A arte de desaparecer, as sociedades secretas e o diário íntimo são alguns dos elementos privilegiados pelo espanhol Enrique Vila-Matas neste livro. A obsessão pela literatura e pelo literário, o desejo de ser a memória da literatura encarnada, ou seja, o mal de Montano, vai deixando, página a página, de ser uma enfermidade cuja cura é necessário encontrar para tornar-se um antídoto eficaz contra a morte da literatura e uma arma contra os inimigos do literário.
Para essa cruzada, irônica e autoirônica, o autor convoca seus autores-ícones, alguns dos quais já faziam parte do elenco notável de Bartleby e companhia, como Robert Walser, Robert Musil, Franz Kafka e Fernando Pessoa. Se, naquele romance, o que justificava a presença desses autores era o fato de, em algum momento, eles terem preferido não mais escrever, o que os reúne em O mal de Montano é a prática do diário íntimo, germe da autoficção.
Por meio de implacável ironia, a obra comemora e celebra a riqueza e a força da literatura. Para isso, conta com personagens notáveis, como Rosa, Rosário Girondo, e o inacreditável Tongoy, um Nosferatu transformado em Sancho Pança ao se fazer fiel escudeiro do verdadeiro Quixote da literatura que é o narrador. A obra recebeu os prêmios Herralde (Espanha, 2002) e Médicis (Paris, 2003).
Ficção / Literatura Estrangeira