Daniel4 20/09/2022
a mulher no casamento e na sociedade burguesa
"[...] Oh! Ser honesta, viver honesta, morrer honesta, que felicidade! Se pudesse voltar atrás, desfazer todos aqueles dias de sonho e de ebriedade, recomeçar os labores antigos na insossa domesticidade de esposa obediente, sem imaginação, sem vontade, feliz em ser sujeita, em bem servir a um só homem, com que pressa voltaria para evitar esta humilhação, pior que todas as mortes, porque vinha dele, que ela amava tanto! Amava ainda. Ainda!"
É difícil dizer o que está em primeiro plano nesse livro: a trajetória até a falência do marido ou a construção da esposa.
Só o que sei dizer é que sem dúvida é uma exposição pesadíssima, verdadeira e muito profunda da posição da mulher tanto na vida conjugal quanto na sociedade.
Reconstruindo ambos os desenvolvimentos da história, uma das conclusões possíveis é que não há espaço para a mulher em toda a sua inteireza e completude na sociedade burguesa. Para ela, é lhe dado duas opções: viver servil, obediente, plena e confortável sendo subserviente ao seu esposo, alçando condições de prestígio social; ou ter desejos, vontades, quereres próprios e atendê-los, resultando em sofrimento. A felicidade, no fim, não se encontra em lugar algum...
A Falência é o primeiro livro de uma mulher que eu leio, o que é surpreendente e deixa claro como pouco se mudou de 1901, data de publicação do livro, até hoje.
Mesmo lida apenas uma obra e por toda a trajetória, não tenho medo de afirmar que Júlia Lopes de Almeida é sem dúvida uma das maiores escritoras desse país. Simplesmente fantástica.