos seus superiores para tentar salvar a decadência das igrejas históricas ameaçadas pelo cocô de pombo; as nove lições marxistas dadas a Pinochet e seus generais e as reuniões literárias na casa de María Canales, casa cujo porão foi secretamente usado pela polícia secreta para prisões e torturas.

? Estas quatro histórias, sutilmente interligadas, oferecem não só uma imagem dramática da literatura chilena sob a ditadura, mas também uma imagem dramática do comportamento do intelectual sob o terror.

A narrativa de Bolaño é extremamente visual e performativa (luzes, gestos, diálogos, silêncios), onde as suas personagens habitam os espaços exatamente como se estivessem dentro de uma ação dramática.

? A sala é o lugar onde o Padre se deita, chora, culpa os outros e dorme. O personagem e o espaço são constituídos como atos na palavra, eles não são descritos e ainda assim, você os reconhece você os visualiza você os materializa na sua mente.

Poucos escritores conseguem ter essa habilidade de nos contar muitas coisas em tão poucas linhas, em tão poucas páginas e se fazer entender e compreender.

Ler esse romance é como perambular dentro de um labirinto impossível de navegar sem compreender a história do Chile e de seu autor. Uma constante tensão que vem de uma narrativa poderosa atravessando as páginas, repleta de significados ocultos, levando a uma implosão realista e cínica de explicação.

? Essa história nos traz um dos monólogos mais incríveis que já li. O protagonista agonizando no seu leito de morte, nos revela como amou a própria existência, apenas para ?esclarecer certos pontos? duvidosos da sua vida nos tempos sombrios da ditadura chilena, justificando a infâmia e a mesquinhez ao seu redor.

? Para mim, esse monólogo é um testemunho da inevitabilidade do indivíduo na história. O Padre não se opôs ao regime, assumindo posições de conveniência, com covardes silenciosos, mas, no final, não passou de um homenzinho vil, sem as virtudes que ele tanto almejava para si.

?E a beleza poética da narrativa de Bolaño em um tema espinhoso como as ditaduras que varreram a América Latina nas últimas décadas do século XX foi primordial para a construção do monólogo do Padre, agonizando naquele quarto mergulhado numa penumbra morimbuda e nauseabunda, indo de encontro com a morte, desesperadamente buscando o perdão das vítimas para aplacar a culpa existente na sua consciência porque para ele, felizmente, muito felizmente, o fim da sua vida será uma longa noite sombria, tal qual foram para todas as vítimas da ditadura chilena.

? Hoje, compreendo porque para Roberto Bolaño poder construir a história de sua literatura de uma forma única e equilibrada com a sua própria existência, não poderia fazer sem contar a história de um país gravemente danificado pela ditadura como o é a história do Chile, a sua pátria amada e berço do seu nascimento existencial.

???????????????
Yanne0 21/02/2024minha estante
Ótima resenha, amg! Do Bolano, tenho mta vontade de ler "Os Detetivesa Selvagens".


Elton.Oliveira 22/02/2024minha estante
Show de resenha @mpettrus !!! Dessa obra só tinha me chamado a atenção que havia dois parágrafos... Isso já me assustou , pq em qualquer pausa teríamos que fazê-las em qualquer lugar !

Lendo a sua resenha vejo o contexto e realmente do que se trata o livro e já me bateu a vontade de ler !!! Obrigado por me fazer gostar de Bolaño meu amigo ... Sem ainda ter lido nada dele !!???


Clay 22/02/2024minha estante
Que resenha maravilhosa. A minha vontade foi de ir atrás imediatamente desse livro para ler. Suas resenhas e históricos me incentivam a ler mais e mais, Mpettrus. ??


mpettrus 22/02/2024minha estante
Yanne ??? muitíssimo obrigado pelo feedback ??????

Sobre ?Os Detetives Selvagens?, meu interesse surgiu quando o Clay Nobre, um Skoob muito inteligente daqui dessa rede, citou esse livro e sua vontade em ler esse romance do Bolaño. Eu logo pensei o quão bom deve ser essa história.

Depois compartilhei a ideia com o Elton Oliveira e nós resolvemos ler assim que for possível, o quanto antes.

