Literatura e Expressão 06/09/2023
Mandíbula [2022], Mónica Ojeda
Demorei mais de um mês para terminar de explorar a monumental narrativa que é "Mandíbula." E confesso, foi uma das melhores experiências de leitura de terror que tive este ano. Esse romance é uma construção psicológica que se encontra na mandíbula e também no útero. A relação mãe/filha, professora/aluna, amiga/irmã, sexualidade/violência... são o centro da narrativa perturbadora de Ojeda.
A história começa com Fernanda em uma cabana no meio da floresta com os pés e mãos amarrados. Quem a sequestrou? Ninguém menos que sua professora de literatura, Miss Clara. O começo da trama suscita a curiosidade do leitor ao apresentar esse evento aparentemente inconcebível: uma professora sequestrando sua própria aluna? Entretanto, esse episódio é apenas um ponto de partida em meio a uma intrincada teia de elementos perturbadores que permeiam a narrativa da autora equatoriana.
Sexualidade, violência, religião, educação... Ojeda incorpora todos esses elementos (e muitos outros) em um mundo regido por um Deus Branco, que representa a "ausência de cor, morte e indefinição", antecipando acontecimentos terríveis. O branco nesta narrativa é o "silêncio em um filme de terror."
O horror branco, o horror do deslumbramento que resulta no medo "do que se revela na luz brilhante e sem saturação". A autora utiliza amplamente elementos da cultura pop, como vampiros, Slenderman, fantasmas e até mesmo Moby Dick de Herman Melville, para ilustrar sua ideia. Essa narrativa aprofunda-se em minúcias, desvelando a difícil relação psicológica que se desenvolve entre personagens femininas complexas.
A mandíbula, frequentemente representada como um refúgio seguro onde as mães protegem seus bebês, também está intrinsecamente ligada ao útero. O termo 'mandíbula' desempenha um papel narrativo que vai além do título, ora como um símbolo de violência, ora como uma representação do ato sexual ou da própria vida. A narrativa de Ojeda procura destacar “a forma verdadeira do medo” e, em minha opinião, ela o faz com maestria.
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