Gladia~ 17/03/2024
Perfeito
Algum dias desde que eu terminei e agora que vim fazer a resenha porque queria mastigar melhor o que senti lendo o livro?
Bom, Admirável mundo novo é uma distopia que conta uma história ambientada em uma sociedade que tem como princípio a estabilidade e coletividade, em que a felicidade é um elemento fundamental para sua estruturação e que, por isso, não há espaço para qualquer tipo de instabilidade.
Inclusive, o soma (uma droga que dissolve os sentimentos ruins os transformando em sensações de prazer) é distribuída em doses a todos os indivíduos diariamente.
Parece até interessante a ideia até você entender quanto vai custar a existência dessa sociedade.
Nessa sociedade não há relacionamentos profundos, amor, filhos, mães, arte ou subjetividade qualquer, os indivíduos são feitos como ratinhos em laboratório, gerados por um procedimento parecido com a inseminação artificial.
Todo o corpo social é criado para fazer parte de uma classe da sociedade que serve um papel dela. Temos os alfas, betas, gamas, deltas e ipsilons e cada um é criado e condicionado de uma maneira diferente, inclusive cada casta tem uma aparência própria, sendo os alfas mais imponentes, altos e bonitos e os ípsilons que são inclusive indivíduos baixos e com déficit intelectual.
Acontece que esses indivíduos são satisfeitos com os papéis que lhe são impostos porque eles são ?literalmente?criados para cumprir este papel nessa sociedade.
O cenário que imaginei ao ler o livro é realmente bem futurista, com meios de transporte diferentes e tecnologias avançadas.
Bom, Bernard Marx, um Alfa, sofreu um pequeno erro na sua formação e ele não se parecia com a sua casta e assim se sentia diferente dos outros. Assim, ele não sentia essa felicidade que via todo mundo e não entendia esse sentimento.
Boa parte dos capítulos a gente acompanha os cientistas explicando aos alunos das castas mais altas como a sociedade era organizada antigamente e como os ?selvagens? ainda vivem.
A monogamia, a relação de mãe e filho, o amor, a amizade são ouvidas e tratados com horror da parte de todos, principalmente o fato das mulheres gerarem crianças, isso é quase visto como piada. Inclusive o sexo é livre e ninguém pode manter relação por muitos tempo com uma só pessoas, isso é visto com péssimos olhos, já que tudo que não é estável não é aceito nessa sociedade.
E a parte mais interessante do livro: a ida a reserva dos ?selvagens? pelo nosso protagonista e o encontro que ele tem com o personagem John, um dos selvagens, filho de uma ?civilizada?. O contraste da vida, da realidade, da visão e a maneira como esse personagem chega, traz uma reflexão absurda sobre a liberdade, subjetividade, o amor e ao mesmo tempo também nos traz a dor, a culpa, a solidão a humilhação.
Ler esses capítulos foi intrigante, porque eu estava vendo uma comunidade indígina, com seus rituais, sua linguagem, sua organização, com relação de amor e de luta, pelos olhos de alguém que não sabe nem o que é amor maternal ou relacionamento.
Aliás, achei tão interessante que o ?selvagem? trouxe diversas citações de suas leituras clássicas que fazia de Shakespeare e não entendia porque a arte e a vida eram proibidas naquela sociedade.
Pois bem, todos eram ?felizes?, mas sem amor, subjetividade, arte, literatura, amor maternal ou paternal, sem liberdade. Sem liberdade. Mas ?estáveis?.
Aldous Huxley foi visionário, já nos anos 30 ele previu muita coisa, chega a ser bizarro o quanto esse livro é contemporâneo no cenário e nos questionamentos que traz.