É evidente que a edição do poema “O cão sem plumas” poderia ser tomada como duas
obras contidas em um só bloco. Porém isso seria uma obordagem simplista porque essa edição é única na sua integridade, apesar de também funcionar como um novo interpretante de
edições anteriores, tanto do poema quanto da série fotográfica. A obra, como um todo, é o resultado de duas vozes dissonantes no tempo, convergentes no propósito temático e complementares no material expressivo que utilizam para concretização do projeto poético individual. Ao adotarmos essa sugestão, podemos viabilizar a proposta de estudar o ensaio de Bisilliat como uma tradução criativa do poema “O cão sem plumas”, mesmo que as fotos tivessem sido feitas antes da leitura do livro pela fotógrafa. O que faz da foto tradução do poema é que ela resulta de uma leitura crítica da autora, que, sob o efeito da leitura, elabora uma proposta de ensaio intersemiótico, aproveitando fotos antigas. Esse aspecto não desqualifica a tradução, apenas esclarece quais os recursos expressivos utilizados pela autora para viabilizá-la, o que está em consonância com a postura peirceana de que o signo é sempre gerado por um signo indefinidamente, sendo improdutiva a procura por um signo
absolutamente original. Enfim, o processo interpretante ocorre no cruzamento com outros processos de geração de significados.