Nosso Jogo

"Uma das ironias da minha vida de escritor é que escolhi o norte do Cáucaso como cenário de meu romance por ser uma região sobre a qual ninguém jamais disse nada no Ocidente. Eu queria dizer algo amargo a respeito da repressão às pequenas nações e a respeito das guerras, por assim dizer, fora de moda, que os políticos podem ignorar com segurança." Com estas palavras, John le Carré explicou em jornais de todo o mundo como surgiu Nosso Jogo, este romance de suspense e espionagem que faz mais no sentido de denunciar os problemas da conturbada região entre os mares Negro e Cáspio, na Ásia, do que dúzias de advertências, memorandos, relatórios e reuniões de ONU, OTAN, Departamento de Estado norte-americano, Foreign Office britânico ou qualquer outra super-entidade que tenha se auto-proclamado "vitoriosa" depois do colapso da União Soviética. Nesta obra, le Carré narra uma perseguição surgida dos subterrâneos do serviço secreto britânico que envereda pelo sub-mundo do crime na Rússia e pelos conflitos envolvendo as mais perseguidas minorias étnicas da ex-União Soviética. Seus personagens, agora sem suas principais referências como a crença nos ideais democráticos do Ocidente ou a lealdade à pátria, estão perdidos diante de uma angústia tão assustadora quanto os perigos objetivos, as ameaças físicas, que têm de enfrentar. Com sua capacidade de envolver o leitor ao mesmo tempo em que põe em discussão questões existenciais, políticas e ideológicas fundamentais para a humanidade, a obra de le Carré atinge a envergadura das melhores páginas de grandes autores ingleses, com preocupações semelhantes, que o precederam. Artistas como H. G. Wells, G. K. Chesterton e, talvez acima de todos, Joseph Conrad. Extraído da introdução feita por João Domenech Oneto.