Frederico.Mattar 23/01/2024
E se formos nós os ridículos?
Todos nós, creio eu, já nos deparamos com a realidade e nos questionamos com "O que há de errado com o mundo?". Tenho a impressão que Dostoiévski também já... e sua resposta foi "O sonho de um homem ridículo".
Não seria exagero dizer que tanto eu quanto você, em algum momento da vida, já nos sentimos um pouco indiferentes com o mundo ao nosso redor, desanimados com o nosso futuro e com o das outras pessoas, sentimos que o mundo estava perdido e devastado pela maldade. Momentos em que, por um breve segundo que seja, acreditamos que a nossa existência possa ter sido obra do acaso. E, mesmo que haja um porquê por trás dela, a humanidade já teria se degenerado a tal ponto que a busca por esse motivo já tenha deixado de fazer sentido.
Contudo, e se, por ventura, nós tivéssemos a chance de viver num mundo imaculado? Um mundo em que as pessoas possuem corações repletos de amor, pureza e inocência. Um mundo que transborda beleza... uma beleza que, talvez, nem mesmo as crianças nos revelem.
Dostoiévski nos leva para essa reflexão e, de forma magistral, provoca-nos a ter que admitir, assim como Chesterton e tantos outros sábios seres humanos admitiram, que o que há de errado com o mundo somos nós mesmos. Nós somos capazes de ser a serpente do paraíso, aqueles que degradam a pureza, a bondade e a felicidade do mundo.
"O sonho de um homem ridículo" é, para mim, uma confissão. Um conto que me obriga a refletir e a admitir que, sim, eu corromperia o paraíso... que me obriga a confessar que a maldade habita em mim. E que, se há maldade neste mundo, isso é culpa minha.
Contudo, acima de tudo, "O sonho de um homem ridículo" também é sobre revelar que, embora o mal seja uma realidade, o amor também o é - e ele pode ser pleno entre os humanos.
É provável que muitos de nós não consigamos acreditar que exista um paraíso como esse. E que, portanto, viver com essa esperança não passaria de bobagem. Apenas pessoas ridículas viveriam acreditando nisso. E, sinceramente, eu admito que, muitas vezes, também penso assim.
Mas, uma hora ou outra, dúvidas inadiáveis surgem na nossa mente, como as que surgiram na desse homem ridículo.
A meu ver, o que é mais intrigante não seria a possibilidade de não existir um paraíso - afinal, o mundo ao nosso redor não é paradisíaco, e disso temos certeza. Certamente, o mais curioso seria a possibilidade de estarmos errados, e de que, na verdade, nós, céticos, fôssemos os ridículos (por nele não acreditar).
Ao concluir a leitura dessa obra, questionei-me quem seria, afinal, o homem ridículo…
Aquele que, convicto da ausência de sentido da realidade, negou-se a ajudar uma criança ou aquele que, crente que a vida pode ser plena e significativa, correu para socorrer esse ser tão frágil e desamparado?