E agora mais você citando esse romance. Eu tô por um triz de começar a ler esse na frente dos outros ????


mpettrus 22/02/2024minha estante
Obrigado pelo feedback, Elton!!! Fico lisonjeado em ter despertado seu interesse em conhecer a obra do Bolaño. Espero de verdade que você tenha uma grata surpresa com a literatura desse escritor talentoso.

Elton, sim, são dois parágrafos. Mas as pausas (você vai precisar dessas pausas porque o texto dele é denso) podem ser feitas em momentos chaves quando o narrador terminar de contar um episódio para logo em seguida iniciar outro.

Mas você vai se sair bem e boa leitura!!! ????


mpettrus 22/02/2024minha estante
Meu caríssimo Clay Nobre, obrigado pelo feedback ?

Sobre esse livro, recomendo que leias. E fico lisonjeado e até sentindo uma certa responsabilidade em motivar você e outros Bookstan a ler tal escritor.

Sério, dá ?friozinho na barriga?, mas eu creio não estar errado sobre o talento de Roberto Bolaño ????


CPF1964 29/02/2024minha estante
Parabéns pela resenha, Mpettrus. Ficou incrível.


mpettrus 29/02/2024minha estante
Obrigado pelo Feedback, Cassius.

Gratidão ????????????




Drika.Zimmermann 27/01/2024

Muito cuidado com os silêncios... ???
Conheci o escritor nos livros da Patti Smith, estava muito curiosa para conhecer a escrita de Bolano.

O livro tem pouco mais de 100 páginas e tem apenas 2 parágrafos, sendo o segundo composto de apenas uma frase curta. Então foi como mergulhar na história do padre (e crítico literário) Sebastián Urrutia num único fôlego! Tudo muito rápido e com muitas histórias.

Muitas tiradas irônicas, pois o escritor foi um defensor ferrenho de Allende, inclusive foi preso logo após o golpe, mas no livro Urrutia é a favor do golpe e inclusive dá aulas de marxismo para Pinochet! Também é interessante as alfinetadas na classe artística que se negava a falar de política, mas depois do golpe tinham que se encontrar escondido e sem saber os encontros eram na casa de um torturador!

Foi bom ler esse livro logo após a leitura da Casa dos Espíritos, pois ambos falam muito sobre aspectos políticos do Chile.
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Ginete Negro 2.0 30/11/2023

"Agora estou morrendo, mas ainda tenho muito o que dizer."
É mais ou menos assim que começa esse excelente livro chamado "Noturno do Chile". Escrito como só um parágrafo por 120 páginas (tendo um segundo de apenas uma linha), nele acompanhamos Sebastian Urrutia Lacroix, o protagonista -narrador, um padre no Chile dos anos 1970, pré e pós golpe militar que depôs Allende e colocou o General Pinochet em seu lugar. Vemos as várias facetas do padre, um literato, um falcoeiro e um professor de marxismo para a junta militar que comanda o Chile. Mas o livro é muito mais do que isso. É como um jorro de verdade e vômito (e faço bem em ler alternadamente com os romances de Thomas Bernhard, um austríaco de literatura feroz e biliática sensacional também). Roberto Bolano, que era de esquerda, detestava o ditador Pinochet e não é difícil enxergarmos em seu personagem o próprio autor, ou seja, o próprio Bolano nessa "tormenta de merda" que tentou descrever magistralmente sabendo que não durará muito (devemos lembrar que Bolano escreveu este livro já ciente da grave doença de fígado que carregava). Desse modo, Bolano escreveu febrilmente este romance, sem falar no imenso conhecimento literário e de vida que o autor acumulara.

Livro altamente recomendável.
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gr.will 22/11/2023

Encadeei alguns livros de autoria chilena na minha lista de leituras e não podia faltar um Bolaño, né?

Pois bem, só que como eu não estava muito a fim de enfrentar um calhamaço escolhi Noturno no Chile por ser um livro de poucas páginas e se passar durante a Ditadura Chilena (tema que me interessa).

Acabou sendo bem diferente do que eu esperava... A proposta de ser um livro escrito quase todo em apenas um parágrafo até me instigou no início, mas acabou me cansando ao longo do livro.

Os momentos que eu mais deslanchava na leitura era quando o narrador contava peripécias deles. O início na fazenda e as partes durante ditadura que estão mais pro final são as mais empolgantes.

