Morte no Paraíso

Morte no Paraíso Alberto Dines


Compartilhe


Morte no Paraíso


A Tragédia de Stefan Zweig




Passados 62 anos da morte de Stefan Zweig, o mundo até hoje se perturba com o mistério do europeu culto, elegante, rico e sensível, que escapou do nazismo para optar, com a mulher, por uma dose dupla de veneno em Petrópolis. Pacifista, best-seller internacional, Zweig julgou ter realmente encontrado o paraíso e o país do futuro, título de um livro que escreveu (Brasil, país do futuro), expressão cunhada por ele. Por que logo o Brasil, país do futuro, cortaria o futuro de Zweig?

O que aconteceu naquele carnaval que antecedeu seu suicídio, o que se passou na cabeça daquele judeu austríaco que desembarcou pela primeira vez no Brasil aos 54 anos e que, em sua segunda passagem por estas terras tropicais, veio para morar com a mulher, sua segunda esposa, 26 anos mais nova do que ele?

As especulações rocambolescas são tantas que esse folhetim poderia transformar-se num romance policial. Para começar, alega-se que não houve suicídio algum. Teria sido a Gestapo que o assassinou e matou a mulher, testemunha do crime? O alegado bissexualismo enrustido o perturbou? Foi tudo por conta de depressão, medo ou insegurança causada pela vinda para o Brasil, país que lhe ofereceu tudo o que a Europa negava ao mundo naquele momento? Por que o escritor se mataria no auge da fama, no país onde era turista aprendiz, maravilhado com o carnaval ("très erotique, très erotique", disse) e as prostitutas do Mangue? Logo em 1942, quando o Brasil vivia as coqueluches musicais "Nega do cabelo duro", "Emilia" e "Ai que saudades da Amélia"? Para Zweig, o mundo em guerra apagava todo o encantamento.

O livro que Alberto Dines lança no final de agosto é uma lupa sobre a vida e a morte de Zweig. Como pano de fundo, a Primeira Guerra, onde o escritor austríaco exerceu o pacifismo e alcançou a glória, e a Segunda Guerra, gerada pelo nazismo, que transformou todas as glórias em morbidez e pânico. Sua morte não diluiu a parceria diabólica de Hitler, Hiroíto e Mussolini. Nem impediu a notícia da queda da base britânica de Cingapura, ou que a guerra chegasse ao paraíso. Quando os alemães torpedearam o primeiro dos 34 navios brasileiros, o Buarque, parecia não haver fronteiras para Hitler no planeta.

Dines escreveu a primeira versão para essa morte no paraíso em 1981 mas nunca deixou de se alimentar com informações preciosas, todas arquivadas em uma pasta destinada à segunda edição. Em 23 anos, o biografado nunca saiu do caminho do biógrafo. Há sete anos Dines resolveu inserir as novidades nos rodapés, num apêndice ou nas entrelinhas da primeira edição. Impossível: ele havia reunido material suficiente para um outro livro. Com quase o dobro do tamanho da primeira edição, esta Morte no Paraíso chega às livrarias como um novo livro.

Trata-se de um raro relato dos últimos anos de Zweig, escrito com a agudez de um mestre do jornalismo, que é ao mesmo tempo um pesquisador sintonizado com a História e um escritor muito especial. Por mais que o tema da vida de Zweig seja conturbado, e hoje distante dos brasileiros de menos de 50 anos, Morte no Paraíso é um livro fundamental para se conhecer um período marcante, um Brasil ditatorial, um escritor primoroso, uma paixão conturbada e uma vida imperdível.

Dines biografou um biógrafo que até hoje figura nas listas européias dos melhores. Que marcou um estilo de escrita e de vida - usava ternos brancos, sapato de bico fino, chapéu gelô ou Panamá. Que foi amigo de Freud, Romain Rolland, James Joyce e Thomas Mann. Dines captou um pedaço da história capaz de explicar o mundo de hoje, que Zweig não esperou para ver. "Minha vida foi destruída há anos. Eu estou feliz por poder sair de um mundo que se tornou cruel e louco", escreveu ele em uma das 13 cartas de despedida coletadas por Dines. As biografias de Montaigne e Balzac ficaram incompletas para sempre quando a fina flor da literatura européia fez um pacto de morte com a mulher, tomou morfina, veneno de rato ou Veronal, e foi encontrado morto aos 60 anos, abraçado com sua asmática ex-secretária Lotte, de 33, na cama da casa avarandada da deliciosa Petrópolis. A trágica história de Stefan Zweig foi filmada por Sylvio Back, com Rüdiger Vogler (que já fez vários filmes com Wim Wenders) e Ruth Rieser (atriz austríaca) nos papéis de Zweig e sua mulher. O filme Lost Zweig, falado em inglês, deve entrar em cartaz no Brasil até o fim deste ano.

Biografia, Autobiografia, Memórias

Edições (3)

ver mais
A Morte no Paraíso
Morte no Paraíso
A Morte no Paraíso

Similares

(6) ver mais
Brasil, um país do futuro
Novela de Xadrez
Sob o Sol do Exílio
Box Stefan Zweig

Estatísticas

Desejam21
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 4.5 / 13
5
ranking 69
69%
4
ranking 23
23%
3
ranking 8
8%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

40%

60%

Betty
cadastrou em:
17/05/2009 13:43:57
Valtemario
editou em:
18/09/2020 13:03:19

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR