jota 21/01/2022MUITO BOM: uma hagiografia sobre o santo italiano de Assis, acompanhada de um oportuno ensaio sobre sua gêneseLido entre 15 e 20/01/2022
O nome verdadeiro de são Francisco de Assis era Giovanni Bernardone (morreu em 1226; há dúvidas se nasceu em 1181 ou em 1182), coisa que eu sabia desde que visitei a encantadora cidade italiana alguns anos atrás. Curioso esse livro, que inspira bons sentimentos e certa paz no leitor. Porque não se trata exatamente de uma tentativa de biografar Francesco Bernardone, nome com que seu pai pretendia batizá-lo e que acabou prevalecendo sobre o escolhido pela mãe. Hesse escreveu uma hagiografia, ou seja, uma biografia elogiosa que exprime grande reverência pelo retratado, o que não ocorre apenas com homens e mulheres considerados santos, mas até com políticos corruptos e assemelhados.
Só que essa hagiografia foi escrita por ninguém menos do que um dos escritores humanistas mais conceituados da literatura universal, Hermann Hesse (1877-1962). Devido à sua inequívoca admiração (quase adoração, eu diria) por Francisco, o pobre de Deus – com esse título Nikos Kazantzakis, autor do consagrado Zorba, o Grego, escreveu outra bela obra sobre o santo, bem mais extensa e ficcional –, Hesse conta a vida de são Francisco de um modo tão terno, amável e respeitoso que parece que ela está sendo narrada por um anjo, caso anjos existissem. São belas páginas, algumas comoventes, e mesmo para um agnóstico é quase impossível não ficar tocado por elas. Antes, em 1904 mesmo, Hesse já havia publicado um romance, Peter Camenzind, personagem esse que nutria uma devoção mítica pelo santo.
A presente obra é dividida em várias partes, a saber: uma Introdução, em seguida vem A vida de são Francisco (que é o melhor texto do volume, claro), Lendas (seis textos curtos; as lendas são resumidas ao essencial), um Final, dois Apêndices (O Florilégio de são Francisco de Assis e O jogo das flores: sobre a infância de são Francisco, este bastante ficcional) e finalmente um bom ensaio de Fritz Wagner (cujo título já diz sobre o envolvimento do escritor com o santo): Francisco de Assis e Hermann Hesse. Esse ensaio é bastante interessante porque mostra a gênese, a escritura de A vida de são Francisco, o texto principal do volume. Ficamos sabendo mais acerca dos dois homens, do profundo interesse do escritor alemão pelo santo italiano, como a história deste atravessou os séculos, chegou até nós e certamente continuará a ser contada em futuro distante.