Macala, de Luciany Aparecida, é um poema em série dividido em 11 partes que estabelece um diálogo com a clássica fotografia Mulher negra da Bahia, de 1885, de Marc Ferrez. A imagem é um retrato forte que traz muitos elementos para se pensar o histórico e a estética da joalheria e indumentária de origem africana, sobretudo no final do século XIX, no Brasil. A baiana da foto aparece em outros registros da época e tem um olhar potente, firme e enigmático.
Percorrendo esses elementos, o poema de Luciany Aparecida nos leva a ver, não aquilo que está visível no retrato, mas o que está escondido, submerso. O que a mulher da imagem traz dentro do punho cerrado (este gesto de resistência)?, é a pergunta que o poema parece colocar. “Macala”, carvão em brasa, passado de mão em mão, que resiste ao tempo.
A plaquete faz parte de uma coleção de poemas em diálogo com imagens anteriores ao século XX.
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I
Meu tempo é uma serpente de pano
que nunca envelhece,
mas que é muito antiga
Macala é carvão aceso que descanso em tuas mãos:
segura
II
Minha imagem é geografia das nossas memórias
(lá) luz plana sobre o Índico
(aqui) teu silêncio
(nessa foto da Bahia) meu olhar macambúzio,
meu punho cerrado
onde guardo a Macala em brasa
que te ofereço:
segura
Literatura Brasileira / Poemas, poesias