Na madrugada de 3 de abril de 1964, três dias após o golpe militar, agentes da polícia política do governador Carlos Lacerda invadiram, sem ordem judicial, um apartamento no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio, e capturaram um grupo de estrangeiros. As torturas começaram ali mesmo. Horas depois, os policiais entraram em outro prédio, no Catete, e detiveram mais pessoas. No fim do dia, nove chineses estavam presos, acusados de se instalarem no Brasil para disseminar uma revolução comunista.
Mas a verdade é que viviam legalmente no país. Tornaram-se vítimas da paranoia anticomunista, alimentada por Lacerda. Foram condenados a 10 anos de prisão por subversão e, após mais de um ano detidos, acabaram expulsos. Em seu país, eles se tornaram heróis nacionais e ficaram conhecidos como “Nove Estrelas” ou “Nove Corações Vermelhos voltados para a Pátria”.
O caso ficou esquecido em arquivos secretos até ser trazido à tona, em 2014, pelos jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, com base em documentos inéditos, entrevistas exclusivas, depoimentos de um dos sobreviventes e de familiares das vítimas.
Em 2024, ano em que se comemora o cinquentenário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a China, a tortura e a prisão ilegal dos nove chineses ainda é mancha não resolvida entre os dois países. Nesta nova edição, os jornalistas revelam que o incidente, considerado o primeiro escândalo internacional de violação dos direitos humanos da ditadura militar brasileira, retardou em uma década a assinatura do acordo diplomático.
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