O meio é um grande bolsão de fluxo de consciência e mil referências da literatura, filosofia e arte. Demorei quase 1 mês só nessa parte.

O final achei xoxo, capenga.
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Rafael1082 15/11/2023

Silêncios que gritam
Muitas vezes quem se cala diante de uma injustiça é muito mais culpado do que quem a comete, e é basicamente essa crítica a todos os "eruditos" que Roberto faz, mesmo durante a ditadura do país o personagem principal estava completamente alheio a situação e assim como eles os demais faziam saraus de literatura, liam clássicos, enquanto pessoas eram torturados e mortas de baixo de seus narizes (Literalmente), um livro muito interessante para entendermos como foi a ditadura no Chile (E também no Brasil) e como um grande conhecimento literário por si só não garante sabedoria e humanidade. Por fim, nas palavras do próprio padre Lacroix "A vida é uma sucessão de equívocos que nos conduzem a verdade final"
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Vinder 28/10/2023

Escrito de forma primorosa, Noturno no Chile conta a história de um padre vivendo durante a ditadura chilena. Muito além da questão política, Bolaños passa por questões existenciais, literárias e da morte.
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Kesio.Rodrigues 14/05/2023

Tormenta de Merda
Composto por dois parágrafos (o primeiro imenso que percorre o livro quase inteiro, e o segundo apenas uma frase, a frase que fecha o livro) Noturno do Chile é uma narrativa feita por um moribundo, o Padre Urrutia. Em uma torrente confessional de suas memórias e delírios, Urrutia reconstrói o Chile em seu período pré-golpe até a retomada da democracia, passando por figuras como Pablo Neruda.

Bolaño sempre brincou com a dualidade da arte. Em "Estrela Distante" o poeta dos céus também é um assassino em série; em "Noturno do Chile" encontramos, em certo sentido, um desconhecimento dos artistas quanto à sua própria história.

Sendo mais claro e incorrendo em um spoiler leve, em certa altura do livro é revelado que uma escritora militante de esquerda (em plena ditadura) é casada com um oficial da Secreta do Chile e a casa do casal era usada para os "interrogatórios". Anos passam e Urrutia (narrador), ao perguntar a um jovem escritor militante de esquerda se ele conhecia a escritora, o jovem escritor diz que nunca ouviu falar. Isso poderia ser banal, mas Bolaño faz questão de mostrar que Pinochet conhecia profundamente o Chile em todas as suas vertentes culturais (no livro, segundo o próprio Pinochet que faz uma ponta como personagem, "aprendo para saber até onde eles vão").

E, claro, Bolaño nos mostra mais uma vez como a literatura é inútil no seguinte trecho:

"Reli Demóstenes, Menandro, Aristóteles e Platão (que sempre é proveitoso), houve greves, um coronel do regimento blindado tentou dar um golpe, um cinegrafista morreu filmando sua própria morte, depois mataram o ajudante-de-ordens naval de Allende, houve distúrbios, palavras grosseiras, os chilenos blasfemaram, picharam paredes, depois quase meio milhão de pessoas desfilaram numa grande marcha de apoio a Allende, depois veio o golpe de Estado, o levante, o pronunciamento militar, bombardearam La Moneda, e, quando terminou o bombardeio, o presidente se suicidou e tudo acabou. Então eu fiquei quieto, com um dedo na página que estava lendo, e pensei: que paz."

O Chile de Bolaño é uma pátria sem memória de si mesma, não muito diferente do Brasil e do mundo inteiro. Bolaño foi expulso do Chile durante a ditadura de Pinochet, perdeu conhecidos. Sem pátria, a única saída do autor é expor uma cultura em ruínas, uma cultura mal educada, uma cultura que vê a história mudar e simplesmente não sente. Uma cultura que não se alterou de uma ditadura para uma democracia. Mas sozinho não dá pra fazer nada a não ser escrever uns livros e desencadear uma tormenta de pensamentos de merda, afinal, segundo o próprio autor no livro: "a literatura se faz assim."

