Gabriela 20/02/2016
Uma questão delicada...
Ao começar a leitura, pensei que seria um caso de superação das dificuldades relacionadas à paternidade. Imaginei que o protagonista seria um exemplo a ser seguido, que uma força surgiria nele para suportar e avançar diante de todas as adversidades.
Porém, conheci um personagem marcante, e não no bom sentido. Bird nos desperta inúmeros sentimentos, principalmente raiva. Seu casamento já aparece no início como um pouco problemático. Ele não é nem de longe o que se espera de um marido ideal às portas do nascimento do primeiro filho.
Ao ficar sabendo que seu filho nasceu com hérnia cerebral, Bird não consegue mais raciocinar direito. Ou, se consegue, torna-se um crápula! Passa a beber demais, afastar-se das responsabilidades, não permanece ao lado da esposa e refere-se ao filho como um monstro. Além disso, esse "monstro" irá lhe tirar todas as economias reservadas para uma viagem que sempre pretendeu fazer à África. Aliás, ele é fissurado pela África, tendo lido diversos livros e colecionado mapas de lá.
Assim, ao decorrer dos livros, o autor vai mostrando um personagem em todas as suas facetas: traumas pessoais, passado, fraquezas, medos e a forma como encara tudo isso. É um personagem muito bem trabalhado, podemos conhecê-lo profundamente.
Lendo sobre a vida do autor, Kenzaburo Oe, vejo que ele passou por uma situação parecida e, na vida real, os médicos sugeriram que ele deixasse o filho para morrer, ainda bebê. Ele e sua esposa não aceitaram e hoje seu filho é músico, apesar de autista. Seu nome é Hikari Oe.
Enfim, é um livro forte, que dá uma sacudida no leitor. Vale muito a pena a leitura!
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