"Há um mundo além do nosso, um mundo que é próximo e invisível. E há onde o deus vive, onde o inoperantes vivem, os espíritos e os santos, um mundo onde tudo tem acontecido e tudo é sabido.
Esse mundo fala. Tem uma línguagem própria. Eu relato o que ele diz. O cogumelo sagrado faz exame, me pega pela mão e traz-me ao mundo onde tudo é sabido. É eles, os cogumelos sagrados, que falam em uma maneira que eu posso compreender. Eu pergunto-lhes e eles me respondem. Quando eu retorno da viagem que eu fiz, tiro a prova com ele, eu digo o que ele me disse e o que me mostrou."
MEDICINA INDÍGENA
(Maria Sabina foi uma médica indígena do estado de Oaxaca, México, que curava com os cogumelos sagrados.)
Seguramente que não só o ouro e as riquezas naturais do México Antigo, nem só a cultura e a arte mesoamericanos causaram grande assombro aos religiosos e conquistadores espanhóis chegados à essa terra no século XVI; senão também a medicina indígena (composta por uma “maravilhosa coleção” de vegetais e plantas alucinógenas) foi motivo de atenção, estudo e – condenação – por parte dos escritores, botânicos e médicos do Ocidente na época colonial de México.
As repressões do Tribunal do Santo Ofício, que em um princípio experimenta e ingere ololiuhqui,péyotl e teonanácatl (sementes, cactos e cogumelos respectivamente, e alucinógenos todos) e mais tarde as condenações desde o púlpito que se prolongaram por séculos, fizeram com que os médicos indígenas levassem a um plano privado – digamos secreto – o rito e a adoração das plantas mágicas.
Em nossos dias, estas práticas “demoníacas” dos índios, tem desaparecido conforme o avanço da cultura ocidental no México. Um fenômeno parecido tem extinguido costumes similares em outros povos asiáticos e americanos. Mas é em Huautla – população situada na serra mazateca de Oaxaca – aonde os investigadores tem encontrado uma mina nesse tipo de práticas nativas, nas que o cogumelo – ao que os investigadores tem agregado o adjetivo de alucinógeno – é parte medular da religião indígena na que se diz que o antigo teonanácatl – Carne dos Deuses na época prehispânica – tem poder para curar todas as enfermidades, e também proporciona a força mística que cria a linguagem elevada e esotérica do chaman.
Introdução do livro “A Vida de Maria Sabina, a sábia dos cogumelos”., escrito por Álvaro Estrada.