Leiam Bolaño
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wikii 26/12/2022

"...tormenta de merda"
Que livro meus amigos! Uma confusão de pensamentos, diálogos, retóricas, descrições, história e muito Chile. Porém, eu admito que só entendi o livro de verdade após ler uma análise o que deixou tudo ainda mais interessante. Não é que o livro seja ruim, muito pelo contrário, mas é que eu comecei a me perder com a quantidade de informações que estavam sendo jogadas e demorei um pouco pra me acostumar com o texto sem qualquer indicação de diálogo. Além de que são basicamente uns blocos de textos que terminam com: “E depois desencadeia a tormenta de merda”, e eu acho que essa frase define tudo.
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Pr.Thiago 25/10/2022

NOTURNO DO CHILE
Noturno do Chile é um denso monólogo constituído de apenas dois parágrafos: o primeiro ocupa quase todo o livro, e o segundo é uma frase de apenas oito palavras. O padre Sebastián Urrutia Lacroix, o narrador, repassa de modo febril sua vida de poeta e crítico literário "comedido e conciliador", procurando uma resposta para as inquietações que o assaltam na proximidade da morte.
Iniciado no mundo das letras pelo papa da crítica literária chilena, o proprietário rural Farewell (que, além de apalpar-lhe as nádegas, o apresenta ao poeta Pablo Neruda), o padre vive sob a proteção de Pinochet, a quem dá inusitadas aulas de marxismo. Ao misturar personagens reais e ficcionais, Bolaño acerta suas contas com a ditadura chilena e com a vida literária do país. Porém, mais que fazer denúncia política, dá um mergulho fundo nas águas turvas das contradições humanas.
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enzoosoares 15/07/2021

Referencial.
Noturno no Chile retrata a trajetória do padre Lacroix, em um monólogo de dois parágrafos. O livro é cheio de referências à escritores, locais e períodos históricos. Ao retratar o período do golpe no Chile, nos é revelado a dualidade do personagem. Seguindo os dogmas católicos ensinados no seminário e a sua razão social. O livro é cheio de camadas discutíveis, as relações do Lacroix com seus amigos, sua relação com a leitura e com a política. O livro conseguiu me prender do início ao fim, foi interessante acompanhar a vida desse personagem.
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Paula A. C. 27/06/2021

Não sei dizer ao certo se gostei desse livro. Tive a sensação de que me faltou repertório de leituras chilenas para acompanhar as muitas referências presentes na narrativa. Talvez daqui a um ou dois anos a experiência seja mais agradável.
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Renata 08/05/2021

Noturno no Chile é um livro diferente. Todas as 90 páginas constituem um único parágrafo (ok, mas são dois parágrafos, mas o segundo tem apenas uma linha) narrado pelo padre Sebastián Urrutia Lacroix quando está a beira da morte (ou acredita estar). A narrativa percorre a vida adulta do padre, que além de padre era um erudito, durante um período conturbado no Chile, incluindo a ditadura de Pinochet, a quem o padre, inclusive, dá aulas sobre marxismo.
Achei este um livro diferente, especialmente pela escrita, que em alguns momentos se aproxima muito da oralidade, das suas repetições, encadeamento pouco linear e ritmo rápido. Mas não pense que a proximidade da oralidade deixa o livro simplório. Por se tratar de um narrador muito culto, o livro é cheio de lindas passagens e reflexões.

Gostei bastante do livro. E imagino que se eu tivesse conseguido ler ele em menos tempo (visto que é um livro curtinho, poderia ser lido em dois ou três dias) teria aproveitado mais o ritmo imposto pela escrita do autor.
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Mpbeatriz 27/12/2020

As 120 páginas mais duras que já li
Com apenas dois parágrafos, esse foi o primeiro contato que tive com a literatura de Bolaño.
A leitura corrida, sem parágrafos, me fez querer ler sem parar, embarquei no fluxo de consciência do padre (que personagem complexa e interessante) e matei o livro em questão de horas. Acabei com mal estar, já que tudo o que toca na ferida aberta da ditadura militar me deixa mal, ainda que esse não tenha sido o foco do texto, mas indubitavelmente um plano de fundo importantíssimo. Senti o mesmo estado quando li Lavoura Arcaica, do Raduan Nassar. O tema é diferente, mas a sensação de vórtice do livro é a mesma: não há parágrafos, não há pontos finais.
Enfim, uma grande história. Uma narrativa de memórias, delírios, do reencontro de um homem consigo mesmo, passado, presente e possível futuro próximo, que é seu fim.
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